Atuação em veto de Tarcísio à campanha de combate ao HPV derrubou número 2 da saúde de SP
Depois de pressão interna, o secretário-executivo da Secretaria de Estado da Saúde (SES) de São Paulo, Sérgio Okane, pediu demissão do cargo. Ele vinha sofrendo pressões para deixar a função após assinar o documento que embasou o veto do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao projeto de lei (PL) que buscava ampliar a prevenção, vacinação e testagem do Papilomavírus Humano (HPV). A exoneração do número 2 da Saúde foi publicada nesta terça-feira, 26, no Diário Oficial do Estado.
O projeto de criação de uma política pública estadual de combate ao HPV foi aprovado pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) em 8 de agosto, unindo parlamentares de diferentes matizes ideológicos. O texto foi de autoria das deputadas estaduais Edna Macedo (Republicanos), Delegada Graciela (PL), Patrícia Gama (PSDB) e Marina Helou (Rede). Com isso, o veto da gestão Tarcísio ao PL não só gerou ruído entre Executivo e Legislativo, como também foi um dos fatores decisivos para a saída de Okane da Saúde. No caso de Edna, além de ser do partido do governador, ela é irmã do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal, que tem relações históricas com a legenda. Ela foi procurada para falar sobre a decisão do governo, mas afirmou não comentar atos do Executivo.
Na Assembleia Legislativa, há um movimento incipiente que busca convencer os deputados estaduais a derrubarem o veto do governador. Diante disso, é esperado que a exoneração de Okane diminua os ânimos entre os parlamentares. Questionada sobre o motivo da demissão do secretário-executivo e se haveria relação com o veto à campanha contra o HPV, a SES informou, em nota, que “a mudança ocorre em busca de melhoria na estruturação de políticas públicas para o setor e também uma melhor prestação de serviços para a população”. Já Okane não foi encontrado para se posicionar sobre a saída do governo.
Entre outras coisas, o projeto de lei vetado pela gestão Tarcísio previa a criação de um calendário estadual de vacinação do HPV, que teria início anualmente em março e seria executado por agentes de saúde que iriam diretamente às escolas estaduais para imunizar os estudantes. Em sua justificativa de veto, o governo estadual afirmou que já tem “políticas públicas vigentes” sobre o assunto, promove “campanhas de esclarecimento sobre doenças infectocontagiosas e sobre a saúde da mulher” e considerou “dispensável” o plano.
Quem é Sérgio Okane
Sérgio Okane assumiu a função de número 2 da Secretaria da Saúde por indicação do Republicanos, partido do governador. Ele também foi braço direito de Marcelo Queiroga, ex-ministro da Saúde durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). De 2021 a 2022, foi secretário de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, secretaria responsável pelo controle da qualidade e avaliação dos serviços especializados disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Como secretário no governo federal, Okane foi um dos principais responsáveis pela política de enfrentamento da Covid-19 adotados por Queiroga.
Nova número 2 da Saúde é nomeada
Após a exoneração de Okane, o governador Tarcísio de Freitas nomeou nesta terça-feira, 26, Priscilla Reinisch Perdicaris para a posição de secretária-executiva da SES. Ela integrou a equipe de transição da administração atual a partir da eleição do ano passado e, desde janeiro, atuava na gestão de projetos da pasta como assessora direta do secretário Eleuses Paiva.
“Estou comprometida em aplicar minha experiência e determinação para ampliar o acesso aos serviços de saúde e buscar soluções inovadoras que nos permitam enfrentar com êxito os inúmeros desafios da pasta, com o apoio fundamental de nossa equipe dedicada”, disse Priscilla.
Formada em engenharia civil e doutora em Administração Pública pela FGV, Priscilla atua na área da Saúde há mais de 20 anos, tanto no setor privado como no público. Foi responsável pela coordenação da transição da equipe do governador Tarcísio de Freitas em 2022 e, antes, gerenciava projetos conjuntos entre o Hospital Sírio Libanês e o Ministério da Saúde.