Afeganistão declara toque de recolher para evitar infiltração do Taleban
As autoridades afegãs, que enfrentam há dois meses uma grande ofensiva da milícia radical Taleban, decretaram neste sábado, 24, um toque de recolher noturno em todo o país, exceto em três províncias, uma delas Cabul. Fontes do governo afegão disseram que o objetivo é tentar evitar a infiltração dos membros da milícia nas zonas urbanas, após um aumento sem precedentes da violência dos insurgentes no país.
“Para conter a violência e limitar os movimentos dos taleban, um toque de recolher foi decretado em 31 províncias”, anunciou o ministério do Interior em um comunicado, especificando que apenas as regiões de Cabul, Panjshir (nordeste) e Nangarhar (leste) não serão afetadas. O porta-voz adjunto do ministério, Ahmad Zia Zia, disse a repórteres que o toque de recolher estará em vigor entre 22h e 4h, mas não especificou por quanto tempo.
O Taleban lançou uma ofensiva contra as forças afegãs no início de maio, coincidindo com a retirada final das forças estrangeiras do Afeganistão, agora quase completa. Nos últimos dois meses, a maioria dos 9,5 mil soldados estrangeiros deixou o país.
O Taleban assumiu o controle de grandes áreas rurais do Afeganistão e vários postos nas fronteiras com o Irã, Turcomenistão, Tajiquistão e Paquistão. Até agora, as forças afegãs ofereceram pouca resistência e controlam apenas as estradas principais, assim como as capitais provinciais.
Depois de três dias de relativa calma por ocasião do Eid al-Adha, o feriado muçulmano do Sacrifício, as autoridades afegãs anunciaram na sexta-feira o lançamento de várias operações militares em cerca de 15 províncias, com o objetivo de tentar recuperar terreno. Segundo a agência France Presse, houve operações do Exército na Província de Kunduz, no norte, neste sábado.
O Ministério da Defesa anunciou na sexta que o Exército havia reconquistado um importante distrito na Província de Herat, no oeste, perto da fronteira com o Irã.
Os Estados Unidos, cuja retirada de tropas foi 95% concluída, segundo o chefe do Estado-Maior do Exército, confirmaram que forneceram apoio aéreo às forças afegãs. “Continuamos com os ataques em apoio às forças afegãs”, disse o porta-voz do Departamento de Defesa americano, John Kirby, sem especificar, porém, onde ou quando.
O Taleban chamou as ações dos EUA de “ataques bárbaros” e denunciou o tom marcial do presidente afegão, Ashraf Ghani, que anunciou grandes operações nos próximos seis meses.
“Durante esse período de seis meses, a responsabilidade por qualquer ação militar será dos líderes do governo de Cabul. Os combatentes (taleban) defenderão ferozmente seus territórios e não permanecerão em uma posição defensiva se o inimigo insistir em fazer a guerra”, alertou Zabihullah Mujahid, um porta-voz do Taleban.
Este porta-voz negou, porém, as acusações do governo de atrocidades cometidas por insurgentes contra civis no distrito de Spin Boldak, na fronteira com o Paquistão. “Negamos categoricamente essa propaganda. Depois que os combatentes (taleban) capturaram o distrito de Spin Boldak, ninguém foi ferido ou maltratado”, disse.
Desde que Washington anunciou em 2020 a retirada definitiva das tropas estrangeiras, os taleban têm procurado apresentar uma imagem mais moderada, principalmente no exterior, e se dizem partidários de um acordo político para encerrar o conflito. No entanto, as negociações entre o governo e os insurgentes, que começaram em Doha em setembro, estão estagnadas e em 18 de julho outra rodada terminou sem sucesso.
O toque de recolher noturno era uma medida comum nas principais cidades durante o governo afegão apoiado pelos soviéticos na década de 80, mas esta é a primeira vez nas últimas duas décadas que Cabul declara tal restrição. (Com agências internacionais).