Apontamentos sobre a crise
Palavras de ordem como “Fora Dilma”, “Fora PT” e “Nenhum me Representa”, além de certificarem o nível baixo e rasteiro da disputa política atual, denunciam o pano de fundo da movimentação reacionária neste país que, na verdade, nunca temeu o PT – partido devidamente domesticado pelo capital em troca de administrá-lo a partir de 2002 – mas sim visa atingir um alvo específico: os comunistas e a esquerda combativa. Tais palavras de ordem sugerem nada menos que uma forma envergonhada de, objetivamente, se fazer o jogo da direita pelo impeachment da Presidente da República sem ferir pseudos pruridos democráticos, ainda mais em meio a um clima de histeria antipetista que joga na vala comum a esquerda de um modo geral, aí incluídos nós comunistas.
Acontece que nos inserimos num campo político de oposição à esquerda aos governos petistas, que serviram subservientemente aos ditames do capital enquanto bem administravam seus interesses, seus fabulosos lucros e, ao mesmo tempo, cumpriam o papel de apassivadores dos movimentos populares e bombeiros da luta de classes, desmoralizando desgraçadamente a esquerda revolucionária e os movimentos libertários.
Por esses e outros motivos, não participamos de manifestações de apoio a Dilma nem a Lula, que agora, ante a iminência do desastre, apelam aos trabalhadores dos quais retiraram direitos conquistados a duras penas porque as classes dominantes decidiram acabar com a gestão terceirizada que haviam concedido ao PT e seus sicários desde 2002, quando o PT abriu mão do projeto de transformação social que pregara desde seu nascedouro, capitulando vergonhosamente ante o sistema que tanto criticou.
Entretanto, definitivamente não vamos nos somar a mais esta campanha da eterna direita golpista para derrubar o atual governo e substituí-lo por outro mais eficiente aos desígnios do capital afim de acelerar e aprofundar a pauta neoliberal, destravando-as das mediações assistencialistas vistas pelo PT como grandes avanços sociais.
Infelizmente, a conciliação petista engendrou uma correlação de forças em tudo desfavorável para a classe trabalhadora. Não há espaço nesta arena para ilusões voluntaristas como o “Fora Todos” ou “Ninguém me Representa”. Seja qual for o governo que resulte dessa crise política do regime da democracia representativa burguesa e do presidencialismo de coalizão – em verdade uma ditadura das classes dominantes – ele será contra os trabalhadores.
Já vimos esse filme antes em diversas versões e sempre com o mesmo final: a manutenção da autocracia burguesa e os trabalhadores sendo chamados novamente a pagar a conta de uma crise que não criaram. Neste sentido, o momento se apresenta como a hora de concentrar esforços para a mobilização e organização da classe trabalhadora em luta por suas demandas e para se construir a unidade de ação das forças anticapitalistas, como condições para o enfrentamento da mais grave ofensiva nos últimos anos contra os interesses da classe trabalhadora e dos setores populares.