Áreas nobres da cidade estão entre as zonas de risco geológico
O mapeamento do Plano de Redução de Riscos do município, apresentado recentemente pela empresa Theopratique, mostrou que as áreas de risco geológico em Petrópolis não estão presentes apenas nas comunidades. Algumas áreas nobres da cidade também estão vulneráveis à desastres naturais. Muitas dessas construções foram edificadas em regiões montanhosas, próximas à maciços rochosos ou encostas que embora não pareça apresentam grande instabilidade.
Uma parte de um condomínio de luxo que fica em Santa Mônica, uma das áreas mais valorizadas de Itaipava, fica dentro de uma dessas áreas de instabilidade geológica, segundo o Plano. O condomínio, que começou a ser construído no fim da década de 70, possui alguns lotes próximos à um maciço rochoso, onde já aconteceram deslizamentos no início da década de 2000. Parte da pedreira passou por obras de contenção, logo depois do incidente, mas a instabilidade se manteve, segundo o estudo. O caso já chegou a ser discutido pelo Ministério Público, e terminou com a interdição de pelo menos dois imóveis.
A região fica numa área instável, o que acaba apresentando riscos, apesar de não ter grande densidade demográfica. Segundo o engenheiro geotécnico Luiz Carlos Dias de Oliveira, cada caso deve ser analisado individualmente.. “Tem lotes que ficam no pé de uma encosta, no caso desse condomínio. Vira e mexe caem alguns blocos de pedras, e isso é um sinal da instabilidade. Esses lotes têm que ser avaliados, afinal cada caso é um caso. É preciso ter gestão de risco. Não se pode indenizar alguém que tem uma construção licenciada. Então, não se pode licenciar qualquer construção sem uma avaliação técnica detalhada”, explicou.
Luiz explicou que, na época da construção do condomínio, não havia tanta preocupação com relação à esse tipo de desastre natural, uma vez que a população da cidade era menor, e a legislação era diferente. “São lotes antigos. De uma época em que não se tinha essa visão de risco, nem ferramentas nem legislação que possibilitassem esse tipo de intervenção. Hoje em dia o cenário é bem diferente. Portanto, se surgir uma nova construção em áreas como esta, com certeza para ser licenciada essa obra terá que ser analisada, pontuando todos os riscos do momento”, completou.
De acordo com o engenheiro, a região do Vale do Cuiabá, Boa Esperança e Madame Machado também possuem áreas de risco. “Em Itaipava tem muitos pontos assim. Muitos deles não é nem caso de risco de deslizamento, mas são ruas e caminhos sem estrutura. Lajinha, Estrada das Arcas, Subida do Crioulo, Estrada da Pedreira, são localidades com muitos problemas. São loteamentos que vão crescendo de forma desordenada sem a devida infraestrutura. Há rua de terra, sem drenagem, sem contenção. E vai crescendo cada vez mais. Por isso tem que ter um frio”, completou o engenheiro.
Alguns condomínios de luxo acabam arcando com as despesas necessárias para a contenção das encostas e o fornecimento de infraestrutura necessária para que possa oferecer condições necessárias à habitação do local. “Em muitas construções no Vale da Boa Esperança, por exemplo, tem gente que faz obras caríssimas de prevenção. Eles têm recursos para isso. Então eles vivem em área de risco e fazem obras de prevenção para eles. Mas são casos excepcionais. Não são o grande problema da cidade. O problema maior é o loteamento, onde se vende área perigosa. Isso não pode ser aceito. Pelo menos 18% do território de Petrópolis é área de perigo alto ou muito alto. Ou seja, resta ainda grande parte da cidade. Ainda tem lugar para fazer condomínio”, concluiu Luiz Carlos.
Um caso marcante de tragédia que afetou uma área ocupada pela classe média e alta foi o desprendimento de pedras na Rua Uruguai, no Quitandinha, que matou duas pessoas em novembro passado. Na ocasião, toneladas de pedras atingiram em cheio pelo menos duas residências que ficavam bem próximo ao maciço rochoso, conhecido como Pedra do Quitandinha. Tudo isso numa região onde não havia sido registrado qualquer tipo de instabilidade anteriormente.