As faces de uma tragédia
Não são apenas nomes e números em uma lista que parece não acabar nunca. É o amor de alguém, o tão sonhado filho de uma mulher que sempre quis ser mãe, a mãe e os filhos de um homem que agora nem sabe por onde recomeçar, uma avó que amava os netos, um adolescente que botava fé no futuro. As faces de mais uma tragédia das chuvas em Petrópolis são de trabalhadores, sonhadores e realizadores. Gente como todos nós, com problemas, esperança, erros e acertos. Vidas interrompidas na tarde desta terça-feira (15) por um temporal que não víamos há exatos 11 anos e um mês.
Até o fechamento desta edição eram 152 vidas perdidas e uma triste expectativa de que sejam mais de 300, diante do número de 191 ainda desaparecidos. No sexto dia de buscas, um domingo, quando deveria ser de descanso e encontro com a família para todos, se inicia uma jornada para encontrar vidas em meio aos escombros, resultado da pior chuva em 90 anos – somada à falta de uma política preventiva consistente. O volume de chuva, no entanto, não pode ser pretexto para a falta de ação dos governos. A água já baixou e mostrou o rastro de destroços, que não podemos varrer para debaixo do tapete.
E são 152 famílias que precisam de apoio para superar a perda de familiares, a dor mais difícil na vida. Elas se somam a quase mil desabrigados e uma centena de desalojados acolhidos por parentes, número ainda não estimado, mas que pode totalizar seis mil precisando de ajuda. São também faces da tragédia, estas que não deveremos conhecer porque serão dissipadas na multidão, no retorno do dia a dia, quando o mato nos morros crescer, as ruas foram novamente asfaltadas e a gente esquecer porque está na lida.
Petrópolis recebe solidariedade de todo o país e até mesmo do exterior por meio de doações que chegam para pontos oficiais de distribuição e para dezenas de redes formadas por entidades, empresas e grupos de amigos. O governo estadual anunciou R$ 150 milhões em obras emergenciais; o governo federal assinalou apenas R$ 2,3 milhões e a expectativa de mais recursos dependendo de levantamento da prefeitura e um plano de ação. As cifras são bem distantes entre as esferas inclusive, mas também não significa que serão usadas.
Dezesseis estados brasileiro estão enviando homens, em especial dos Bombeiros, para buscas e ajuda na reconstrução. Mostra um Brasil solidário com a cidade e com a nossa dor. A dor da vez é porque em dados oficiais do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) o país tem perto de 8,2 milhões morando em áreas suscetíveis a desastres, como encostas e margens de rios. Aqui, somos 47 mil nesta situação, faces anônimas do dia a dia.
Nas fotos: Luiz Paulo Gimenez, Debora Lichtenberger Moreira, Heloise Lichtenberger Rodrigues e Gustavo Lichtenberger Rodrigues, Milena Sophia Rosa, Daniela da Silva Viana, Bernardo Albuquerque, Maria Eduarda de Almeida da Silva, Maria Helena Coelho, Maristela Mello, Maria Eduarda Carminate Carvalho, Marcelo Baptista e Nilson Oliveira.