As estatísticas não mentem
Na semana passada, com o objetivo de escrever um artigo acadêmico para uma revista científica sobre educação, precisei consultar os dados estatísticos dos resultados do ENEM-2019. Fui direto ao site do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão oficial federal responsável pela prova. Fiquei surpresa. Confesso que não acreditei. Precisei consultar diferentes fontes, que julguei confiáveis. Nada adiantou!
A chamada da revista determinou que o tema fosse relacionado ao ensino da língua materna, à norma padrão, à linguagem coloquial da juventude e ao famoso “internetês”, isto é, o português falado/escrito na internet. Eu precisava dos dados sobre o desempenho dos alunos na área de linguagem oral e escrita.
É de conhecimento público que os resultados do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – PISA (Programme for International Student Assessment) são deprimentes. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE promove esse exame a cada 3 anos desde o ano 2000. O objetivo é avaliar o desempenho de aprendizagem de estudantes de 15 anos, buscando compreender os fatores internos e externos ao ambiente escolar que determinam a aprendizagem. Dele participam alunos de escolas públicas e particulares.
A prova avalia três campos principais de domínios – leitura, matemática e ciências – e outros domínios inovadores, como Letramento Financeiro e Competência Global. Atualmente, 79 países participam do exame. Os resultados divulgados no quarto trimestre de 2019, pelo INEP, indicou que o Brasil está entre 58º e 60º lugar em leitura, entre 66º e 68º em ciências e entre 72º e 74º em matemática. A variação equivale à margem de erro adotada pela pesquisa.
A prova do ENEM é elaborada, pelo INEP, com base nas habilidades correspondentes a essas competências avaliadas no PISA. No ano de 2019, inscreveram-se no ENEM 5.095.270 estudantes; destes, apenas 3.702.008 compareceram aos dois dias de prova. A nota de corte para participar dos programas de governo Prouni e Fies é 450 pontos de média em todas as disciplinas. Para o Prouni, basta tirar acima de zero na redação, que vale 1.000 pontos; já o Fies exige um mínimo de 400 pontos na redação. O desempenho do aluno pode ser inferior a 50% de acertos. Para o SISU, consegue a vaga quem obtiver maior pontuação.
Meu foco na pesquisa ficou restrito à área de Linguagens e seus Códigos e Redação. Em Linguagem e Códigos, compareceram 3.923.145 estudantes; nenhum concorrente atingiu a nota máxima (1000 pontos) e nem se aproximou dos 900-1000 pontos; somente 5 alunos fizeram entre 800-900 pontos; 1.078 inscritos fizeram entre 800-700 pontos; de 700-600, 342.163 alunos; a grande maioria, 2.267.375, fez entre 600-500 pontos; 1.134.470 ficaram entre os 500-400 pontos (nota de corte); os demais, 178.053 alcançaram menos de 400 pontos.
Na prova de Redação, 368.237 pontuaram entre 0-400; 517.903 alcançaram a nota de corte de 400-500 do Fies; 1.060.566 marcaram entre 500-600 pontos; 952.461, conseguiram ficar entre 600-700; 423.685 alcançaram entre 700-800; 284.885 obtiveram nota entre 800-900; 172.581 fizeram entre 900-1000 e somente 53 estudantes conquistaram os 1000 pontos na redação dos 3.779.455 inscritos que compareceram nesse dia.
A prova de língua estrangeira é instrumental e faz parte da área de Linguagem e seus Códigos. Nesse domínio são avaliados o vocabulário e a compreensão do texto com perguntas e respostas em Português. Em língua materna, o foco também é a compreensão dos diferentes gêneros textuais. A habilidade/competência/domínio de leitura é essencial para qualquer área do conhecimento e convívio social e profissional. A redação é em Português e avalia-se, principalmente, a organização do pensamento e a capacidade de argumentar.
Sinceramente, não sei o que mais me preocupou: se as notas de corte dos programas oficiais, ou o baixo nível de acertos dos concorrentes. Preciso aprofundar mais meu pensamento. Se eu consultar a estatística com base na faixa etária, gênero ou região, ficarei mais assustada! Melhor nem comentar!
Creio que o maior problema esteja na qualidade da Educação Básica ofertada no Brasil!