Axé Mosela: a presença da ancestralidade, cultura, religião e língua afro-brasileira em Petrópolis
O que você estudou ou se lembra de ter ouvido sobre a cultura do continente africano? Embora os brasileiros tenham ancestrais oriundos da África, toda a riqueza da herança desse continente permanece menos conhecida em relação aos demais. Parece (ainda) haver um espaço vazio na mente das pessoas em relação às contribuições desse continente para a formação do povo brasileiro. Além disso, o continente africano é quase sempre representado como um bloco geográfico único – inclusive nos livros didáticos – mas, na realidade, ele possui uma enorme variedade cultural, religiosa e linguística.
Você já ouviu falar, por exemplo, nos iorubás ou nagôs? Eles são um grupo étnico da Nigéria, cuja contribuição à cultura brasileira é bastante significativa. No entanto, poucas pessoas conhecem esta palavra, exceto aquelas que foram iniciadas no Candomblé. Segundo Raul Lody, Candomblé, denominação originária do termo kandombile, cujo significado é culto e oração, constitui um modelo de religião que congrega sobrevivências étnicas da África e que encontrou no Brasil, principalmente na Bahia, um campo fértil para sua disseminação e reinterpretação.
O legado que o povo africano deixou para o Brasil está por toda a parte: nas vestimentas (roupas, braceletes, argolas); na culinária (azeite de dendê, camarão seco, inhame, pimenta, vatapá, acarajé, caruru, acaçá); na língua iorubá e em suas expressões, como o famoso “oxalá”, que passou a significar no português “queira Deus.”
Em Petrópolis, é possível encontrar um lugar que mantém viva a memória de uma parte do continente africano e do povo iorubá há quase 100 anos, através da cultura, da religião e da língua – o Axé Mosela. A Casa, que é a única da cidade de origem Ketu, ou seja, sem misturas de outras etnias ou formas de culto, é guardada com afeto pelo Babalorixá Lúcio de Ogum. O espaço é um convite de reencontro com a ancestralidade. A simplicidade é notada imediatamente, o que reforça a beleza do local – cercado pela mata nativa.
Illè Asé Erinlé Ati Oxum Apará (Casa Axé Mosela) foi fundada pelo Babalorixá Theo de Oxum (1942-2003), sob a tutela da matriarca, Iya Ilda França (Gantois, Bahia), iniciada por Iya Pulchéria. Atualmente, o local é dirigido pelo Babalorixá Lúcio de Ogum, iniciado no Candomblé aos 8 anos.
Com o objetivo de difundir a relevância e o legado da cultura afro-brasileira em Petrópolis e homenagear o fundador da casa, Babalorixá Theo de Oxum, Rachel Wider, historiadora, pesquisadora, foi convidada para auxiliar na criação de um memorial da cultura afro-brasileira no local.
No memorial, segundo Rachel e Babalorixá Lúcio, os visitantes serão convidados ao reencontro com a sua própria ancestralidade, através de objetos e utensílios culinários, como o pilão, essencial para moer (pilar) os alimentos, além de tecidos, vestimentas, fotografias, documentos e exposições sobre o tema.
Sobre as contribuições da cultura afro-brasileira, Rachel comenta: “Petrópolis precisa parar para refletir e valorizar o legado africano que existe aqui na cidade. A criação do memorial, a exemplo do que foi feito para Mãe Menininha, do Gantois (BA), vai auxiliar muito nesse processo. Ao prestar homenagem ao Babá Theo de Oxum, estamos não só contando a história do Axé Mosela, mas honrando toda a linhagem e ancestralidade que permitiu, através da resistência cultural e religiosa, que hoje nós tenhamos acesso a esse universo magnífico que é a cultura iorubá.”
O Memorial será construído no mesmo terreno do terreiro, mas totalmente separado da parte religiosa. Por enquanto, o acervo das peças ainda está sendo construído. No entanto, o petropolitano já pode esperar por uma experiência completamente diferente nesse local histórico, mas esquecido devido ao preconceito. Quem também está ansioso por essa novidade incrível na cidade?
Onde fica o Axé Mosela: Rua Mosela, 1031.
Mais informações: https://www.facebook.com/asemosela/
Contato: (24) 99304-1844 e memorialaxemosela@gmail.com
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