• As doenças do verão

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  • 30/01/2017 12:00

    No Brasil, ultimamente, o verão tem sido marcado por surtos de doenças que poderiam ser evitadas se tivéssemos, principalmente nas áreas carentes, uma rede de saneamento básico decente. Se não houvesse esgotos correndo a céu aberto, se não houvesse tantas valas com águas paradas, favorecendo a proliferação de insetos transmissores de doenças, esse período de chuva não seria tão problemático. 

    No ano passado, o aedes aegypti fez um estrago irreversível com o surto de microcefalia. A dengue já era uma velha conhecida; mas a zika, a chikungunya vieram como novidade. O combate a esse mosquito ainda não foi suficiente para neutralizá-lo. Neste ano, ele é o responsável pelo surto de febre amarela que reapareceu em cidades de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Mato Grosso do Sul, Goiás e no Distrito Federal.

     A vacina contra essa febre foi criada em 1937. E, pelas campanhas de vacinação, a referida doença estava sob controle. Mas segundo o Ministério da Saúde, até agora, já foram notificados 550 casos – 72 confirmados, com mais de 40 óbitos, 23 descartados e 455 sob investigação. Tais números já são maiores do que o surto que houve 2003.

    Minas Gerais é o Estado mais afetado. Há fortes indícios de que isso seja mais uma consequência da tragédia do rompimento da barragem em Mariana, que afetou o ecossistema às margens do Rio Doce, em 2015. Já se constatou também a morte de macacos afetados pelo vírus causador da febre amarela. 

     É triste saber que, em pleno século XXI, com grandes avanços tecnológicos e científicos, ainda sofremos as consequências de uma doença que apareceu, no Brasil, em 1685, no período colonial, com os mesmos sintomas, transmitido pelo mesmo mosquito, que se prolifera da mesma forma. As pessoas mais afetadas são sempre as que moram em áreas carentes, com dificuldades de acesso ao sistema de saúde. 

    O verão deste ano vai entrar para a história também como aquele que ficou marcado pelas rebeliões nos presídios, provocadas pelos conflitos entre facções criminosas.  A violência é uma patologia social que ainda desafia as autoridades do país.

    Em verões passados, tivemos os arrastões nas praias cariocas, depois vieram os “rolezinhos” nos shoppings paulistas. É do conhecimento de todos que, nesse período pré-carnavalesco, o número de assalto aumenta. E os turistas são as vítimas preferenciais. 

    A verdade é que, no calor do verão, vários problemas vêm à tona: o aumento do consumo de energia, que, às vezes, causa blackout; queda de barreiras, devido às fortes chuvas; epidemias; viroses; enchentes que provocam tragédias…

     Cabe salientar também que, todo ano, há uma região bastante afetada pelas famosas “zonas de convergência”. E os serviços de meteorologia sempre apontam os efeitos do La Niña ou do El Niño. Em suma, a população se depara com os mesmos problemas todos os anos, porque não há uma política eficiente com atuação preventiva.

    É válido ressaltar que, em todos esses casos, há vítimas, há prejuízos materiais e mortes. Não bastam os decretos de calamidade pública, são necessárias as providências que possam pôr um fim nesse sofrimento dos desabrigados que lotam as filas dos hospitais, antes e depois dos carnavais. 

    É claro que a população deve fazer a sua parte: não jogar lixo nos rios, beber bastante líquido, lavar as mãos antes das refeições, não deixar os pratinhos das plantas com água parada, não desmatar as encostas, não construir casas em área de risco, nem votar em políticos demagógicos.

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