• Ataque ao Capitólio: Justiça condena membros de grupo extremista Proud Boys

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  • 04/05/2023 18:39
    Por Redação, O Estado de S. Paulo / Estadão

    O ex-líder do Proud Boys Henry ‘Enrique’ Tarrio e três outros membros do grupo extremista de direita foram condenados nesta quinta-feira, 4, por um complô para atacar o Capitólio dos EUA em uma tentativa desesperada de manter Donald Trump no poder depois que o republicano perdeu as eleições presidenciais de 2020.

    Um júri na capital, Washington, considerou Tarrio culpado de sedição depois de ouvir dezenas de testemunhas ao longo de mais de três meses em um dos casos mais graves resultado do ataque impressionante que se desenrolou em 6 de janeiro de 2021, enquanto o mundo assistia em TV ao vivo.

    É um marco significativo para o Departamento de Justiça, que agora garantiu condenações por conspiração sediciosa contra os líderes de dois grandes grupos extremistas que os promotores dizem ter tido a intenção de manter o presidente democrata, Joe Biden, fora da Casa Branca a todo custo. A acusação acarreta uma pena de prisão de até 20 anos.

    Tarrio, atrás das grades desde sua prisão em março de 2022, não demonstrou nenhuma emoção quando o veredicto foi lido. Algumas das pessoas sentadas entre os parentes dos réus enxugaram as lágrimas.

    A decisão vem depois de um julgamento que levou mais que o dobro do tempo originalmente esperado, retardado por brigas, moções de anulação e revelações de informantes do governo no grupo.

    Garantir a condenação de Tarrio, um líder importante que não estava no motim em si, pode encorajar o Departamento de Justiça enquanto um procurador especial designado investiga Trump, incluindo aspectos-chave da insurreição de 6 de janeiro.

    Nas últimas semanas, o procurador especial Jack Smith buscou o testemunho de muitas pessoas próximas a Trump. Entre elas, o ex-vice-presidente Mike Pence, que testemunhou perante um grande júri na semana passada, provavelmente dando aos promotores um relato importante em primeira pessoa sobre certas conversas e eventos nas semanas anteriores ao motim.

    Tarrio foi um dos principais alvos do que se tornou a maior investigação do Departamento de Justiça da história americana. Ele liderou o grupo neofascista – conhecido por brigas de rua com ativistas de esquerda – quando Trump disse aos Proud Boys para “recuar e aguardar” na época de seu primeiro debate com Biden.

    Ele não estava em Washington em 6 de janeiro, porque havia sido preso dois dias antes em um caso separado e expulso da capital. Mas os promotores disseram que ele organizou e dirigiu o ataque dos Proud Boys, que invadiram o Capitólio naquele dia.

    Além de Tarrio, morador de Miami, três outros membros do Proud Boys foram condenados por sedição: Ethan Nordean, Joseph Biggs e Zachary Rehl.

    Os jurados ainda não chegaram a um veredicto unânime sobre a acusação de sedição contra um quinto réu: Dominic Pezzola. Ele, no entanto, foi condenado por outras acusações graves.

    ‘Exército de Trump’

    Tarrio, Nordean, Biggs e Rehl também foram condenados por obstruir a certificação do Congresso da vitória eleitoral de Biden e obstruir a aplicação da lei, bem como duas outras acusações de conspiração. Os quatro foram inocentados de uma acusação de agressão decorrente de Pezzola, que roubou o escudo antimotim de um oficial.

    O juiz disse aos jurados para continuarem deliberando sobre algumas acusações restantes nas quais não chegaram a um acordo.

    A advogada de Rehl, Carmen Hernandez, disse que seu cliente “continua a manter sua inocência”. Os advogados de Biggs e Pezzola se recusaram a comentar. Um advogado de Tarrio se recusou a comentar.

    Os promotores disseram aos jurados que o grupo se via como “o exército de Trump” e estava preparado para uma “guerra total” para impedir que Biden se tornasse presidente.

    Os Proud Boys estavam “alinhados para apoiar Donald Trump e dispostos a cometer violência em seu nome”, disse o promotor Conor Mulroe em seu argumento final.

    A espinha dorsal do caso do governo foram centenas de mensagens trocadas por Proud Boys nos dias anteriores a 6 de janeiro, que mostram o grupo extremista de extrema direita divulgando as falsas alegações de Trump sobre uma eleição roubada e trocando temores sobre o que aconteceria quando Biden assumisse o cargo.

    Enquanto os Proud Boys invadiam o Capitólio, Tarrio os incentivada de longe, escrevendo nas redes sociais: “Faça o que deve ser feito”. Em um bate-papo em grupo criptografado do Proud Boys mais tarde naquele dia, alguém perguntou o que eles deveriam fazer a seguir. Tarrio respondeu: “Faça de novo”.

    “Não se engane”, escreveu Tarrio em outra mensagem. “Nós fizemos isso.”

    Os advogados de defesa negaram que houvesse qualquer conspiração para atacar o Capitólio ou impedir a certificação no Congresso da vitória de Biden. Um advogado de Tarrio tentou colocar a culpa em Trump, argumentando que o ex-presidente incitou o ataque quando instou a multidão perto da Casa Branca a “lutar como o diabo”.

    “Foram as palavras de Donald Trump. Foi a sua motivação. Foi a raiva dele que causou o que ocorreu em 6 de janeiro em sua bela e incrível cidade”, disse o advogado Nayib Hassan em seu apelo final aos jurados. “Não foi Enrique Tarrio. Eles querem usar Enrique Tarrio como bode expiatório para Donald J. Trump e os que estão no poder”.

    O Departamento de Justiça não havia tentado uma abordagem de sedição em um caso havia uma década até que um júri condenou outro líder de grupo extremista, o fundador do Oath Keepers, Stewart Rhodes, no ano passado.

    Ao longo de dois julgamentos do Oath Keepers, Rhodes e cinco outros membros foram condenados por sedição pelo que os promotores disseram ser uma conspiração separada para impedir à força a transferência do poder presidencial de Trump para Biden. Três réus foram absolvidos dessa acusação, mas condenados por obstruir a certificação no Congresso.

    O Departamento de Justiça ainda não divulgou uma previsão de quanto tempo vai pedir para a sentença dos Oath Keepers, que deve ser conhecida no fim deste mês.

    Desde a Guerra Civil

    Acusação de sedição remonta aos esforços para proteger o governo federal contra rebeldes do Sul durante a Guerra Civil, conspiração sediciosa tem sido usada ao longo dos anos contra uma ampla gama de réus – entre eles, milícias de extrema direita, sindicatos radicais e nacionalistas porto-riquenhos. O último processo de sedição bem-sucedido foi em 1995, quando um grupo de militantes islâmicos foi considerado culpado de conspirar para bombardear vários marcos da cidade de Nova York. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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