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  • 09/09/2023 08:00
    Por Afonso Vaz

    Oito de setembro de mil novecentos e cinco, nasceu na cidade de Oliveira, Minas Gerais, Osmar de Guedes Vaz, funcionário público federal, jornalista, poeta e trovador, tendo seguido a trajetória do pai, também funcionário federal, jornalista e poeta.

    Seus estudos, inicialmente, foram levados a efeito na cidade de Oliveira e mais tarde passando a frequentar o tradicional Ginásio Santo Antônio, na cidade de São João Del Rei, onde viveu durante a infância e adolescência. Todavia, a ausência do pai marcou-lhe de forma a nunca esquecer acerca de sua perda, já que o falecimento ocorreu precocemente quando ele e os irmãos eram crianças.

    Em decorrência, a vida da família quedou difícil de ser levada adiante.

    Só mesmo o sacrifício e a luta encetada por parte da mãe fizeram com que os grandes obstáculos pudessem ser ultrapassados.

    Transcorridos os anos, escreveu o poeta:

    Inda menino, quando a vida é pura\ quando ela tem o seu melhor encanto,\ eu já sofria o meu primeiro pranto,\ com a morte do meu pai, tão prematura.\ E, assim, tangido pela desventura,\ cheguei à adolescência, sem, no entanto,\ ter suavizada a sorte má, que tanto\ me perseguia, impiedosa e dura.\ E de tal forma com a adversidade\ me confundi, que se a felicidade\ passou em meu caminho, eu não a vi;\ nem sequer a senti, tanto que agora,\ já no ocaso da vida, me devora\ a saudade do tempo em que sofri!

    Relembrando a figura do pai, escreveu em “Cantigas que fiz na serra”.

    “Órfão de pai,imaturo,

    Que cedo, à luta, se vai,

    É o que dirá, já maduro:

    Como fez falta meu pai”.

    Ainda moço decidiu trabalhar no Município de Valença, Estado do Rio de Janeiro, num patronato que acolhia crianças e rapazes pobres e desamparados e lá, como um perfeito autodidata, inteligente e perspicaz, ensinou-lhes o que já muito aprendera na “Escola da Vida”, como assim sempre afirmava.

    E foi essa escola que realmente fez com que viessea alçar mais tarde, não só na esfera literária, mas também na vida profissional, altos cargos no âmbito do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, onde começou sua labuta em 1936, terminada em 1972.

    Desde a infância rabiscara os seus primeiros versos até por questão de hereditariedade, eis que aos doze anos, em São João Del Rei, no primeiro ano ginasial, já dirigira um jornal denominado O SHOOT, manuscrito em parceria com um colega que acabara por ingressar no glorioso Exército Nacional.

    Seguiu-se também logo após, outro Jornal, já impresso – O GRITO, todavia de duração efêmera.

    Sua vida literária foi expressiva mantendo por longos anos a função de redator do Jornal “O Rodoviário”.

    Humorista, muito colaborou também por longo período publicando sonetos, trovas e crônicas – a exemplo do Jornal de Petrópolis, Tribuna de Petrópolis, Jornal do Povo e Diário de Petrópolis.

    Autor de cinco obras, figura nas antologias “Meus irmãos os Trovadores”, “Trovadores do Brasil”, “Nossos poetas”, “Andanças Poéticas”, “Poetas Petropolitanos, uma Saudade” e “As mais belas poesias petropolitanas de amor”.

    Em Belo Horizonte, na revista “Terra Mineira” e em Valença, no estado do Rio de Janeiro, no jornal “A Palmatória”.

    Em Petrópolis, na “Pequena Ilustração”, sempre prestando merecidos elogios ao dileto amigo, o jornalista Hilton Martins, profissional dos mais competentes à época e filho do ilustre, também Jornalista, Armando Martins.

    Exímio trovador, sempre afirmava: “a trova não é fácil de ser feita, pelo contrário, porquanto o poder de síntese não é dado a qualquer pessoa e na trova prepondera, justamente, esse fator”. Por tudo que fez, pela vida reta que trilhou desde moço, foi alçado em 1º de junho de 1946, pelo então diretor-geral do DNER, engenheiro Francisco Saturnino Braga, ao cargo de chefe da Diretoria de Comunicações daquela autarquia, e noutro ensejo teve a honra de servir ao Engenheiro Jacinto Xavier Martins Júnior, na condição de Chefe da Secretaria do Gabinete do Diretor Geral.

