• Americanos caçam sobras de vacinas

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  • 07/02/2021 08:45
    Por Beatriz Bulla, correspondente / Estadão

    “A demanda por vacinas é maior do que o fornecimento de doses do governo”, avisa o comunicado do Departamento de Saúde do Distrito de Columbia, onde fica a capital americana, aos moradores. Por isso, diz o e-mail da prefeitura, é normal que quem está no grupo selecionado para a vacinação tenha dificuldade em agendar um horário para ser imunizado contra covid.

    Mas isso não tem impedido que alguns americanos consigam ser vacinados mesmo sem fazer parte da faixa prioritária. A “sobra” de doses em farmácias no fim do dia criou uma caça às vacinas em todo o país – e vem permitindo que pessoas que não fazem parte de grupos de risco sejam imunizadas antes de muitos idosos.

    No Facebook e em conversas de celular, americanos trocam dicas de como garantir a vacina antes do prazo. A estratégia que passou a ser adotada é a de esperar o fim do atendimento nas farmácias para se beneficiar de uma dose que não tenha sido usada.

    As vacinas da Pfizer e da Moderna precisam ser aplicadas poucas horas depois de retiradas do freezer. No caso do imunizante da Pfizer, cada frasco fora do congelador pode conter até seis doses. Se um idoso ou profissional de saúde faltar ao agendamento, a dose reservada fica sem uso no fim do dia. As farmácias e hospitais preferem aplicar o imunizante em outra pessoa, mesmo que fora dos grupos de risco, a fazer o descarte. E é com isso que contam os americanos que fazem filas em portas de farmácias ou dirigem até outro Estado em busca da imunização.

    Mas a caça às vacinas tem provocado um novo debate. Os números mostram que a vacinação tem sido feita de maneira desigual e a população branca tem sido proporcionalmente mais vacinada do que negros e latinos. O governo de Joe Biden diz que é preciso melhorar a comunicação com grupos que têm maior desconfiança sobre a vacina, dificuldade de chegar aos locais de imunização ou menor acesso ao agendamento.

    A primeira da fila na farmácia de um supermercado da rede Giant, na quinta-feira, era uma mulher de 87 anos. Apesar de ter direito ao agendamento, ela não sabia como se cadastrar e resolveu ir à farmácia perguntar. Foi orientada a aguardar uma sobra – e esperou das 10 horas até 16h30 até ser imunizada.

    Analistas alertam, no entanto, que a busca por vacinas por conta própria pode ampliar diferenças raciais e socioeconômicas, pois só os que têm informação e tempo para passar a tarde na fila de conseguirão uma dose. “Não gosto de mentir. Não seria honesto dizer que estou em um grupo prioritário se não estou. Mas esperar por uma vacina que será descartada é honesto”, afirma Sara Moffett, de 34 anos, que trabalha em uma creche.

    Sara era a segunda na fila da farmácia do supermercado. Ela ficou pouco mais de uma hora à espera de uma dose. Pelo plano do Distrito de Columbia, Sara não seria vacinada tão cedo. Na sexta-feira, um comunicado informou o agendamento para profissionais da saúde e idosos com mais de 65 anos.

    “Soube que eles descartam doses e isso é uma loucura”, afirmou Sara. No início do ano, reportagens contaram a história de americanos surpreendidos com a possibilidade de serem vacinados enquanto faziam compras no supermercado. Ao mesmo tempo, a proibição da vacinação de pessoas fora do grupo risco poderia gerar perda de vacinas que já estavam fora da temperatura ideal. A partir de então, as filas se tornaram corriqueiras.

    Os profissionais responsáveis pela aplicação adotam critérios na hora de distribuir as sobras. Se há idosos na fila, que não tinham agendamento, eles recebem primeiro. No caso das farmácias de supermercados, os profissionais que trabalham no local têm prioridade.

    Como as regras variam de Estado para Estado, há também pessoas que cruzam as divisas para se vacinar. A situação tem alarmado as autoridades, pois cada Estado recebe um número de doses proporcional à população. Se moradores de outros lugares buscam a vacina, o grupo prioritário que vive no local corre o risco de ter a imunização atrasada.

    No Facebook, há grupos de “caçadores de vacinas” em New Orleans, Geórgia, Los Angeles, Maryland, Michigan, Minnesota, New Jersey e Indiana. Até agora, os EUA aplicaram uma dose em 27,9 milhões de pessoas, das quais 6,9 milhões estão completamente imunizadas.

    Biden promete chegar à marca de 100 milhões de vacinas nos 100 primeiros dias de mandato. Na velocidade atual, os EUA terão vacinado metade da população em julho. “Estamos distribuindo o mais rápido possível”, disse Andy Slavitt, conselheiro da Casa Branca, na sexta-feira. Enquanto isso, alguns americanos preferem buscar a vacinação por conta própria.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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