As luzes do natal
Confesso que estou com saudade das praças iluminadas, das luzes nas fachadas das casas, nas janelas dos apartamentos. Ando pelas ruas e sinto a cidade triste, sem o espírito natalino de outrora. Paira no ar, um clima de apreensão, em virtude do momento caótico que atravessamos. Não há aquela movimentação ansiosa no comércio. Até nos shoppings, as decorações estão tímidas; e os “consumidores”, contidos. Essa situação é um dos reflexos da crise política e econômica vivida no país. Há uma tensão diante dos acontecimentos que apontam para um momento recessivo.
Não sou do time dos alarmistas, nem comungo da ideia do quanto pior melhor. Não perco a esperança, porque tenho fé. Mas não consigo esconder o receio de que a situação ainda possa se agravar, em função de posicionamentos extremistas e do conflito entre poderes, principalmente entre o legislativo e o judiciário.
Está evidente que um dos fatores que contribuiu para a formação dessa crise tem as suas raízes na falta de comprometimento ético na gestão política da Nação. Por meio da chamada “propinocracia”, saquearam os cofres públicos. Por essa razão, alguns Estados decretaram calamidade financeira.
A política de aliciamento, de distribuição de cargos para manter base de apoio, contribuiu para o aumento do vício da barganha. A prática de pleitear cargos para atender a interesses pessoais predominou. A consciência de servir ao bem comum tornou-se raridade. Cresceu o hábito de usar o bem público em benefício próprio ou de uma minoria que compartilha, entre si, o que se desvia do erário. Essa conduta se encontra em diversas repartições.
Frequentemente nos deparamos com notícias sobre prefeitos que são afastados dos cargos por improbidade. A Polícia Federal nunca trabalhou tanto para conter as falcatruas contra a União.
Hoje, pelas redes sociais, as denúncias têm sido frequentes e a mobilização popular tornou-se mais fácil. Os questionamentos sobre a conduta de certos políticos ganharam mais visibilidade, por isso estão sendo abordados nos aeroportos, nos restaurantes, nos logradouros públicos.
Diante do panorama que se apresenta, é oportuno refletir sobre o comportamento dos que se candidatam a cargos políticos:
Primeiramente, é válido lembrar que a palavra candidato vem do latim “candidatus”, que se refere a “candidus” (cândido) sem manchas. Na antiguidade romana, quem se candidatava passava a vestir uma túnica branca, límpida. Isso significava que as atitudes também eram puras, não somente a roupa. O branco representava a conduta ética. Se o povo achasse que o candidato não tinha condições de permanecer no cargo para o qual fora eleito, atirava sujeira nas suas vestes. Essa era uma forma de dizer que aquela pessoa não era digna de estar na posição que ocupara.
Hoje muitos já se candidatam com o propósito de não ser cândido. Já trazem, em mente, a ideia de arrumar um emprego, visando a ganhos ilícitos. Por esses fatos, a classe política ficou estigmatizada pela corrupção. Ser político, na essência da palavra, na concepção etimológica grega, designa a pessoa que se dedica ao governo das polis (Cidade ou Estado), preservando o bem comum não os interesses individuais.
-Neste natal, vamos unir forças e aproveitar a oportunidade para pedir a “Papai-noel” políticos no sentido etimológico da palavra, para que sejam mais respeitados.
P.s: Quero externar aqui a minha tristeza pelo falecimento do Cardeal Dom Frei Paulo Evaristo Arns, que viveu um longo tempo em Petrópolis: uma voz pela liberdade – “Tortura Nunca Mais”.