• ‘Alta de taxa é por 6 meses, disse Guedes’

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  • 03/03/2021 13:03
    Por Adriana Fernandes / Estadão

    O presidente da Febraban, Isaac Sidney, diz que foi acordado na terça-feira, 2, com um telefonema do ministro da Economia, Paulo Guedes, às sete da manhã. Segundo o chefe da instituição que representa os bancos do País, Guedes pediu mais uma “cota de sacrifício”, que é pagar um imposto maior durante seis meses para compensar a perda na arrecadação provocada pela isenção da tributação sobre o diesel e gás de cozinha dada pelo presidente Jair Bolsonaro. Sidney diz que entendeu o pedido, mas avisa: o sacrifício tem de ser temporário e vai ter consequência no encarecimento do crédito para pessoas e empresas no momento de retomada da economia.

    “É possível antever esse aumento de custo no spread bancário”, diz ele ao jornal O Estado de S. Paulo. O spread é a diferença entre o que os bancos pagam para captar e o que eles cobram dos clientes. Aumentar o spread significa que os financiamentos e empréstimos terão um custo maior. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

    Os bancos ficaram surpresos com o aumento do imposto?

    Aumento de tributo é sempre uma surpresa negativa e indesejada. Não sabíamos e não esperávamos.

    A entidade vê risco de a alta permanecer por mais tempo ou até mesmo se perpetuar?

    Logo cedo, por volta das sete horas da manhã de hoje (ontem), o ministro Paulo Guedes me ligou dizendo que se tratava de uma medida estritamente de caráter temporário, mas necessária e que, neste momento, ainda muito crítico, seria mais uma cota de sacrifício. Considerei a iniciativa da ligação do ministro como um importante gesto de deferência ao setor. Ponderei a ele sobre os inconvenientes de mais um aumento de carga tributária, que, neste caso, não alcança apenas os bancos, mas todas as instituições financeiras, inclusive as cooperativas de crédito. Diante do compromisso dele de que o aumento terá vigência por apenas seis meses, confiamos que o Congresso venha referendar o texto da própria medida provisória, que expressamente prevê a nova alíquota vigorando até 31 de dezembro.

    Foi uma retaliação do presidente Bolsonaro ao mercado financeiro e do ministro Paulo Guedes, que já criticou a entidade?

    As razões que motivaram o aumento da CSLL, repito, não apenas para os bancos, estão expressas no texto da medida provisória e foram reafirmadas a mim pelo ministro Paulo Guedes como medida estritamente de caráter temporário, mas necessária.

    Qual é o impacto do aumento de 20% para 25% da alíquota da CSLL?

    Ainda estamos avaliando o impacto da medida, mas levantamento preliminar aponta para algo próximo a R$ 2,1 bilhões no período de vigência da norma. No ano passado, a arrecadação com CSLL foi de R$ 92,7 bilhões. Desse total, R$ 14,2 bilhões foram pagos por entidades financeiras, incluindo bancos e outras instituições do setor. A diferença, ou seja, R$ 78,5 bilhões de CSLL foram pagos pelas demais empresas que são tributadas com alíquota de 9%. Estima-se que um aumento em 5 pontos porcentuais da alíquota para o setor financeiro como um todo produza uma arrecadação adicional de R$ 4,2 bilhões com a CSLL em 2021, ou de R$ 2,1 bilhões para o período de vigência da nova alíquota. Daí é possível antever esse aumento de custo no spread bancário (diferença entre o custo de captação do banco e o que ele cobra do cliente).

    De que forma vai afetar no encarecimento do crédito?

    Qualquer aumento de imposto tem impactos sobre o seu custo final, tanto para o consumidor do bem quanto para o tomador do serviço. Não seria diferente para o custo do crédito. Propostas que aumentam a carga tributária do setor bancário não atingem apenas os bancos. Prejudicam a economia brasileira como um todo, especialmente o tomador de crédito. Isso num momento ainda crítico em que a economia precisa continuar sendo irrigada com crédito, como o total de R$ 3,5 trilhões que o setor bancário concedeu para as empresas e famílias em 2020. Os bancos já pagam uma alíquota maior de CSLL em relação aos demais setores. Eram tributados em 20%, agora em 25%, enquanto as empresas em geral pagam 9%.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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