Atletas militares integram grupo prioritário e podem ir à Tóquio já vacinados
Ao menos 44 atletas da delegação brasileira que disputará os Jogos Olímpicos de Tóquio podem desembarcar no Japão, em julho, já vacinados contra o novo coronavírus. Isso porque eles são militares e, na condição de integrantes das Forças Armadas, fazem parte do grupo prioritário do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a covid-19 estabelecido pelo Ministério da Saúde. Como algumas modalidades ainda estão em fase classificatória, esse número pode aumentar se mais atletas militares garantirem vaga ou alcançarem índice para representar o País nos Jogos. Nos esportes coletivos, a presença de militares depende das convocações que serão feitas pelas respectivas confederações.
A vacinação de integrantes das Forças Armadas foi antecipada pelo Ministério da Saúde e já começou, mas, por enquanto, só para o grupo que vem atuando diretamente nas ações de enfrentamento à pandemia. Assim, os atletas militares ainda não foram chamados para se imunizarem, o que pode ocorrer até 23 de julho, data da abertura dos Jogos Olímpicos.
“O Ministério da Saúde informa que os membros ativos das Forças Armadas – incluindo seus atletas – estão entre as prioridades do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a covid-19. Conforme novos lotes de vacinas são entregues pelos laboratórios fabricantes, novos grupos são imunizados – a cada nova distribuição, um Informe Técnico publicado pela pasta define o público-alvo contemplado no momento”, diz nota do Ministério da Saúde enviada ao Estadão.
Os atletas militares integram o Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR), criado em 2008. O Ministério da Defesa colabora financeiramente na preparação, treinamento e participação dos atletas de elite em competições nacionais e internacionais. Uma das razões do investimento do Ministério da Defesa é o bom desempenho dos atletas militares. Na Olimpíada do Rio, eles conquistaram 13 das 19 medalhas do Brasil. Isso significa 68% dos pódios.
Para os Jogos Olímpicos de Tóquio, os 44 atletas militares já estão classificados ou com índice em 14 modalidades: atletismo, canoagem, ginástica artística, tiro com arco, triatlo, vôlei de praia, maratona aquática, pentatlo moderno, vela, taekwondo, wrestling, esgrima, remo e canoagem velocidade.
Entre eles está o velocista Paulo André, especialista na prova dos 100 metros e 3.º sargento da Marinha. “É uma grande expectativa ser vacinado. Será um avanço muito grande para nós, atletas, treinarmos sem a preocupação de ser interrompido pelo vírus. Ficar 15 ou 20 dias parado é fatal faltando menos de 100 dias para a Olimpíada. A vacina é um avanço muito grande para a gente treinar e não se preocupar com o vírus”, disse.
Paulo André está em San Diego, nos Estados Unidos, em um camping de treinamento organizado pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) e o Comitê Olímpico do Brasil (COB). “Viemos treinar nos EUA porque aqui a situação está mais estável, tranquila e menos crítica do que no Brasil. Então, a gente consegue treinar com segurança. Mas, com a vacina, a preocupação vai deixar de existir e podemos ficar com o foco só nos treinos.”
Quem também vive a expectativa de ser vacinada é a triatleta Luisa Baptista, 3.º sargento do Exército. “Seguimos tomando todas as precauções para evitar a covid-19 nesse período e o cuidado é redobrado em locais de risco, como nos aeroportos. A vacina me deixaria mais tranquila e me daria uma segurança maior ao se pensar na Vila Olímpica, mas sei que haverão vários protocolos a serem seguidos e testes PCR constantes para evitar a contaminação dos atletas por lá, então, por enquanto, espero que a minha vez chegue tomando o máximo de cuidado possível”, disse.
Ela, inclusive, diz entender as críticas de que atletas não deveriam ser imunizados antes de outros grupos de risco. “Apesar de a vacina trazer uma maior segurança para nós, a possibilidade da doença ter consequências mais graves é menor, porém, sei que os protocolos estão sendo pensados por especialistas no assunto e serão a melhor solução.”
O COB diz seguir o Plano Nacional de Imunização. Afirma também que integrantes da delegação que viajará para Tóquio que estejam vacinados até lá terão de seguir os mesmos protocolos sanitários e regras dos demais membros do Time Brasil, além de serem submetidos a testes para detectar a covid-19 antes e durante a estada no Japão.
A previsão do comitê é de que a delegação brasileira deverá ter entre 270 e 300 atletas. No momento, o Brasil possui 200 vagas garantidas para os Jogos de Tóquio.
Nem todos os atletas militares, no entanto, devem chegar ao Japão já imunizados. É o caso de Aline Ferreira, do wrestling. “Saio da Marinha agora em maio. E não tive nenhuma informação ainda sobre a vacinação”, contou.
No caso de Guilherme Toldo, da esgrima, que mora na Itália, a imunização também é incerta. “Sou militar, mas não tenho previsão de quando serei vacinado. Pela idade (tem 28 anos) vai demorar para receber na via normal. Também não tenho nenhum título profissional, não presto nenhum tipo de serviço que seja atividade essencial.”
O Comitê Olímpico Internacional (COI) está incentivando atletas de todo o mundo a se vacinarem contra a covid-19. Mas a imunização não é obrigatória para participar da Olimpíada. O órgão se comprometeu a comprar vacinas da China e distribuir aos atletas. O governo do Japão já anunciou que não participará do programa de vacinação patrocinado pelo COI.
DEPOIMENTO – Jorge Zarif, velejador classificado para os Jogos de Tóquio, 3.º sargento da Marinha:
“Nem sabia que, por ser atleta militar, eu tinha alguma prioridade para receber a vacina. Mas, na minha opinião, quem tem de tomar a vacina antes é quem tem a maior probabilidade de ter algum problema sério se contrair o vírus, então com certeza eu não sou prioridade.
Tento não pensar muito em vacina porque é uma coisa que não depende de mim, não está nas minhas mãos. Então, estou tentando viver da forma mais protegida possível, conseguindo fazer os treinamentos e os campeonatos sem colocar ninguém em risco, e esperar a minha vez. A vacinação no Brasil não está indo mal, está indo mais devagar do que todo mundo gostaria, mas é esperar a vez e tentar se proteger. Já tive covid-19, então, diminui um pouco a chance de ter a segunda vez, ainda estou com anticorpos. Mas, mesmo assim, não pode ficar dando mole.
Estou tomando todas as precauções possíveis. Enquanto a pandemia não acabar, não vai dar para ter a rotina que eu tinha antes disso tudo acontecer. Tem de ser responsável e esperar a hora certa de voltar à rotina, sem colocar as outras pessoas e me colocar em risco. Faço quase tudo sozinho, então enquanto a situação do planeta e do Brasil não melhorar, provavelmente vamos continuar assim.”