• Adulação

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  • 20/12/2017 12:46

    Uma afirmativa do dramaturgo Dênis Fonvizi, que encontrei em caderno de passatempos, chamou minha atenção pela curta e completa definição do ser adulador: “O adulador é um ser que não tem estima nem pelos outros, nem por si mesmo. Aspira apenas a cegar a inteligência do homem, para depois fazer dele o que quiser”.

    Não satisfeito pela concisão do dramaturgo, fui ao Aurélio e vi, por lá, o verbo adular: “lisonjear servilmente, bajular, incensar, sabujar”.

    Fiquei senhor da plena característica desse abominável ser, diante do “lisonjear servilmente”. Perfeita colocação que se encaixa adequadamente na postura dos ombros entortados do bajulador, na atitude da cabeça tombada, olhar melífluo, caminhar silencioso e ofídico na saliência das curvas que desenvolve em rastejar sinuoso e imprevisível. Cheio de dedos, distante de fortes mãos, cumprimentando pelas pontas das unhas, o bajulador cicia, balbucia, enquanto enleia-se em circunlóquios, desfilando doçuras sob terminologia adocicada de elogios, na criação de imagens que elevam sentimentos e despertam desejos e sonhos escondidos nas fímbrias dos tecidos bordados com as agulhas mágicas de um sentimento profundo.

    Os verbos, que em seguida, definem o bajulador: incensar e sabujar, são perfeitos na compreensão do tipo que enleia-se nas multidões em etéreas passagens onde não cabem os impropérios ou as desavenças, senão o flutuo de pontas bailarinas rodopiando palcos de sonhos e quimeras. O sabujador tem o cântico dos batráquios para atrair, com sua língua, os incautos insetos que voejam pelo seu lago coberto por parasitas.

    E perfeita a observação do citado dramaturgo, quando afirma ser o bajulador desprovido de estima aos circunstantes humanos porque seu objetivo máxime é dominar; e, também, por ser desprovido de autoestima, transforma sua vivência em jogo no tabuleiro do xadrez da vida, onde ele move as peças na aspiração de tornar-se centro e razão diante da comunidade onde rasteja.

    Dentro do meu feitio de ser, não aprecio o bajulador, a bajulação doentia, por compreender que a vida só faz sentido se toda ajuda e ação em favor do próximo é ditada pelo desejo de compartilhar o conhecimento, as realizações de toda sorte com aqueles seus amigos, e mesmo desconhecidos, sempre que solicitado. Nunca, por aceitar os exageros da bajulação que envergonham o agente da investida mas que fazem sentido pleno na doentia cabeça do bajulador,

    Esse tipo humano só objetiva a si mesmo e não mede salamaleques e conluios nas sombras, para afagar e dourar seu imenso ego, circulando pelos salões da vida elogiando os canapés, as vestimentas, os penteados, enaltecendo belezas em feiuras, desde que tanta lisonja sirva aos seus objetivos egocêntricos.

    Apareceu, servido e atendido, o bajulador abandona a quem o tenha suportado e busca novos espaços para continuar seu reptício rastejar em torno das vaidades de todos.

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