• Anvisa aprova projeto-piloto para testar bula digital para remédios; Idec aponta riscos

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  • 10/jul 19:11
    Por Layla Shasta / Estadão

    A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou nesta quarta-feira, 10, um projeto-piloto para testar a substituição da bula impressa em papel por uma versão digital em alguns medicamentos.

    A proposta prevê a impressão de um QR Code nas embalagens das medicações para que o consumidor acesse a bula de forma online. Segundo o projeto, o código também possibilitará o acesso a informações adicionais, como vídeos e instruções que ajudem no uso adequado dos produtos.

    De acordo com a Anvisa, a mudança não implica na extinção das bulas impressas. Os pacientes ou profissionais de saúde que desejarem a versão tradicional poderão solicitá-la aos atendentes das farmácias, que deverão apresentar placas informando sobre essa opção.

    O projeto terá vigência até 31 de dezembro de 2026 e as informações coletadas e monitoradas durante esse período devem servir como base para futura regulamentação sobre o tema.

    Neste primeiro momento, a bula digital será permitida somente nos seguintes casos:

    – Embalagens de amostras grátis de medicamentos;

    – Medicamentos destinados a estabelecimentos de saúde (como hospitais e clínicas), exceto farmácias e drogarias;

    – Medicamentos que não precisam de prescrição médica;

    – Medicamentos com destinação governamental, em embalagens com inscrições próprias do Ministério da Saúde.

    A escolha desse grupo inicial, segundo a Anvisa, prioriza medicamentos que são entregues por profissionais de saúde durante consultas, garantindo a orientação sobre sua utilização. Também engloba produtos considerados de baixo risco ou aqueles utilizados sob supervisão de profissionais de saúde em hospitais e clínicas.

    Idec quer fiscalização

    A discussão sobre o formato digital surgiu com a publicação da Lei 14.388/22, que estipula que a autoridade sanitária pode definir quais medicamentos terão apenas um formato de bula, e mobiliza o Instituto de Defesa de Consumidores (Idec).

    Na segunda-feira, 8, o instituto enviou um ofício à Anvisa solicitando que a pauta fosse excluída da reunião pública desta quarta. “A medida é inadequada à realidade brasileira, pois aumenta os riscos de intoxicação por consumo inadequado de medicamentos e aprofunda desigualdades relacionadas ao letramento digital e o acesso à internet”, alegou a instituição em comunicado.

    Críticas semelhantes foram recebidas na consulta pública sobre o tema realizada pela Anvisa em 2023 e considerada na formulação da nova proposta. Segundo o relatório da iniciativa, enquanto alguns apoiaram a mudança como um avanço necessário, outros expressaram preocupações sobre acessibilidade, segurança e exclusão digital relacionadas à disponibilização da bula exclusivamente em formato digital.

    Para o Idec, para não prejudicar os consumidores, a adoção das bulas digitais requer a adequada fiscalização da Anvisa e a nova versão deve ser uma possibilidade adicional, e não única, de acessar as informações sobre o medicamento.

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