Alunos da UCP e crianças da comunidade criam projeto de revitalização para o Neylor
Movidos pelo sonho de transformar com as próprias mãos a realidade em que vivem, um grupo de crianças da Comunidade do Neylor, atendidas pelo projeto social Nyumba-kaya, inspiraram os estudantes de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Petrópolis (UCP). Juntos, crianças e universitários transformaram as ideias em projetos para revitalização da comunidade e agora esperam que novos parceiros ajudem a dar vida às ideias.
A comunidade do Neylor, no Retiro, como muitas outras da cidade, sofre com a falta de infraestrutura urbana. A proposta do trabalho acadêmico foi criar soluções rentáveis e sustentáveis para minimizar os problemas enfrentados pelos moradores e proteger a mata atlântica.
A coordenadora do projeto Nyumba-Kaya, Natasha Clark, chama a atenção para a importância da parceria para os moradores do local. “Tudo começou com a ideia de criação do pórtico. As crianças indagavam onde estaria o nome da comunidade. Trabalhamos esta ideia, mostrando às crianças que é possível transformar para melhor o lugar onde vivemos. Nossa intenção era exaltar as belezas da comunidade e criar nas crianças o orgulho de viver no Neylor”, lembra Natasha, que desenvolve atividades no contraturno escolar no Sítio São Luis.
A coordenadora ressalta que a intenção, desde o primeiro contato com a UCP, era formar uma parceria em que a participação da comunidade fosse essencial: “tudo foi realizado pensando na participação dos moradores, por ser imprescindível na construção do sentimento de pertencimento e orgulho, o que consequentemente fará com que eles mantenham e cuidem dos possíveis equipamentos instalados”, declarou.
O professor de arquitetura e urbanismo, Kurt Bergan, coordenador do projeto, conta que tudo foi feito de forma participativa e que os alunos tiveram a oportunidade de conhecer as complexidades da cidade. “As comunidades carentes sofrem com muitos problemas e isso proporciona a ida do conhecimento do arquiteto e urbanista para uma complexidade desse nível, além de trabalhar questões sociológicas. As cidades não param de crescer e é fundamental que nosso conhecimento e dos alunos sejam usados para esse exercício”, comentou Bergan, explicando que a universidade teve a iniciativa de pegar exercícios de disciplina e associar a alguma necessidade real do município. “Foi uma gestão participativa, escutando os agentes do bairro. O foco foi trabalhar complexidades da nossa região. Isso já aconteceu também no bairro Santa Luzia, em Araras. O projeto é muito bom e abre muitas janelas”, declarou.
O pontapé inicial para o trabalho na comunidade do Neylor foi o pórtico com o nome da localidade. Com base no pedido das crianças, o projeto foi pensado para ficar em um dos poços que os moradores e crianças utilizam na entrada na comunidade. Junto ao pórtico, o 'programa de necessidade' também projetou uma praça, incorporada a uma piscina natural, um mirante, jardim filtrante, fossa de evapotranspiração, centro de apoio técnico habitacional, tratamento de três fachadas em casas existentes, um ponto de moto-táxi, esteira rolante para bicicletas com duas estações, um parque ecológico, recuperação do campo de futebol e também um ecoponto. Como premissas básicas estão a manutenção da vegetação existente, traçado orgânico e espontâneo e utilização de passeios robustos, que são espaços de circulação e, ao mesmo tempo, espaços de permanência.
Os alunos também ressaltam a importância da participação em trabalhos como esses, sendo um divisor de águas em sua profissão, levando os futuros arquitetos a uma realidade existente em boa parte do país.
“Pela primeira vez, na faculdade, ao longo de todas as disciplinas já estudadas, essa disciplina chamada Tópicos Especiais em Arquitetura e Urbanismo foi a que me fez me sentir útil para a sociedade. Pois, desta vez, não eram clientes fictícios, eram pessoas reais relatando problemas reais e nós projetamos soluções rentáveis e, principalmente, sustentáveis para essas pessoas. Ter a chance de ver o projeto sair do papel e transformando muitas vidas é emocionante e muito gratificante”, conta a estudante Catarina Pulcherio, de 23 anos.
A estudante do 10º período, Eveline Macedo, 26 anos, também se diz orgulhosa por poder participar da iniciativa: “São crianças que estão sonhando e projetando coisas boas, trabalhar envolvida com eles foi muito rico”.
Para a estudante Sarah Bouhid, de 22 anos, o projeto foi motivador. “É um choque de realidade. Quando estamos na faculdade, estudamos projetos que geralmente não vão sair do papel. Quando entramos na realidade das comunidades e conhecemos as necessidades das pessoas, isso nos faz repensar muitas coisas. É um projeto que pode sair do papel e que vai beneficiar as pessoas, isso nos motiva! É um combustível, é estimulante”, afirmou.
Todos os projetos foram voluntários e focados na participação dos moradores e utilização de materiais reciclados e naturais, já disponíveis na comunidade do Neylor. Os alunos e a coordenadora do projeto Nyumba-Kaya estão trabalhando para que as ideias sejam colocadas em prática com agentes comunitários e outros voluntários.