Afinal, fantasmas existem?
Toda a controvérsia, acredite quem quiser, decorreu a respeito da suposta aparição de um fantasma.
A praça principal da cidade, apinhada de pessoas; o assunto a predominar naquela manhã, o tal fantasma, já que alguém houvera escutado, no apartamento vizinho, na noite anterior, a voz de um homem, em tom elevado, o qual teria se deparado com uma dessas “figuras misteriosas”.
A praça, como toda cidade do interior, tomada por mais de uma centena de pessoas na maioria aposentados, que para a mesma se dirigem, diariamente, com objetivo de se inteirarem das “notícias” locais e também “jogar conversa fora”, o que muitos não deixam de fazer.
Entretanto, naquela manhã, o centro das conversas ficou reservado a somente dois assuntos a serem comentados: a pessoa de Dª Clarinda e a “figura” de um fantasma.
A notícia trazida a todos por um tal Severino – solteirão, fofoqueiro e querendo “matar a tiros” quem inventara o trabalho – estourou como uma bomba e logo em seguida a balbúrdia veio a se dar, eis que no meio da praça o mesmo asseverava aos gritos: “Dª Clarinda viu um fantasma!”.
Dª Clarinda, do alto de seus noventa e oito anos vivendo em modesto apartamento, juntamente com a filha Lurdes, que não se casara. A mãe tratada com carinho e muito amor pela filha, que nunca lhe deixara nada faltar, sustentando a casa com os “elevados estipêndios” recebidos na condição de professora aposentada e vez por outra contando com o apoio financeiro de um irmão, melhor situado na vida.
E o “bafafá” continuou até o cair da noite já que toda discussão começara na parte da manhã por conta do lerdo Severino, que fez “correr a notícia” de que Dª Clarinda garantira à filha ter ouvido, que o Sr. Garcez, músico e vizinho da idosa, quase à meia noite, “gritava” em razão do fantasma que vira.
A maioria dos que acorreram à praça afirmando que a idosa, já caduca, estava na verdade delirando ou tendo tido um pesadelo. Outros, mais rudes, a acusavam de que em face da idade avançada estaria acometida mesmo de demência.
Pobre idosa, deve ter permanecido no decorrer do dia com as “orelhas vermelhas” vez que seu nome correu de “boca em boca”, sem dó nem piedade.
A filha Lurdes, entretanto, nada vira, apenas escutara, em tom baixo, em razão do adiantado da hora, dois esplêndidos artistas – Freddie Mercury e Montserrat Caballé – a interpretarem “O Fantasma da Ópera”, versão crível da filha.
Contudo, a idosa, por outro lado, quase surda afirmando que escutara sim, quando o vizinho, músico, gritou, em determinado momento: “Oh, o fantasma!”. Certamente não teria conseguido ouvir o resto do que fora dito, “da ópera”.
Daí ter resultado a tremenda confusão que levou a idosa a desconfiar da aparição do mesmo no apartamento contíguo, por ela já considerado mal assombrado.
Ainda na praça, a discussão continuava só tendo terminado no final da tarde após descer um temporal fazendo com que todos corressem em direção às suas casas, sem esquecerem do tema principal: o fantasma.
Durante à noite, um gaiato – e todos a desconfiar do calhorda Severino – abrigado com um lençol branco, saiu pela rua tentando amedrontar as pessoas e quase acabou sendo levado para o “chilindró”, por razões óbvias.
Pena que não foi!
Mas o “lero lero” ainda não tivera fim, porquanto muitos indagavam: “Afinal, fantasmas existem?”