• Andréa Pachá, escritora petropolitana e desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, e Jeferson Tenório falam sobre justiça e liberdade no Flipetrópolis

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • Por Aghata Paredes

    O 1º Festival Literário Internacional de Petrópolis tem proporcionado um espaço para a discussão e reflexão sobre temas fundamentais da sociedade contemporânea. Sob o tema “Arte, Cultura, Educação e Liberdade”, na noite de quinta-feira (02), dois nomes proeminentes, Andréa Pachá e Jeferson Tenório, foram destaque no palco. A mediação ficou a cargo de Sérgio Abranches, um dos curadores do evento.

    Já em sua primeira fala, Andréa Pachá ressaltou a importância da liberdade ao se referir ao formato do Flipetrópolis, no qual os autores convidados não possuem um tema específico a ser explorado, e manifestou publicamente sua solidariedade ao que Jeferson Tenório, autor de “O avesso da pele”, publicado pela Companhia das Letras, vem enfrentando.

    Desde o início de 2024, a obra “O Avesso da Pele”, premiada com o Prêmio Jabuti de Romance Literário em 2021, tem sido alvo de censura. O autor descreveu como uma diretora de escola no Rio Grande do Sul solicitou o recolhimento do livro, desencadeando um debate sobre seu conteúdo. A disseminação de desinformação e a reação exagerada ao caso, com a alegação de que o livro possui vocabulário inadequado e descrições de sexo impróprias para estudantes, resultaram no recolhimento da obra em diversos municípios. O autor disse ainda que “não é porque um livro está sendo vendido em todo lugar que ele não é censurado.”

    Foto: @alnereis/Flipetrópolis

    Pachá expressou solidariedade a Tenório e criticou a censura velada, defendendo veementemente o direito à circulação da palavra e o acesso à literatura como instrumento de emancipação, especialmente para as gerações mais jovens. “Já havia feito isso por escrito, mas quero manifestar minha solidariedade absoluta com essa censura que não é normativa, impositiva, mas que é uma censura desses novos tempos e dessa nova mídia que é muito difícil de enfrentar, porque ela é fruto da covardia e das pessoas que não têm coragem de positivar um ato censor e fazem isso da maneira mais calhorda, que é impedindo que a palavra circule e que a sociedade, os leitores e as leitoras, especialmente os mais jovens, se emancipem pela literatura. O livro do Jefferson deveria ser não só indicado, mas obrigatório nas escolas, não só na rede pública, mas também na rede privada”, disse.

    A petropolitana também contribuiu com uma reflexão profunda sobre o papel da literatura como ferramenta de transformação social. Enquanto desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, ela ressaltou as limitações do sistema judicial em promover mudanças efetivas, contrastando-o com o potencial da literatura para questionar o status quo e inspirar novas perspectivas. “O espaço que eu ocupo do sistema judicial não é um espaço de transformação com a possibilidade que a literatura tem. Isso porque o sistema normativo é um sistema que estabiliza o status quo, e não um sistema que se contrapõe a ele. A literatura consegue fazer isso, e muitas vezes é a ela que recorro para me ajudar nos processos em que eu julgo”, disse.

    Foto: @alnereis/Flipetrópolis


    Ao longo da conversa, Pachá também abordou a sensação de aprisionamento diante de uma realidade que tolhe a liberdade de expressão e o direito à escrita literária. “Temos sido raptados por essa realidade que não nos deixa sermos livres para escrevermos sobre o que desejarmos, que não nos deixa sonhar. É como se tivéssemos sido subtraídos para um pântano, que é uma realidade tão dura e tão concreta, que a nossa literatura não consegue fugir desse ciclo. Por mais que se compreenda a relevância dessas pautas hoje ganharem visibilidade, porque nós vivemos tempos em que se ignorava a diversidade, o racismo, o sexismo e o machismo, agora nós temos todos esses tempos expostos e exibidos, e não conseguimos nos libertar dessa pauta. A sensação que se tem é que quanto mais damos visibilidade à pauta que deveria ser positiva de inclusão e de afirmação dos direitos fundamentais, mais ela é apropriada por quem pretende dar o seguinte recado: olha, vocês continuem fazendo isso, porque vocês só podem fazer isso. E eu lembrei da frase da Rosa Luxemburgo, que eu amo. Ela diz que deseja um mundo em que sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres, e que toda liberdade é liberdade de sentir.”

    Leia também: Conversa entre Leonardo Boff, ecoteólogo e colunista da Tribuna de Petrópolis, e Eliana Alves Cruz marca o primeiro dia do Flipetrópolis

    Mais sobre Andréa Pachá

    Andréa Pachá é petropolitana, desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Mestre em Direitos Humanos e Saúde Pública pela Fiocruz, professora de pós-graduação de Direito de Família e Sucessões da PUC-Rio e da Escola Nacional de Formação de Magistrados e integrante da Academia Petropolitana de Letras e da Academia Líbano-Brasileira de Letras, Artes e Ciências. Além disso, é autora de grandes sucessos, como “A Vida não é Justa” e “Segredos de Justiça”, com adaptações para a TV e o teatro, “Velhos são os Outros” (finalista do Prêmio Jabuti 2019), e “Sobre Feminismos”, em co-autoria com Vilma Piedade.

    Sobre o Flipetrópolis

    O 1º Festival Literário Internacional de Petrópolis recebe diversos escritores locais, nacionais e internacionais, movimentando diferentes cenas da produção literária, além de fomentar a educação, o acesso à arte – em suas mais variadas formas – e a inclusão. O evento, que começou nessa quarta-feira (1º), segue até domingo (05), com entrada gratuita e uma vasta programação para todas as idades. Para conferir a programação completa acesse o site oficial do evento.

    Leia também: Petrópolis recebe seu primeiro festival literário internacional; curador e presidente da Academia Petropolitana de Letras fala sobre a importância do evento para a cidade 

    Últimas