• Ao STF, Tarcísio diz que Bolsonaro nunca falou sobre tentativa de golpe

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  • 31/maio 07:07
    Por Levy Teles / Estadão

    Ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro (PL), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), negou nesta sexta-feira, 30, durante depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), que o ex-presidente o tenha procurado depois da eleição de 2022 para tratar de qualquer tema relacionado a uma trama golpista.

    Tarcísio foi ouvido como testemunha de defesa de Bolsonaro na ação penal a que o ex-presidente responde por tentativa de golpe. Em depoimento que durou menos de dez minutos, o governador de São Paulo só foi questionado pela defesa de Bolsonaro. O ministro Alexandre de Moraes, relator, e o procurador-geral da República, Paulo Gonet, abriram mão de fazer perguntas.

    Tarcísio relatou ter conversado com Bolsonaro entre novembro e dezembro de 2022, em Brasília. O período é o mesmo em que, segundo a denúncia da Procuradoria, o ex-chefe do Executivo liderou um plano de ruptura institucional. “Jamais, nunca (tivemos conversas sobre uma tentativa de golpe de Estado), assim como nunca tinha acontecido durante o meu período no ministério”, disse Tarcísio, que comandou a pasta da Infraestrutura na gestão passada.

    Questionado pelo advogado Celso Vilardi, responsável pela defesa de Bolsonaro, se teve conhecimento de algum fato que relacionasse o ex-presidente aos atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023, Tarcísio também negou. “Não, nenhum. O presidente nem sequer estava no Brasil”, disse. Vilardi seguiu perguntando sobre o teor das conversas mantidas com Bolsonaro. O governador declarou que eles falavam sobre “muitas coisas” e trocavam experiências.

    De acordo com Tarcísio, Bolsonaro temia que as coisas perdessem rumo no governo Lula. “Ele lamentava e temia que a coisa desandasse”, afirmou. O governador disse também que a gestão Bolsonaro teve de lidar com “grandes crises”, como a tragédia em Brumadinho (MG), a pandemia de covid-19, a crise hídrica de 2021 e a guerra na Ucrânia.

    Aceno

    Tarcísio é cotado como o principal nome para substituir Bolsonaro na eleição presidencial de 2026. No entanto, o ex-presidente, mesmo inelegível até 2030, tem insistido em sua própria candidatura e já declarou que não está atrapalhando a direita ao não indicar um nome para concorrer.

    Desde que Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal no inquérito do golpe, o governador tem demonstrado lealdade ao padrinho político. “Há uma narrativa disseminada contra o presidente e que carece de provas. O presidente respeitou o resultado da eleição e a posse aconteceu em plena normalidade e respeito à democracia”, disse na ocasião.

    Em fevereiro, quando o ex-chefe do Executivo foi denunciado pela PGR como líder de um plano golpista, Tarcísio disse que ele “jamais compactuou” com qualquer tentativa de ruptura. “Jair Bolsonaro é a principal liderança política do Brasil. Este é um fato. Jair Bolsonaro jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do estado democrático de direito. Este é outro fato. Estamos juntos, presidente”, afirmou.

    O discurso se repetiu em março, quando Bolsonaro virou réu no STF. “Sabemos que esse não é o primeiro e não será o último desafio a ser enfrentado, mas sabemos também que a verdade prevalecerá e sua inocência será comprovada. Estou certo de que Bolsonaro conduzirá esse processo com a coragem que sempre motivou todos ao seu redor. Siga contando comigo e com os milhões de brasileiros que estão ao seu lado”, postou no X.

    Desistência

    A sessão de audiências na manhã de ontem no STF foi mais breve em razão de desistências por parte das defesas de Bolsonaro e do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, também réu na ação penal do golpe. Na noite de quinta, 29, o ex-presidente dispensou os depoimentos dos ex-ministros Eduardo Pazuello (Saúde) e Gilson Machado (Turismo), do advogado Amauri Feres Saad e do médico Ricardo Camarinha.

    Na tarde de ontem, Bolsonaro desistiu de ouvir Giuseppe Dutra Janino, ex-secretário de Tecnologia da Informação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e o coronel Wagner de Oliveira, que fez parte da comissão de militares que fiscalizou as urnas eletrônicas. Já os advogados de Torres abriram mão dos depoimentos do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e do deputado federal Sanderson (PL-RS).

    Caminhoneiros

    Também testemunha de defesa de Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) disse ontem no STF que a transição para o governo Lula foi iniciada para conter a mobilização de caminhoneiros pelo Brasil, que fecharam as rodovias em protesto contra o resultado da eleição.

    “O presidente nos determinou a transição, naquele período que havia a greve de caminhoneiros”, afirmou o senador, que era ministro-chefe da Casa Civil e comandou o processo de transição, em novembro de 2022. “Precisava de uma fala do presidente, de se iniciar uma transição para que os caminhoneiros parassem de obstruir as rodovias. Pedi para que fizéssemos uma declaração em conjunto para fazermos essa transição e ele determinou dessa forma.”

    Na audiência, o senador também negou ter mantido conversas de teor golpista com o ex-presidente e afirmou que Bolsonaro não tentou atrapalhar a transição. “Foi tudo dentro da normalidade, o presidente em momento nenhum quis obstaculizar qualquer tipo de situação para que a gente fizesse a transição da melhor forma possível”, afirmou.

    Parlamentares

    Prestaram ainda depoimento pela manhã o senador Esperidião Amin (PP-SC), o deputado distrital João Hermeto (MDB) e a secretária de Desenvolvimento Social do Distrito Federal, Ana Paula Marra. Todos foram testemunhas de defesa de Torres.

    Ana Paula Marra afirmou que o ex-ministro da Justiça debateu um plano de desmobilização dos acampamentos golpistas dois dias antes do 8 de Janeiro e, ao lado do então comandante militar do Planalto, general Gustavo Dutra, discutiu emitir um mandado de prisão contra os líderes dos acampamentos. No 8 de Janeiro, Torres comandava a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.

    Em depoimento dado à tarde, o general Dutra também relatou que planejou, ao lado do então secretário de Segurança, uma desmobilização antes dos ataques na Praça dos Três Poderes, quando radicais invadiram e depredaram as dependências das sedes do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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