• Armstrong volta à Osesp para reger ‘O Barba Azul’

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  • 06/04/2023 08:36
    Por João Luiz Sampaio, especail para o Estadão / Estadão

    Com um pouco de ajuda, o maestro faz a conta. São treze? Não, catorze. Catorze anos desde que Sir Richard Armstrong regeu uma ópera em São Paulo, à frente da Osesp. O intervalo termina agora: hoje, amanhã e depois ele comanda récitas de O Castelo de Barba Azul, de Bartók, com retorno do grupo ao repertório operístico. A apresentação da sexta-feira será transmitida ao vivo pelo YouTube da orquestra.

    Em 2009, Armstrong regeu por aqui O Cavaleiro da Rosa, de Strauss. Foi um momento atribulado: John Neschling, que vinha realizando um ciclo com as óperas do compositor, foi demitido e o maestro inglês chamado para substituí-lo nos concertos. De lá para cá, ele retornou algumas vezes à Sala São Paulo, mas para concertos sinfônicos. “Quando consideramos uma orquestra sinfônica, em uma sala de concertos, a ópera nem sempre é parte de seu cotidiano. Mas os benefícios que vêm do contato com esse repertório são enormes”, diz o maestro ao Estadão. “Ele exige enorme flexibilidade para pensar a música do ponto de vista teatral. Não é algo corriqueiro”, completa.

    Em especial no caso de O Castelo de Barba Azul. A ópera foi escrita em 1910 por Bartók a partir de um texto do poeta húngaro Béla Balázs (a estreia aconteceria só oito anos mais tarde). A história tinha algumas fontes, históricas ou ficcionais. Barba Azul foi o apelido dado, no século 15, a Gilles de Rais, herói da Guerra dos Cem Anos que se tornou assassino em série de crianças, que prendia em seu castelo e devorava. A história, com mudanças significativas, acabou inspirando um conto de Charles Perrault dois séculos mais tarde. E, no final dos anos 1900, uma peça de Maurice Maeterlinck.

    CASTELO

    Da mistura, Balázs tirou a história de Barba Azul (o barítono David Stout) e sua nova noiva, Judith (a mezzo-soprano Karen Cargill). A ópera começa com a chegada dos dois ao castelo do duque, onde há sete portas fechadas. Ele avisa que abri-las não é boa ideia, mas a mulher insiste. Cada porta, à medida que a obra – que dura cerca de uma hora – se desenrola, revela uma paisagem diferente: uma câmara de tortura, um lago de lágrimas, tesouros, nuvens, jardins manchados de sangue – e por aí vai.

    “A música é marcada por mudanças constantes de clima, de atmosferas”, diz Armstrong. “Cada porta sugere um ambiente sonoro específico e para a orquestra o desafio é criar essas cores tão fortes, tudo isso com uma música tecnicamente muito difícil.”

    Armstrong vê em O Castelo de Barba Azul “enorme originalidade”. “Se voltarmos ao começo do século 20, temos o fim de uma era na ópera alemã com as peças de Strauss e, na Itália, o fim de um ciclo representado por Giacomo Puccini. Bartók propõe algo diferente, um outro tipo de visão do que é o teatro e de sua relação com a música.”

    Não foi o único. Armstrong relembra Erwartung, de Arnold Schoenberg, monólogo em que a personagem batizada de Mulher caminha durante a noite por uma floresta onde se depara com o que acredita ser o corpo assassinado de seu amante. A obra também nasceu no início dos anos 1910. É tentador ver a floresta como uma alegoria do inconsciente. Assim como o castelo e suas portas, que se abrem em direção à mente de Barba Azul. “O impacto dessas histórias é enorme. O Barba Azul possui um enredo devastador e, ao mesmo tempo, tocante. E Bartók cria música capaz de revelar esses significados.”

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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