Atividade econômica surpreende e cresce mais que o esperado em janeiro
A economia brasileira iniciou o ano com mais força do que o previsto, de acordo com dados divulgados pelo Banco Central nesta segunda-feira, 17. O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), considerado uma espécie de prévia do PIB oficial (calculado pelo IBGE), avançou 0,89% em janeiro ante dezembro, acima do teto de 0,7% estimado pelo mercado em pesquisa da Projeções Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) (a mediana era de 0,30%).
Na comparação com janeiro de 2024, o IBC-Br registrou alta de 3,58%, sem ajuste sazonal, também acima do teto das estimativas – de 3,10%, com mediana de 2,30%. O BC não detalhou os resultados por setores, mas a avaliação de economistas é de que o resultado tenha sido puxado pelo agronegócio.
“Apesar de o BC não divulgar a abertura setorial do IBC-Br, dá para suspeitar do efeito positivo do agro, quando olhamos para a aparente diferença entre as pesquisas mensais e o que foi apontado pelo índice”, afirma Gabriel Couto, economista do Santander Brasil, se referindo aos dados publicados nos últimos dias pelo IBGE indicando queda na indústria, no varejo e em serviços em janeiro.
A projeção oficial do Santander é de crescimento de 1% para o PIB no primeiro trimestre, mas a estimativa de alta frequência (tracking) já aponta para uma alta de 1,3% no período. Na mesma linha, a AZ Quest manteve a projeção de crescimento de 1,7% para o PIB de 2025 após o IBC-Br de janeiro, mas afirma que há um “leve viés de alta” por eventual surpresa com o desempenho do agro. “O dado de hoje (ontem) tira o risco de uma desaceleração mais abrupta”, diz Lucas Barbosa, economista da gestora. Em 2024, o PIB fechou com crescimento de 3,4%.
“O agro vai ser a grande surpresa em termos de PIB, com safra de soja forte, e deve trazer margens fortes no primeiro e no segundo trimestres”, avaliou o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.
Selic
A divulgação acontece às vésperas da definição da nova taxa básica de juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC se reúne a partir desta terça, 18, para anunciar nesta quarta, 19, a nova Selic. O consenso no mercado é de alta de 1 ponto porcentual – o que levaria a taxa para 14,25%. Na avaliação de Vale, da MB Associados, o IBC-Br de janeiro “vai colocar para baixo aquelas discussões de que o BC talvez tivesse espaço para reduzir a alta da Selic em maior velocidade”.
Segundo ele, o cenário de uma economia ainda forte por conta do agro faz com que haja pressão de demanda, eventualmente fazendo com que as pressões inflacionárias permaneçam. Assim, a visão de Vale é de que o Copom só deve ter espaço para cortar a Selic no segundo semestre. No fim deste ano, a MB projeta Selic em 15% e, em 2026, em 14%.
Mercado
A atividade econômica aquecida no Brasil acabou ajudando a empurrar o dólar ontem para o menor patamar da moeda frente ao real desde 7 de novembro do ano passado. Com queda de 0,99% no dia, fechou valendo R$ 5,68. Outros fatores que pesaram foram as avaliações de que o PIB americano está em desaceleração e o anúncio da China de que vai adotar novas medidas para reavivar o consumo da população, aumentando a renda das pessoas.
Segundo analistas, o raciocínio aqui é que um PIB mais forte deve manter consumo e preços sob pressão, exigindo do BC uma política monetária mais contracionista. Com isso, deve aumentar a diferença entre as taxas de juros no Brasil e no EUA, atraindo dólares de investidores estrangeiros.
Já o Ibovespa, principal índice da B3, engrenou a quarta alta seguida – ontem, subiu 1,46%, aos 130,8 mil pontos. “Mesmo com ambiente de política monetária mais restritivo, a atividade econômica (medida) pelo IBC-Br iniciou 2025 em ritmo mais forte do que se pensava, o que também contribuiu para o avanço da Bolsa e a queda do dólar”, disse Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.