• Acrefi/Tingas: BC indica que momento não é para discutir taxa nominal, mas manejo de expectativas

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  • 17/06/2022 19:34
    Por Francisco Carlos de Assis / Estadão

    A inclusão da inflação de 2024 no comunicado do Copom, que certamente será replicada na ata e nas demais comunicações futuras do Banco Central (BC), é uma forma de a autoridade monetária tentar mostrar que o momento não é mais para se discutir taxa nominal e, sim, o manejo das expectativas. Essa é a avaliação do economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas, que também já comandou no Brasil a economia do Citibank.

    Também não é, ou pelo menos não deveria ser, pretexto para alguma eventual suspeita sobre um suposto abandono da meta de inflação pela autarquia, previne Tingas. O economista fez esta observação ao ser perguntado pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, se via algum sentido numa avaliação segundo a qual, ao incluir a inflação de 2024 no seu cenário, o BC não estaria sinalizando que a puxada da inflação de 2023 para o centro da meta é um ponto que estaria saindo fora do radar dele.

    “Faz sentido, mas eu faria a leitura dessa hipótese da seguinte forma: os bancos centrais no mundo sabem que essa inflação, causada pela desorganização das cadeias produtivas pela pandemia e agravada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, é complicada que só se resolverá no longo prazo”, disse Tingas.

    Além disso, segundo o economista da Acrefi, os efeitos deletérios da pandemia e da guerra sobre a economia encontraram o caminho pavimentado por uma estratégia americana e europeia de admitir por muito tempo suas respectivas taxas de juros baixas para acomodar uma inflação um pouco mais alta em troca de um crescimento um pouco melhor.

    “Agora, os bancos centrais dos EUA e da Europa estão tentando derrubar aquela inflação que entendiam ser benéfica para suas economias de baixo crescimento e estão elevando juros para derrubá-la. Aqui no Brasil o BC está no mesmo caminho, subindo a Selic para ver se controla a demanda e o desequilíbrio dos preços. Mas entenderam que essa inflação é um problema que não tem solução no curto prazo”, analisou Tingas.

    E, neste cenário, de acordo com o economista, o BC vai trabalhando para tentar conter os efeitos secundários que essa inflação exerce sobre a economia. O primeiro objetivo dos bancos centrais pelo mundo, inclusive o brasileiro, segundo Tingas, é buscar administrar as expectativas de inflação, e mostrar que não estão passivos diante do quadro inflacionário. O segundo é mostrar para os agentes do mercado que suas políticas estão no caminho certo, de fazer com que as expectativas caminhem para uma convergência de longo prazo.

    “Agora a demanda até deve começar a cair, mas a convergência da inflação se dará lentamente. Então não é que o BC está dizendo que está abandonando a meta de 2023. Até porque, estamos ainda em junho e essa meta tem um ano e meio para ser cumprida. Ele sinaliza com 2024 porque sabe que o processo é longo”, disse o economista da Acrefi.

    Ele chama a atenção também para o fato de a Selic hoje, em 13,25% ao ano, estar nominalmente maior que a inflação acumulada em 12 meses, bem ao contrário que se via em no segundo semestre do ano passado. Hoje, nominalmente, a Selic esta 1,52 ponto porcentual acima da inflação de 11,7% acumulada nos 12 meses encerrados em maio. No segundo semestre de 2021, a Selic era, nominalmente, 4 pontos abaixo da inflação.

    “Então, o que quero dizer é que o BC mudou a mão quando começou a subir juro, saiu detrás da curva e alinhou a Selic à inflação. Só está sinalizando com mais 0,25 ou 0,50 ponto porcentual porque sabe que o processo de convergência é longo e precisa gerenciar as expectativas”, disse Tingas.

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