• As alegrias do povo

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  • 06/10/2019 08:00

    Antigamente o povo tinha muito mais alegrias. O dinheiro era considerado um coadjuvante e a vida mais disponível. O suor na camisa vinha do interior e não em troca de regalias. Um grande exemplo disso foi Manuel Francisco dos Santos, mais conhecido no mundo do futebol como Mané Garrincha, que faleceu no dia 20 de janeiro de 1983, aos 49 anos, vítima de cirrose hepática (alcoolismo). Garrincha nasceu na localidade de Pau Grande, na Raiz da Serra, subida para Petrópolis. De origem humilde, com quinze irmãos na família, Manuel dos Santos teve o apelido de Garrincha dado por sua irmã, fazendo uma associação com o pássaro de mesmo nome, muito comum na região.

    Uma das características marcantes que envolvem a figura de Garrincha relaciona-se a uma distrofia física: as pernas tortas. Sua perna direita, seis centímetros mais curta que a esquerda, era flexionada para o lado esquerdo, e a perna esquerda apresentava o mesmo desenho. Ambas as pernas eram, pois, tortas para o seu lado esquerdo. Garrincha era destro. Afirma Ruy Castro em seu livro que ele já teria nascido assim, mas existem vários depoimentos no sentido que tal característica tenha sido seqüela de uma poliomielite. “Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo que nos alimente o sonho.” – Carlos Drummond de Andrade. Para Garrincha foi composta a Balada nº 7, adiante descrita. “Sua ilusão entra em campo no estádio vazio/ uma torcida de sonhos aplaude-o talvez/ o velho atleta recorda as jogadas felizes,/ mata a saudade no peito, driblando a emoção/ Hoje outros craques repetem as suas jogadas,/ ainda na rede balança seu último gol/ mas pela vida impedido parou/ e para sempre o jogo acabou/ suas pernas cansadas, correram pra nada, e o time do tempo ganhou/ Cadê você, cadê você, você passou/ e o que era doce, o que não era se acabou/ cadê você, cadê você, você passou/ no vídeo – tape do sonho a história gravou/ Ergue os seus braços e corre outra vez no gramado,/ vai tabelando seu sonho e lembrando o passado,/ no campeonato da recordação,/ faz distintivo o seu coração,/ e as jornadas da vida, são bolas de sonho/ que o craque do tempo chutou/ Cadê você, cadê você, você passou/ e o que era doce, o que não era se acabou/ cadê você, cadê você, você passou/ no vídeo – tape do sonho a história gravou.” – Moacir Franco. Fora das quatro linhas, casou com Nair, namorada de infância, com quem teve nove filhas, onde duas faleceram (Tereza e Nadir).

    Separou e casou com Elza Soares, onde viveu quinze anos e foi pai de Manuel Garrincha dos Santos Júnior, morto aos 9 anos de idade, em acidente automobilístico. Neném, o filho dele com Iraci, anterior ao casamento com Elza, também morreu no acidente em Portugal, em 20 de janeiro de 1992, aos 28 anos. Garrincha também é pai de um filho sueco, Ulf Lindberg, fruto de um relacionamento com uma sueca da cidade de Umeã, durante uma excursão do alvinegro carioca à Europa em 1959. São detalhes da vida daquele que foi intitulado “Alegria do povo”.Foi uma boa época de alegrias para o povo. Carnaval como festa popular e outras festas. Bem diferente de hoje, onde festas cobram R$ 12,00 o chope. Eram bons tempos. Todos se divertiam com pouco ou nenhum dinheiro. Era a vida levada na flauta, sem celulares e redes sociais. Também não havia assédio e as paqueras rolavam soltas. Ouviam-se muitas pessoas assobiando nas ruas e os solilóquios eram freqüentes.

    O humano era mais humano e menos tecnológico. Chaplin em seus “insights” previu “as máquinas destruirão os humanos (vide o filme Tempos Modernos) ou, pelo menos, as suas alegrias. Será que estamos chegando lá?

                                                           achugueney@gmail.com  

     

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