ANPD nega recurso da World ID e ‘venda de íris’ é proibida no Brasil
A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) rejeitou o recurso da Tools For Humanity em que a empresa pedia para continuar coletando a biometria dos olhos das pessoas no Brasil e, em troca, beneficiá-las com pagamento em criptomoedas.
Com a decisão, o projeto World, da startup, deverá parar de oferecer os tokens de worldcoin (WLD) para aqueles que se candidatarem a escanear a própria íris.
Segundo a ANPD, a empresa de Sam Altman solicitou um prazo de mais 45 dias para que o aplicativo se adaptasse ao fim do benefício financeiro. Entretanto, o recurso não foi aceito.
Em posicionamento enviado ao Estadão, a World disse que respeita o decisão da ANPD, mas que será necessário tempo para cumprir a sua ordem. Veja abaixo:
“A World respeita a decisão da ANPD. Como a ANPD está ciente, será necessário tempo para cumprir com a sua ordem. Para permitir que a World conclua as mudanças em coordenação com a ANPD e garanta conformidade durante esse processo, estamos voluntariamente e temporariamente pausando o serviço de verificações. Os espaços físicos da World permanecerão abertos para fornecer educação e informações ao público e pedimos desculpas por qualquer inconveniente aos que desejavam se juntar à World agora.
A World segue seu compromisso em cumprir com as leis nos mercados onde opera e continuará trabalhando para garantir transparência e entendimento público desse serviço essencial, que busca aumentar a segurança e confiança online na era da IA.”
A ANPD disse que a empresa tem 10 dias úteis para apresentar uma declaração oficial, assinada por um responsável legal da empresa, provando o fim do benefício financeiro aos candidatos.
Como funcionava o cadastro e pagamento da coleta de íris?
Para realizar o cadastro pessoal no sistema da Tools for Humanity, chamado de World ID, os usuários precisavam realizar reconhecimento facial e escaneamento de íris, que são dados biométricos sensíveis. Em troca, a startup oferecia algumas dezenas de “moedas digitais” (chamadas worldcoins) que podiam ser vendidas dentro do próprio aplicativo por “dinheiro de verdade”. Na prática, a pessoa fazia uma imagem de alta resolução da íris e recebia tokens de criptoativos, como o bitcoin, que podiam ser trocados por reais – dependendo da cotação dessa moeda era possível receber entre R$ 300 e R$ 700.
O serviço vinha ganhando muitos adeptos em São Paulo, primeira cidade no Brasil a participar do projeto. Já são mais de 400 mil pessoas registradas e 48 pontos de captação das imagens dos olhos. Mais de um milhão de pessoas já baixaram o aplicativo no celular – e milhões já assistiram aos vídeos no TikTok de pessoas que já participaram do projeto. Como mostrou o Estadão, muitos dos participantes apresentavam algum tipo de vulnerabilidade social e topavam o registro da íris apenas pelo dinheiro “rápido” e “fácil”.
Desde 2024, a ANPD, por meio da Coordenação-Geral de Fiscalização (CGF), vem fiscalizando o uso de dados biométricos para a nova rede social. Segundo a Tools for Humanity, o World ID permitiria a comprovação de que o titular é um ser humano único vivo e promoveria maior segurança digital em contexto de ampliação das ferramentas de inteligência artificial (IA).
*Mariana Cury é estagiária sob supervisão do editor Bruno Romani