Assunção e Ascensão
Matriz de São Sebastião em Três Rios, templo que jamais deixei de comparecer e nele todos os dias antes de ir para o Colégio Ruy Barbosa de joelhos rezava. Na infância e juventude a Igreja que me acolheu e me ensinou como mãe foi a Capela de Nossa Senhora da Glória no 3º. Distrito de Hermogêneo Silva à época pertencente à Matriz de Nossa Senhora da Conceição em Bemposta. À época as pessoas eram ligadas às ladainhas, coroações, missas e festejos que se realizavam no átrio da igreja.
As quermesses repletas de barraquinhas de doces e salgados. Os cachorros-quentes exalavam o cheiro. Nesse período os circos e os parques de diversão para ali se dirigiam. Alto-falantes executavam músicas e dedicavam outras tantas. As procissões eram bela demonstração de fé e arte. A banda de Música 1º de Maio de Três Rios era a principal atração. Nós ficávamos à janela para nos deleitarmos com a retreta que ela nos oferecia. Eram os anos 50/60. Lembro-me dentre outros os gêmeos Célio e Celso Barbosa garbosos e elegantes envergando seus uniformes impecáveis. O competente elenco era comandado pelo maestro Geraldo Duarte. Os leilões de doces, salgados e gado eram o chamariz. Casais enamorados circulavam ao redor da igreja.
A iluminação era fraca, mas, suficiente a animar e alegrar a juventude sonhadora e ingênua. As bandeirinhas me lembravam as telas de Volpi. A missa das 8 hs. era destinada às crianças. Pe. Ferdinando Osimani, mais tarde substituído pelo Pe. Geraldo Lima. Ambos bons oradores, inteligentes, cultos, linguajar fluente e de fácil comunicação e preleções de perfeita compreensão considerando-se a idade e a escolaridade da assembleia.
Eram sermões que todos desejavam ouvir seguindo a exegese e a hermenêutica trazendo os exemplos, mensagens através de parábolas aos fatos e ocorrências dos dias e da época a fim de proporcionar a percepção dos ouvintes sedentos em paz, justiça, equidade, amor, alento, concórdia e perdão a penetrarem naqueles corações. Era o dia 15 de agosto, Assunção de Nossa Senhora aos Céus. Nesse dia o sermão foi todo devotado à Glória de Maria.
Em meio à homilia o Pe. Ferdinando perguntou: – Darei Terço e Bíblia a quem souber o que é Assunção de Nossa Senhora! Fez-se Silêncio sepulcral. Eu era o Coroinha e me encontrava no altar, portanto, mesmo que quisesse não poderia me expressar. As crianças sentadas nos bancos não responderam. Jacy, um dos meninos que estava sentado junto ao escabelo do altar levantou o braço…
As vistas se dirigiram a ele pela coragem e ousadia da manifestação. Pe. Ferdinando de forma gentil e cordial como lhe era peculiar pediu ao infante que desse a resposta. – “Assunção Pe. é a capital do Paraguai!” Como se diz no linguajar popular os coleguinhas “caíram na pele dele”. Gargalhadas gerais… Com sutileza, habilidade e perspicácia o querido e pranteado Pe. Ferdinando teceu elogios ao menino pela coragem e disposição em responder principalmente por haver revelado seu conhecimento de geografia. E disse o Pe.: – “A Assunção que me refiro é outra.” Com a aptidão de professor explicou: – A Assunção de Nossa Senhora foi sua subida aos céus e fora acompanhada por um coro de anjos. E complementou: – Entendam meus filhos a dicotomia entre Ascensão e Assunção. Jesus Cristo foi agraciado com Sua Ascensão aos céus, isto é, subiu sozinho sem a companhia de anjos e Sua Mãe Maria elevada ao Céu, por obra e graça do Altíssimo. “Aí está a diferença entre Assunção e Ascensão.”