• As faces da morte

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  • 22/05/2016 08:00

    Caros leitores, gostaria de vir aqui apenas com o propósito de oferecer algo que pudesse alegrá-los, entretê-los com diálogos sobre amenidades que nos levam a acreditar que a vida é bela. Mas o que a realidade coloca no dia a dia nos distancia do que sonhamos. O nosso mundo tão curto, tão perecível nos mostra o quanto somos vulneráveis e impotentes para mudar uma situação que se agrava pela falta de compromisso com o bem do próximo. Se houvesse um número maior de pessoas preocupadas com o bem do outro, diminuiria essa aflição do “salve-se quem puder”. O compromisso de servir deveria ser maior do que o desejo de ser servido. Assim, a simplicidade seria rotineira, poucos se julgariam melhores do que os outros.

    Quando a morte bate forte em nosso peito, somos invadidos pelos devaneios, procuramos explicações para um viver que nos parece sem sentido. A dor sempre abre lacunas dentro da gente…

    Perdi no dia 7 de maio, vésperas do dia das mães, três pessoas muito queridas. Naquela madrugada de sábado, o manto da morte levou para outro lado da vida, entes queridos que deixaram, em mim, boas lembranças. Duas faleceram aqui, no mesmo hospital; a outra, em Teresina. 

    A diferença de tempo entre os óbitos foi de poucas horas. As três estiveram neste mundo por mais de oitenta anos. Externo aqui os meus sentimentos à família do professor Florisvaldo França, com quem tive a satisfação de trabalhar no Colégio Estadual Irmã Cecília Jardim e no Centro de Estudos de Jovens e Adultos (CEJA). Era um amante da Língua Portuguesa, apreciava uma boa gramática. 

    Deixo também registrada a minha tristeza pela partida de uma tia que está na raiz da minha infância. Nesses dois casos, a resignação veio mais facilmente. O mesmo não aconteceu com o falecimento da querida senhora que fraturou o fêmur em casa e foi levada para o hospital. Constatada a fratura, ficou mais de 24 horas na enfermaria, esperando um quarto para ser internada. Nesse período, contraiu uma pneumonia. Ficou duas semanas tratando dessa enfermidade contraída no hospital. Com a regressão da pneumonia, foi operada para a colocação da prótese. Após a operação, a pneumonia se manifestou de forma agressiva, o que a levou ao óbito. E aí? Só nos resta lamentar? Fica sempre a dúvida de que tudo poderia ser diferente, se logo após a constatação da fratura, ela fosse levada para um quarto e não tivesse que ficar exposta a um ar-condicionado muito forte e ao lado de outras pessoas com outras enfermidades. Talvez o desfecho fosse diferente…

    Essa querida senhora foi velada em Petrópolis, mas o sepultamento ocorreu no Rio de Janeiro, no Cemitério São João Batista. Cheguei a esse local algumas horas antes, deparei-me com uma cena que vai ficar gravada na minha memória: o choro da mãe sobre o caixão do filho assassinado. Aquele “te amo meu filho” me desmoronou. Já estava muito sensível, ao ver a cena, desmontei. Olhei para o Cristo Redentor no Corcovado com indagações para as quais não encontro resposta na lógica humana.

    Não procurei saber nada sobre a história daquele jovem. Mas vi, nos olhos dos colegas que estavam em volta, um desejo de vingança, que vem do rancor que nasce no sentimento de injustiça.

    Caríssimos leitores, a crônica tem essa finalidade também: expor a vida como ela é, com as impressões de quem se submete a expor o que sente sem as amarras da autocensura e não tem medo de externar o que carrega no peito. 

    P.S.: – Será que existe uma associação das vítimas das infecções hospitalares?


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