• 02/mar 08:00
    Por Ataualpa A. P. Filho

    – O que se faz por amor?…

    O amor infinitiza quando o amado é imensurável. O amor a Deus é assim sem limite. É por toda a vida e pela vida toda. Entrega-se a vida a Ele. E ganha-se a eternidade. Ele se faz presente no mais próximo, por onde tudo começa. Por quem está ao nosso lado, devemos dar os primeiros passos…

    A magnitude da simplicidade se manifesta também na aceitação das pessoas como elas são. E precisam ser amadas independentes de suas limitações.

    O amar é um processo contínuo, por ser um “contentamento descontente” como já afirmara Camões. Esse “contentamento descontente” fica mais evidente nas ações caritativas inerentes à prática solidária, que rompe com as limitações do “eu”. Quem se propõe a servir tem que quebrar as correntes do egoísmo e assimilar a amplitude do amor assim descrita por Soren A. Kierkegaard em “As Obras do Amor”:

    “Não é o próximo que te segura, mas sim é o teu amor que segura o próximo, se o teu amor para com o próximo se mantiver inalterado, então o próximo permanecerá inalteradamente presente. E a morte não pode roubar-te o próximo, pois se ela te tirar um, a vida em seguida te dará de novo um outro. A morte pode roubar-te um amigo, porque no amor do amigo tu estás unido com ele; mas no amor ao próximo tu estás unido com Deus, e por isso a morte não pode roubar-te o próximo.”

    O amor que se manifesta na caridade consiste em um ato de essência política, uma vez que promove o ser humano no processo de formação de uma consciência social que privilegia o bem comum. Esse amor que impulsiona a caridade é o que nos aproxima de Cristo. Esse amor humanifica. E aqui vale lembrar o que Fiódor Dostoiévski escreveu em “Os Irmãos Karamazov”: “quanto mais amo a humanidade em geral, menos amo os homens em particular, ou seja, em separado, como pessoas isoladas”.

    Não tenho dúvida de que o amor é o termômetro do prazer de viver. Amar é uma ação em autodefesa, é antidepressivo. Leva-nos ao encontro do outro. E a nossa peregrinação por este mundo é motivada pela esperança do encontro com a felicidade. Mas esta se manifesta em cada doação, pois “maior felicidade é dar do que receber” (At 20,35).

    Antes deste carnaval, tive oportunidade de ver quatro jovens ingressando no postulantado de uma congregação franciscana, outra entrando para o noviciado, outra professando seus votos perpétuos e outra jovem, com mais vivência, celebrando os seus 25 anos de vida religiosa. Em todas, vi um brilho nos olhos por uma vocação movida por um Amor que leva ao apaixonamento pelo próximo que expõe a face de Cristo diante da cruz.

    Amparar, acolher, samaritanear são ações que edificam a criatura humana. É fácil de entender, portanto, as seguintes palavras do Padre João Francisco de Siqueira Andrade, fundador da Escola Doméstica Nossa Senhora do Amparo, considerado pela Igreja Católica como Servo de Deus:

    “Na verdade, a caridade não tem pátria, e nem marca limites, é sem dúvida o ato mais nobre e sublime do coração humano e o único que sobrevive às gerações e com o exemplo mais edificante registrado nos próprios corações, vai cada vez produzindo maiores frutos e assim, digno só de uma recompensa eterna e das bênçãos da posteridade.”

    Pelo que o tempo me ensinou, posso afirmar que o amor imuniza, aumenta a nossa resistência. Sem amor, a nossa imunidade cai, ficamos expostos a problemas, a doenças que afetam, principalmente, o nosso lado emocional e psicológico.

    Temos apenas uma vida que precisa ser estruturada no Bem para aspirar ao eterno. E não tenho dúvida de que o amor é a estrada que leva à eternidade. Necessitamos do desafio de conhecer o outro até mesmo para exercitar o amor nas suas diversas faces, principalmente no que se refere à fraternidade, pois esta é que consolida as amizades. Não é o instinto que nos leva a amar, a perdoar, há algo além: o homem deseja expandir-se. E isso ocorre na doação. O doar-se é fazer-se presente no outro.

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