• As relações humanas e o exercício da humanidade

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 05/03/2016 11:30

    Uma pesquisa realizada em Boston, na Universidade de Harvard, durante o período de 1938 a 2013, concluiu que bons relacionamentos, mais do que fama e dinheiro, são fatores fundamentais para a saúde, para uma vida boa e ainda para a conservação da memória.  O que importa, não é a quantidade de relações, mas sim, a qualidade delas. É bastante oportuno observar que, essa pesquisa está na contramão dos valores da atualidade. Vive-se numa época que, pode-se destacar como valores vigentes: individualismo, relações passageiras, consumismo, descartabilidade e imediatismo. A sociedade do espetáculo, daquilo que pode ser visto, consumido e descartado, desde corpos esculturais a cortes de cabelo, roupas, carros, músicas, relações, tecnologia, alimentação, tudo sob a tirania da moda. A duração e a antiguidade são ironizadas. Relações antigas são démodées. Desta forma, o outro é visto como um bem de consumo. Por outro lado, observa-se que, na atualidade, as pessoas adoecem mais, seja de doenças físicas ou psíquicas/emocionais e procuram a felicidade no consumo desenfreado de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas. Se as pessoas adoecem mais por viverem sob a égide de tais valores e os seguirem cegamente, parece claro que, tais valores não só não são fonte de felicidade, mas justo o contrário, são poderosas fontes de mal-estar e descontentamento. 

    Os resultados dessa pesquisa, desvendam com seriedade, propriedade e clareza inigualáveis o quanto o ser humano precisa, não necessariamente abdicar do consumo, mas sim, não mais considerar as relações humanas como bens de consumo e, portanto, descartáveis. Para se travar uma relação que seja fonte de bem-estar e contentamento, é necessário que cada um dos envolvidos saiba o que quer e o que pode esperar do outro. Não é incomum, pessoas se sentirem infelizes numa relação porque esperam do outro, aquilo que o outro não tem para dar, ou pelo menos, da forma que o outro espera de ele dê. Não é raro, pessoas recorrerem a tratamentos psicanalíticos ou psicoterápicos ou porque sofrem nas relações ou porque são incapazes de estabelecer e dar continuidade às relações. Se sofrem nas relações, são vítimas de si mesmos, ou seja, de seu desconhecimento acerca de si mesmo, isso porque, foram elas próprias quem escolheram as pessoas para se relacionar e, ainda, é bom lembrar que, o outro só faz com a gente, aquilo que a gente permite.

    Cabe ressaltar que, na vida adulta, estabelecer relações saudáveis, que proporcionam paz, segurança, bem-estar ou doentias, que proporcionam desassossego, tristeza e sofrimento, são apreendidas, via de regra, na infância no âmbito familiar. Muito dependerá do que a criança, desde os primórdios, viverá na dinâmica familiar. Se os pais assumirem os seus papéis de educar que se traduz em dar amor, atenção e limites, a criança terá um ambiente favorável. Assim sendo, as relações sejam elas parentais, amorosas ou sociais consistentes e duradouras, não são importantes, são fundamentais tanto para o bem-estar físico e psíquico/emocional quanto para que os homens possam, de fato, exercer a humanidade que existe em cada um. De outra forma, fica-se preso do lado de fora, daquilo que se é tão nobre e que se chama raça humana.

    Últimas