• Aparente alegria

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  • 05/04/2018 12:55

    Oitenta anos bem vividos com saúde e paz.

    Família reunida, apenas uma sentida ausência nunca olvidada pelo aniversariante, uma vez que a esposa falecera pouco antes da data comemorativa de sua efeméride, junto a filhos, netos, noras e até bisnetos.

    O amigo, entretanto, a sorrir de forma discreta, ainda que em razão da data assinalar tão importante evento, especialmente para a família; todavia, um ar de tristeza aliado a um sentimento de vazio, embora assistido por todos os familiares, marcava o rosto do idoso, em particular o olhar que deixava escapar acerca da perda da esposa que houvera partido para sempre, após o transcurso de longa enfermidade, quadro, entretanto, que não conseguia superar ante os 55 anos de feliz convivência.

    Os quatro filhos e noras tudo fizeram no sentido de que a festividade decorresse num ambiente de alegria, uma vez que comemorar oitenta anos é motivo de a pessoa agraciada prestar reverência ao Pai Maior por haver conseguido, com certeza, após romper barreiras, momentos sombrios e “intempéries” suportadas ao longo do caminho, receber, em contra partida, luzes e, fundamentalmente, o apoio da família que fez constituir e que só lhe proporcionou momentos de alegria e satisfação.

    Por haver logrado, junto à esposa, embora ambos de origem humilde, ver diplomados e bem situados os filhos na vida profissional, já se constituía motivo para que o aniversariante agradecesse a Deus por tantas benesses concedidas.

    A verdade é que faltava algo, situação visível ao se vislumbrar o olhar do homenageado, face a ausência daquela que a seu lado tornou-se o esteio para que tudo tivesse acontecido como, de fato, aconteceu.

    Não posso negar que a festa foi concorrida pela presença dos familiares e  amigos mais chegados, amigos mesmo, como pude notar, exatamente como no meu caso e de minha esposa.

    Os votos de parabéns apresentados, o bolo cortado e os docinhos caprichados.

    Por ocasião das despedidas, quando ainda permaneciam ao lado do caríssimo amigo seus filhos, noras, netos e ainda poucos convivas e depois de um forte e comovido abraço, pude percebê-lo com os olhos lacrimejantes, dirigindo-se a mim e à minha mulher com as seguintes palavras: “senti, ainda, que mesmo com tantas pessoas aqui presentes, com o fito de abraçar-me, que a casa me pareceu vazia”.

    Beijamos-lhe o rosto, momento em que lembrei-me do poeta quando escreveu:

    “Embora cheia de gente, / nossa casa parecia, / sem você ali presente, / completamente vazia”.


     

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