    O procurador Álvaro Teixeira de Assunção, em “Um amigo que não é esquecido”, que integra o livro “Vida e obra do poeta Osmar de Guedes Vaz”, de minha autoria, assim se pronunciou acerca do poeta e funcionário público:

    “Dos antigos funcionários do DNER, se destacava pela assiduidade, competência, enfim pela perfeita noção do cumprimento do dever, sendo de uma honradez doentia. Apesar de tudo sempre amável, educado e ainda tendo tempo nas suas raras horas de lazer para fazer para fazer poesia.

    Nomeado Tesoureiro, logo após se tornou o Tesoureiro-Geral da autarquia.

    E completa o amigo: “E não podia deixar de sê-lo, pois era dessas raríssimas pessoas a quem se podia confiar a guarda de ouro em pó”.

    Também, a respeito dessa figura inesquecível, escreveu o seu amigo e poeta Francisco Carauta de Souza, em 12 de março de 1965, em Perfis Petropolitanos nº 159, o poema abaixo:

    “Poeta sonhador (como eu também),\ sem ter no entanto cabeleireiro ao vento,\ maneja as trovas e sonetos tem\ no estilo de apurado sentimento.\ Gosta da SPAC e sei que à SPAC vem\ dar um prazer de social momento\ quando a DER lhe permite bem\ ou não está sob ação do esquecimento.\ Sua paródia recita com tal graça\ e os clássicos revolve na devassa\ para dar-nos um luso de tamancos.\ Tem volume de versos tão diversos\ e outros sonetos tem então dispersos\ nos bolsos de seus ternos sempre brancos”.

    Vale relembrar, ainda, o ilustre professor, poeta, acadêmico e historiador Paulo César dos Santos, por ocasião do lançamento do livro “Pai e filho na mesma trilha”, de minha autoria, quando se manifesta: “… concluindo estes simples comentários, é importante salientar que a inspiração de Osmar de Guedes Vaz era espontânea e intensa. Para ele, aplica-se a máxima do célebre poeta francês Alfredo de Musset: A poesia está na alma, como o rouxinol nas ramagens”. Em 1962 assumiu a cadeira nº 28 da Academia Petropolitana de Letras, sob o patronato de Castro Alves, “levado aquele sodalício por unanimidade de votos, cousa singular, digna de registro”, conforme assinalou o ilustre médico e acadêmico Jorge Ferreira Machado na Revista nº 2, do mês de agosto de 1962.

    O poeta faleceu em dezessete de junho de mil novecentos e oitenta e nove, mas já nos legara, em 1977 o seguinte poema:

    No Epílogo da Vida

    Jamais tive receio de morrer,

    nada a respeito desse triste evento,

    já que entendo não ter por que temê-lo,

    me preocupa, intimida ou martiriza:

    Não me importa, também, meu pensamento,

    para muitos, terrível pesadelo,

    e que, um dia, na certa, há de ocorrer,

    nem de longe, afinal, do extremo instante,

    o irreversível acontecimento,

    que já não me parece tão distante.

    Tenho, porém, horror ao sofrimento,

    que, embora, sem razão pra merecê-lo,

    pode estar, entre nós, sempre presente,

    Nessa fase sombria, e algo imprecisa,

    que precede, de forma rotineira,

    o epílogo da vida, quando a gente

    na penumbra de um quarto, e que divisa,

    sob uma baça luz, bruxoleante,

    quase a se extinguir: o espectro  da morte,

    num estranho e funéreo parâmetro,

    que lhe envolve a figura sorrateira.

    Por isso, eu peço a Deus a boa sorte

    de permitir a mim, em tal momento,

    um doce e calmo fim, sem alarido.

    Sem que haja desespero, um só gemido,

    meu coração batendo ainda, no peito,

    alegre, venturoso, satisfeito,

    pela certeza do dever cumprido.

    Porquanto, o meu desejo mais ardente

    é, um dia, morrer, suavemente,

    tranquilo, sem remorsos, de mansinho,

    assim, como se fosse um passarinho.

    Petrópolis – Dezembro de 1977.

    Oito de setembro do mês corrente, data do aniversário.

    Dezessete de junho de mil novecentos e oitenta e nove, do seu falecimento.

    Faço relembrá-las com um misto de vários sentimentos, destacando-se o profundo amor e carinho, mas, sobretudo, eternas saudades!

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