Acervo César Nunes: joia da memória da cultura audiovisual esquecida em garagem

Esquecido em uma garagem de uma casa no Valparaíso, o acervo do jornalista César Nunes pede socorro! Os mais de 1.800 filmes, sendo 540 de Petrópolis, preservam a memória do Estado Rio de Janeiro e também da Cidade Imperial. O acervo sobrevive graças ao amor da família do jornalista que tenta manter vivo o sonho de César Nunes. O acervo cobre os anos de 1950 a 1980 e precisa ser catalogado e armazenado de forma adequada. Atualmente o material está sob os cuidados do neto Márcio Nunes.

“Guardar esse material e não deixar se deteriorar é um trabalho cansativo, mas que me deixa cada vez mais próximo do meu pai Paulo Nunes (filho de César Nunes) pois ele sempre quis preservar os filmes aqui na cidade para pesquisa educacional e cultural para toda a comunidade petropolitana”, disse Márcio Nunes. “Ainda tem duas estantes de filmes que não faço ideia do que tem, por isso a importância de catalogar”, acrescentou.

Ao longo desses anos, várias iniciativas foram criadas para preservar o acervo, mas esbarraram na falta do interesse de patrocinadores. Entre elas está um projeto aprovado pelo Ministério da Cultura chamado Memória em Película. A iniciativa previa a criação de um site com os filmes digitalizados e de um livro – um investimento de R$ 253 mil.

O Memória em Película foi lançado há dois anos e até hoje ninguém se interessou em patrocinar. As captações de recursos terminam em dezembro desse ano e, caso não haja patrocinadores, o governo federal encerra o projeto.

Outra iniciativa de preservar o acervo partiu do vereador Yuri Moura (PSOL), que fez uma indicação legislativa para que a Prefeitura faça a catalogação de todo o material e o transfira para um local adequado. A indicação deve ser colocada em votação ainda essa semana na Câmara Municipal. “O ojetivo é colaborar nessa articulação política e com essa indicação poder trazer o IMCE e o Centro de Cultura para fazer a listagem e catalogação. Sabemos que o Márcio vem fazendo o possível para manter o acervo preservado, mas sabemos o quanto isso é impossível em lugar sem recursos tecnológicos e com os cuidados necessários”, comentou o vereador.

Yuri destaca que o acervo é a construção da memória da cidade, contando com acontecimentos políticos importantes, além do desenvolvimento econômico. “O acervo mostra as alterações nas ruas e préidos, a vinda da modernidade na cidade. É um material rico de história e que precisa estar disponível para pesquisas, para os estudantes e para o povo em geral”, destacou o vereador.

Márcio acredita que com a indicação do vereador Yuri Moura é possível criar uma sala de acervo audiovisual na cidade, cadastrar profissionais da área, criar um banco de projetos, cadastrar empresas patrocinadoras e explicar sobre as leis de incentivos. “Enfim, podemos utilizar esses filmes de várias maneiras. Hoje a garagem está com mofo, vazamento, infiltração, fiação exposta então a minha expectativa é conseguir um local para que esses nossos filmes sejam preservados”, comentou Márcio.

Enquanto não há patrocinados e o acervo permanece na garagem, Mário Nunes encontrou outra forma de arrecadar recursos. Na semana passada ele lançou uma campanha para angariar R$ 65 mil. O dinheiro será usado para reforma dos equipamentos e catalogação. “Na quinta-feira lancei no site essa campanha e já tivemos algumas doações. O espaço aqui está com muito mofo, infiltrações e alguns materiais podem ser perdidos”, lamentou Márcio. As doações podem ser feitas pelo site https://www.acervocesarnunes.com.br/ ou pelo e-mail paulolobodemoraes@gmail.com. A partir de R$ 7 já possível fazer a doação.

O Acervo César Nunes

O acervo da Produções César Nunes registra as atividades de diversos governos fluminenses do desembarque do governador eleito do Rio Ernani do Amaral Peixoto no Aeroporto do Galeão até a posse no Palácio Guanabara, já sede do governo estadual, do ex-prefeito de Niterói Wellington Moreira Franco, em 1987. Há também a posse do presidente Castelo Branco e o retorno de Leonel Brizola do exílio.

De Petrópolis, as lentes do jornalista captaram Garrincha e Elza Soares num restaurante da cidade, a corrida de carros na Rua do Imperador e imagens do presidente Emílio Garrastazú Médici na Catedral São Pedro de Alcântara. Todo o material é narrado por Cid Moreira.

Com uma câmera e a bordo de uma kombi, César Nunes produzia o “Revista da Tela” – um cine jornal com edições semanais com notícias da capital do Estado, de Petrópolis e de outras cidades fluminenses. O jornalista morreu em 1990.