Animação ‘A Caminho da Lua’ narra delicada história familiar em defesa da ciência
Quando Glen Keane começou a trabalhar na Disney, havia apenas 50 pessoas envolvidas na criação de histórias animadas. Foram 15 anos até estrear A Pequena Sereia, em 1989, e, para o animador, a fonte criativa da animação ainda reside nos olhos. “O conselho do meu mentor Ollie Johnston é que, na animação, é mais importante mostrar o que um personagem está sentindo, em vez do que ele está fazendo.” Depois de Ariel, Keane ainda estreou os clássicos A Bela e A Fera, Aladdin e Tarzan. “A chave da emoção está nos olhos.”
Agora, é pelo rosto da pequena Fei Fei, de A Caminho da Lua, que Keane vai narrar uma delicada história familiar, centrada no sonho de uma garotinha chinesa em conhecer Chang’e, uma deusa mítica e sua morada na Lua.
A animação da Netflix marca a estreia de Keane longe da Disney, mas o filme já havia percorrido uma trajetória em defesa da ciência, como a própria construtora de foguetes Fei Fei. Com o anúncio do novo filme, nos primeiros meses da pandemia, A Caminho da Lua se tornou alvo de comentários racistas e xenofóbicos a respeito da origem dos primeiros casos do covid-19, na cidade chinesa de Wuhan. Na ocasião, a produtora do filme Peilin Chou rejeitou os comentários. “Ver essa família chinesa, com personagens que possuem anseios e desejos e esperanças é algo que pode ajudar nossa aproximação.” E reconheceu que o filme pode inspirar as pessoas com esperança. “Somos todos apenas pessoas e estamos conectados da mesma maneira.”
Mas a pandemia não facilitou nem para os adversários. Com estreia prevista para março, o live action Mulan deve estrear no Disney + na data tão distante de 4 de dezembro. A plataforma mesmo chega antes para o público brasileiro, no dia 17 de novembro. Parece que o foguete de Fei Fei chegou na frente com a Netflix.
Essa diplomacia cultural começou ainda na turnê da equipe criativa pela China. No ano passado, Keane passou uma temporada visitando de perto a paisagem e os moradores das cidades antigas de Wuzhen e Nanxun. “Um dia, pedi para eles me falarem sobre a vida ali’, contou Keane para o Estadão, em entrevista online. “Imaginei que iam falar sobre coisas da cultura, mas o assunto foi o tipo de noodle preferido de cada um, o macarrão chinês. Porque lá tem o noodle redondo, noodle preto. De repente, descobri que cada região tem o seu tipo predileto.”
Como evento presente na família chinesa, as refeições juntas se tornaram base para os primeiros conflitos vividos por Fei Fei.
Desde criança, a garota sonha com as lendas de um mundo acima de nossas cabeças, localizado no lado escuro da Lua, e governado pela mítica Chang’e, no filme uma mistura de rainha de humor instável e estrela da música pop para os outros habitantes.
Mas antes de chegar a este universo particular, o filme narra as decolagens de Fei Fei, muitas delas fracassadas. A menina constrói um tipo de foguete que não consegue decolar. Um dia o projeto sofre uma pequena mudança de inclinação, inspirado em um meio de transporte com DNA chinês: o trem de alta levitação magnética, que chega a 245 km por hora, segundo Keane. “Entrei em um deles e posso dizer que nunca vivi nada como aquilo. É uma visão cara da cultura chinesa.” Quando Fei Fei ainda está longe de tirar o foguete do chão, ela percebe que, se construir trilhos, como o trem de alta velocidade, seu veículo espacial poderá atingir certa velocidade, ainda no chão, e decolar.
Essa é a grande surpresa de A Caminho da Lua com o novo universo criado no satélite da Terra. Keane sabia que repetir os traços da Disney não ia garantir o sucesso do filme da Netflix e o animador precisou encontrar nas características de Lunaria, o visual de que precisava para recepcionar Fei Fei e seu foguete. E a cap…