
Anunciadores da Salvação!
O Evangelho (Lc 10, 1-12. 17-20) relata a partida dos discípulos para anunciarem a chegada do Reino de Deus. Jesus, que envia setenta e dois discípulos, para onde Ele deveria ir, a fim de que preparassem o ambiente. Diz Jesus: “a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Lc 10, 2). No campo de Deus, há trabalho para todos. Com a sua passagem, multiplicam-se os milagres: cegos que recuperam a vista, leprosos que ficam limpos, pecadores que decidem fazer penitência. E vão levando, por toda a parte, a paz de Cristo. O próprio Senhor os encarrega disso, antes de deixá-los partir para essa missão apostólica: Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz esteja nesta casa! Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele… Esta mensagem será repetida pela Igreja até o fim dos tempos.
A Liturgia deste Domingo centra-se, de modo particular, nesse grande bem para a alma e para a sociedade, que é a paz. No trecho do Profeta Isaías (Is 66, 10-14), o profeta anuncia que a era do Messias se caracterizará pela abundância desse bem divino; será um rio de paz, uma corrente transbordante, resumo de todos os bens: o gozo, a alegria, a consolação, a prosperidade prometida por Deus à Jerusalém, restaurada depois do desterro da Babilônia. Como uma criança que a mãe consola, assim eu vos consolarei. Isaías refere-se ao Messias, portador dessa paz que é, ao mesmo tempo, graça e salvação eterna para cada um e para todo o Povo de Deus. A nova Jerusalém é imagem da Igreja e de todos nós.
O Evangelista Lucas deixa claro que a missão não está reservada aos doze Apóstolos, mas envolve, também, outros discípulos. Com efeito, diz Jesus: “a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Lc 10,2). E Cristo, não se limita a enviar: Ele oferece, também, aos missionários, regras de comportamento claras e específicas. Em primeiro lugar, envia-os “dois a dois”, para que se ajudem mutuamente e deem testemunho de amor fraternal. Adverte-os que serão “como cordeiros no meio de lobos”: ou seja, deverão ser pacíficos apesar de tudo e transmitir uma mensagem de paz, em todas as situações; não levarão consigo roupas, nem dinheiro, vivendo daquilo que a Providência lhes oferecer; cuidarão dos enfermos como sinal de misericórdia de Deus; onde forem rejeitados, ir-se-ão, limitando-se a alertar-se acerca da responsabilidade da recusa ao Reino de Deus. São Lucas evidencia o entusiasmo dos discípulos, pelos bons frutos da missão, e ressalta esta bonita expressão de Jesus: “Não vos alegreis, porque os espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no Céu” (Lc 10, 20). É necessário que este Evangelho desperte, em todos os batizados, a consciência de que são missionários de Cristo, chamados a preparar-lhe o caminho mediante as palavras e o testemunho da vida.
Depois de tantos anos, ainda vemos que o mundo não está em paz; anseia e clama por ela, mas não a encontra.
Poucas vezes, como no nosso tempo, mencionou-se tanto a palavra paz, e, talvez, poucas vezes, como no nosso tempo, a paz esteja tão longe do mundo.
Talvez, o mundo esteja buscando a paz onde não a pode encontrar; talvez, confunda-a com a tranquilidade; talvez, faça-a depender de circunstâncias externas e alheias ao próprio homem. A paz vem de Deus e é um dom divino “que supera todo entendimento” (Fil. 4,7), e que se concede somente aos homens de boa vontade (Lc 2,14), aos que procuram, com todas as suas forças, conformar a sua vida com o querer divino.
Ensinava São Josemaria Escrivá: “A paz, que traz consigo a alegria, o mundo não a pode dar.
– Os homens estão sempre fazendo pazes, e andam sempre enredados em guerras, porque esqueceram o conselho de lutar por dentro, de recorrer ao auxílio de Deus, para que Ele vença, e, assim, consigam a paz, no seu próprio eu, no seu próprio lar, na sociedade e no mundo.
– Se nos comportarmos deste modo, a alegria será tua e minha, porque é propriedade dos que vencem. E, com a graça de Deus – que não perde batalhas – chamar-nos-emos vencedores, se formos humildes” (Forja, 102).
Então, seremos portadores da paz verdadeira, e a levaremos como um tesouro inestimável aos lugares onde estivermos: à família, ao local de trabalho, aos amigos…, ao mundo inteiro.
“A violência e a injustiça, frisa São João Paulo II, têm raízes profundas, no coração de cada indivíduo, de cada um de nós.” Do coração procedem “todas as desordens que os homens são capazes de cometer contra Deus, contra os irmãos e contra eles próprios, provocando, no mais íntimo das suas consciências, uma ferida, uma profunda amargura, uma falta de paz que, necessariamente, reflete-se no entrançado da vida social. Mas é, também, do coração humano, da sua imensa capacidade de amar, da sua generosidade para o sacrifício, que podem surgir – fecundados pela graça de Cristo – sentimentos de fraternidade e obras de serviço aos homens que, como rio de paz (Is 66,12), cooperem para a construção de um mundo mais justo, onde a paz tenha foro de cidadania e impregne todas as estruturas da sociedade.” (Beato Álvaro Del Portillo, Homilia). A paz é consequência da graça santificante, como a violência, em qualquer das suas manifestações, é consequência do pecado.
A vida do cristão converte-se, então, numa luta alegre por rejeitar o mal e alcançar Cristo. Nessa luta, encontra uma segurança cheia de otimismo, mas quando pactua com o pecado e os seus erros, acaba por perdê-la, e converte-se numa fonte de mal-estar ou de violência para si próprio e para os outros.
O cristão, que vive de fé, consciente da sua estirpe divina, é o homem de paz que contagia serenidade; passa-se bem ao seu lado, e todos procurarão a sua companhia.
Unicamente em Cristo encontraremos a paz de que tanto necessitamos para nós mesmos e para que os que estão mais perto. Recorramos a Ele quando as contrariedades da vida pretenderem tirar-nos a serenidade da alma. Recorramos ao Sacramento da Penitência (Confissão) e à direção espiritual se, por não termos lutado, suficientemente, a inquietação e o desassossego entrarem no nosso coração.
A presença de Cristo, no coração dos seus discípulos, é a origem da verdadeira paz, que é riqueza e plenitude, e não simples tranquilidade, ou ausência de dificuldades e de luta. São Paulo afirma que o próprio Cristo é a nossa paz (Ef 2,14); possuí-Lo e amá-Lo é a origem de toda a serenidade verdadeira.
É preciso ter os olhos fixos em Jesus! As pupilas dilatadas, pelo amor de Deus, conseguem enxergar tudo renovado. Quem dialoga com o Senhor, entende melhor a vida, entende em Deus. A alma que dialoga com Deus, que se sabe na companhia de Deus, descobre fulgores novos, na paisagem de sempre, mundos novos detrás das aparências, sempre iguais, do dia a dia. A rotina transforma-se em diálogo divino. O amor torna o mais comum em luminoso e alegre.
Tudo o que se faz por amor adquire beleza e grandiosidade. Para viver nesse clima de amor, nessa vida contemplativa, é necessário ter o amor que resiste a quaisquer circunstâncias, ou seja, manter a presença de Deus.
Peçamos a Nossa Senhora, Rainha da Paz, que saibamos recorrer, com humildade, às fontes da paz: o Sacrário, a Confissão, a direção espiritual, se virmos que o desassossego, o temor, a tristeza ou o rancor querem penetrar no nosso coração e comprometer a nossa missão de paz.
Rainha da Paz, rogai por nós!