• Árbitros de futebol cuidam de aparência e evitam barba e tatuagem por imagem de neutralidade

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  • 04/maio 10:15
    Por Estadão

    Quase sempre na contramão dos jogadores de futebol, a arbitragem segue normas não escritas, mas facilmente perceptíveis. Uma delas é o tabu em torno da barba e das tatuagens. Enquanto os atletas se destacam com cabelos descoloridos e desenhos espalhados pelo corpo, os árbitros mantêm um visual que comunica neutralidade.

    Embora não exista uma regra oficial na Fifa ou na maior parte das confederações, parece haver um acordo velado que busca transmitir uma imagem mais sóbria e séria. A maioria dos juízes das principais competições ainda adota a imagem de um árbitro de “cara limpa”, seguindo o ditado de que não basta ser imparcial, é preciso parecer imparcial.

    Na Europa, diversas academias de arbitragem, além de formar e ensinar as regras, auxiliam os jovens profissionais a cuidar de sua aparência, incluindo cuidados com unhas, cabelos e barba.

    O ex-árbitro Sálvio Spínola Fagundes Filho, que atualmente atua como comentarista de arbitragem e foi um dos principais expoentes da função entre os anos 2000 e 2010, integrando o quadro da Fifa de 2005 a 2011, conversou com o Estadão sobre o uso de barba e tatuagens.

    Questionado se existia alguma recomendação que proibisse essas questões estéticas em sua época, Sálvio disse que não. “Não recebíamos, mas era comum não ter”, contou.

    Alfredo Loebeling, profissional do apito que trabalhou nas décadas de 1990 e 2000, também concedeu entrevista à nossa reportagem e compartilhou suas experiências. O paulista abordou a cultura da “cara limpa”.

    “É evidente que, hoje, o cenário é diferente em relação à minha época. Vamos voltar à década de 1990, quando havia a leitura de que o árbitro precisava ter a cara limpa (sem barba)… Para que quem estivesse assistindo ao jogo, além dos próprios jogadores, pudesse ter uma melhor leitura da nossa fisionomia”, contou.

    Quanto às tatuagens, Loebeling, que fez parte do quadro da Fifa em 2001, revelou que alguns juízes do seu período possuíam artes no corpo, mas que elas não eram visíveis.

    “Você ficava sabendo que alguns deles tinham tatuagem quando tiravam a camiseta ou quando estavam trocando de roupa no vestiário, aquela coisa toda. Isso existia, mas não eram tatuagens visíveis”, concluiu.

    COLLINA VIROU MODA

    O carismático Pierluigi Collina é considerado um dos maiores árbitros da história do futebol. O italiano se destacava pela autoridade, firmeza e visão de jogo, que o permitia acertar marcações ajustadas mesmo antes da era do VAR. O sucesso o levou a apitar a final da Copa do Mundo de 2002, que terminou com o pentacampeonato da seleção brasileira.

    Todo esse cartaz fez de Collina um exemplo a ser seguido por muitos. A figura do árbitro de cabeça raspada passou a ser uma referência e conquistou entusiastas no Brasil e no mundo. Héber Roberto Lopes, nome carimbado em jogos do futebol brasileiro por muitos anos, foi apontado como adepto do visual de Collina, mas negou a associação de forma bem-humorada durante uma entrevista.

    Aos 65 anos, Pierluigi Collina ocupa o cargo de chefe da Comissão de Arbitragem da FIFA. Ele é membro do Comitê de Árbitros da Uefa e atua como consultor da Associação Italiana de Árbitros.

    NOVOS TEMPOS

    Durante a conversa, Sálvio aproveitou para fazer um contraponto e comentar sobre a situação atual do uso de barba e tatuagens no Brasil. “Tem tatuagem, sim. Quem quer, pode ter. O (Anderson) Daronco tem. Mas poucos usam barba. O Bráulio (da Silva) Machado (estava) usando (barba) um dia desses”, compartilhou.

    Um dos nomes mencionados por Sálvio, o gaúcho Anderson Daronco pode ser considerado um dos árbitros mais excêntricos da atualidade. Conhecido por sua força física, o juiz também se destaca ao exibir uma grande tatuagem no braço direito durante as partidas.

    Árbitro da Fifa desde 2014, ele impactou as redes sociais ao revelar sua tatuagem em dezembro de 2020. O desenho escolhido traz uma caveira dentro de um campo de futebol, com cartola, apito e os cartões vermelho e amarelo.

    O tatuador Guilherme Book, da Território Tattoo Store, estúdio localizado no Rio Grande do Sul, na cidade de Santa Maria, terra natal de Daronco, foi o responsável por atender o árbitro. Ele afirma que se sente honrado ao assistir seu trabalho sendo exibido nas transmissões dos jogos e que gostaria de ver mais juízes tatuados.

    “Sou um amante do futebol. Gosto muito de assistir a partidas e, para mim, foi extremamente gratificante ter a honra de ver um trabalho meu exibido na televisão. Ainda mais por se tratar de um árbitro bastante conhecido, um dos principais do Brasil… Acredito que mais árbitros poderiam ter tatuagens”, declarou ao Estadão.

    Neste sábado, o árbitro Flávio Rodrigues de Souza, da Federação Paulista de Futebol, apitou o duelo entre Bahia e Botafogo, pela sétima rodada do Brasileirão, e chamou a atenção ao entrar em campo ostentando barba.

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