• Aliança opositora da Venezuela registra candidato provisório após veto a Corina

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  • 26/mar 19:03
    Por Redação, O Estado de S. Paulo / Estadão

    A principal aliança opositora da Venezuela, a Plataforma Unitária Democrática (PUD), conseguiu registrar uma candidatura para as eleições presidenciais de 28 de julho, após denunciar obstáculos no sistema de inscrição, informou nesta terça-feira, 26, a autoridade eleitoral, controlada pelo chavismo. A PUD disse que fez um registro provisório de outro nome, que pode ser substituído após 1º de abril.

    Elvis Amoroso, presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), anunciou o nome de Edmundo González Urrutia na lista de candidatos inscritos e depois o do partido Mesa da União Democrática (MUD), que absorveu a atual Plataforma Unitária Democrática (PUD). Corina Yoris, indicada por María Corina Machado para ser a candidata, ficou de fora sem que até agora tenha sido apresentada alguma explicação.

    A PUD disse que registrou provisoriamente Edmundo González Urrutia dada a “clara impossibilidade” de nomear Corina Yoris. Por meio da rede social X (antigo Twitter), a oposição disse que tomou essa decisão para se manter dentro da rota eleitoral.

    “Decidimos registrar provisoriamente o presidente do conselho do partido Mesa da União Democrática, o cidadão Edmundo González Urrutia, a fim de preservar o exercício dos direitos políticos que correspondem à nossa organização política até que possamos registrar nossa candidatura unida”, disse.

    González Urrutia poderá ser substituído a partir de 1º de abril, desde que não tenha nenhuma sanção administrativa ou impedimento previsto em lei, e que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) admita a candidatura que o substitua.

    Na madrugada desta terça, a oposição denunciou que as autoridades eleitorais não permitiram o registro da candidatura de Corina Yoris, negando-lhe acesso ao sistema de inscrição.

    O prazo para inscrição havia iniciado na quinta-feira, 21, e acabou às 23h59 de segunda-feira, 25. As candidaturas deveriam ser feitas em um site do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). A Plataforma Unitária exigiu que o prazo fosse estendido, mas o presidente do CNE havia descartado os pedidos iniciais de prorrogação.

    Mas na tarde desta terça, a PUD informou que conseguiu registrar o novo nome depois que o órgão eleitoral lhe concedeu um novo período de horas para realizar o processo, sem esclarecer quantas,

    Desde que foi confirmado o dia 28 de julho como data das eleições – mesmo dia do aniversário de Hugo Chávez – a oposição vinha denunciando o apertado prazo para inscrições. Especialmente considerando que a oposição teria de decidir até lá um nome para substituir Corina Machado, inabilitada de concorrer a cargos públicos por 15 anos. A homônima Corina Yoris foi anunciada na sexta-feira, 22.

    Crítica do Brasil

    Por causa do impedimento de Corina Yoris, o ministério das Relações Exteriores criticou a ditadura de Nicolás Maduro. “Com base nas informações disponíveis, observa que a candidata indicada pela Plataforma Unitaria, força política de oposição, e sobre a qual não pairavam decisões judiciais, foi impedida de registrar-se, o que não é compatível com os acordos de Barbados. O impedimento não foi, até o momento, objeto de qualquer explicação oficial”, disse a chancelaria, em nota.

    O comunicado, no entanto, ressalta que o Planalto é contra a retomada de sanções à Venezuela, como sinalizado no começo do ano por autoridades americanas.

    É a primeira vez desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o governo critica abertamente a ditadura chavista.

    Conforme antecipou a Coluna do Estadão, o Planalto estava irritado com a posição chavista. No ano passado, Maduro e a oposição assinaram um acordo, com apoio do Brasil, dos Estados Unidos e da União Europeia, que previa eleições livres e justas na Venezuela.

    Apesar do acordo, Maduro inabilitou María Corina Machado, a principal líder da oposição na disputa. A decisão provocou críticas de americanos e europeus. A diplomacia brasileira, no entanto, avaliou na ocasião que era necessário esperar o desenrolar das movimentações políticas na Venezuela.

    Em nota, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, repudiou a declaração do Itamaraty sobre as eleições e disse que o comunicado parecia “ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos EUA, onde são emitidos comentários carregados de profundo desconhecimento e ignorância sobre a realidade política na Venezuela”.

    A chancelaria cita nominalmente Lula. “O governo bolivariano agradece as manifestações de solidariedade do presidente Lula da Silva, que de maneira direta e sem ambiguidades condenou o bloqueio criminoso e as sanções impostas de forma ilegal pelo governo dos Estados Unidos”, diz o texto.

    Outro candidato

    O governador do estado venezuelano de Zulia, o opositor Manuel Rosales, disse nesta terça-feira que apresentou sua candidatura para as eleições para preencher o vácuo depois que a PUD não conseguiu registrar a historiadora Corina Yoris. Rosales, que é ex-adversário de Hugo Chávez, registrou seu nome no último minuto e vai concorrer sem o apoio expresso de Corina Machado, essencial para ter chances de vitória

    “Estive na PUD o tempo todo, fomos promotores das eleições primárias, apoiamos os resultados, apoiamos María Corina Machado”, disse Rosales em entrevista coletiva. No entanto, ele disse que não poderia “fechar a porta” para os venezuelanos e deixá-los sem escolha.

    Corina Machado ratificou que permanecerá na corrida eleitoral, sem explicar como fará isso, dada a impossibilidade de registrar sua candidatura dentro do prazo estabelecido pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Em relação à candidatura de Rosales, a ex-deputada evitou responder e insistiu em várias ocasiões que sua candidata e a da PUD ainda é Corina Yoris, apesar de ela não ter conseguido se registrar no sistema do CNE.

    Este é o melhor cenário para Nicolás Maduro, que disputará um terceiro mandato de seis anos em meio a baixíssimos índices de popularidade.

    “Maduro sabe que perde para qualquer candidato da oposição que consiga a unidade e eleve o espírito de participação cidadã”, explicou à AFP o analista político Yoel Lugo. “O pior cenário para a oposição é manter o tom de tensão interna […] aliado à divisão e desmoralização do voto”.

    Além de Maduro e Rosales, candidatou-se o ex-reitor eleitoral Enrique Márquez, que foi membro da PUD, mas agora se autodenomina independente, junto com outros nove candidatos que se apresentam como antichavistas, embora sejam rotulados pela oposição tradicional como “escorpiões”, termo usado na Venezuela para denominar “colaboracionistas” do partido no poder.

    O CNE tem agora a última palavra após os prazos para as impugnações. A entidade deve aprovar as candidaturas e Elvis Amoroso, seu presidente, anunciou que será comunicado o balanço das candidaturas recebidas. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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