• A voz da natureza

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  • 28/05/2018 12:50

    Do que se respira, do que se bebe, do que se come, a natureza participa. Preservá-la é um gesto de gratidão. Mas é preciso dizer que ela fala por si. A relação de causa e consequência é bem definida quando se trata das ações do homem contra o ambiente natural. O desmatamento, a poluição, as produções de gases tóxicos têm reflexos imediatos sobre os que habitam este planeta.

    Já está provado que a Natureza tem um poder de autorrecuperação. Basta o homem não mais agredi-la que, ao longo dos anos, ela se renova. Fato este que constata o ciclo do dinamismo que há no Universo. E aqui uso os versos do poeta Augusto dos Anjos para expressar o que penso:

    “Sabes que é Deus?! Esse infinito e santo/ Ser que preside e rege os outros seres,/Que os encantos e a força dos poderes/ Reúne tudo em si, num só encanto?/ Esse mistério eterno e sacrossanto,/ Essa sublime adoração do crente,/Esse manto de amor doce e clemente/ Que lava as dores e que enxuga o pranto?!/ Ah! Se queres saber a sua grandeza,/Estende o teu olhar à Natureza,/ Fita a cúp’la do Céu santa e infinita!/Deus é o templo do Bem. Na altura Imensa,/ O amor é a hóstia que bendiz a Crença,/ama, pois, crê em Deus, e… sê bendita!”

    A Natureza é mais uma das criações perfeitas de Deus. É um equívoco achar que tudo veio do acaso. Nós, seres mortais, precisamos entender que não temos como mensurar a infinitude, nem como dimensionar a Inteligência Suprema do Criador. Mas temos a oportunidade de contemplar gratuidade a Criação como fala Carlos Drummond de Andrade em “A Flor e a Náusea”: 

     “Uma flor nasceu na rua!/ Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego./ Uma flor ainda desbotada/ ilude a polícia, rompe o asfalto./ Façam completo silêncio, paralisem os negócios,/ garanto que uma flor nasceu.”

    A flor é uma das obras que revela a efemeridade da vida, mas também expõe a sutileza do Perfeito Ser, que está além das marcas do tempo. Os passos pela humildade levam ao reconhecimento do Senhor da Eternidade. A morte, a todo instante, mantém um espelho de frente para a realidade: o ontem, o hoje e o amanhã são vistos pelas nossas ações…

     Por várias razões, aceitei o convite para falar da “Voz da Natureza em Prosa e Verso” na Academia Brasileira Ambientalista de Letras, na próxima terça-feira, dia 29, às 18:00 horas na Casa de Cláudio de Souza, que fica na Praça da Liberdade, 247: primeiro, por reconhecer que a Natureza é uma obra divina, segundo, por estabelecer uma aproximação entre os sodalícios que atuam na referida Casa, administrada pelo Museu Imperial, que sempre mantém as portas abertas para as atividades culturais; e terceiro, por defender a ideia de que a luta pela preservação da Natureza perpassa pela criação de um movimento de resistência sem pátria, mas que começa na porta da nossa casa, mantendo-a limpa.

    A Natureza não é apenas um cenário nas obras literárias. É preciso enxergar também a força que ela exerce, em legítima defesa, nas manifestações artísticas, em atitudes de autopreservação.  Por intermédio da sensibilidade e percepção dos artistas, ela apresenta a sua resistência. 

    Os fenômenos naturais devem ser vistos como parte de uma linguagem que precisa ser entendida como alerta em favor da vida. Por isso, precisamos refletir não somente pelas previsões meteorológicas, mas também em função do respeito que precisa ser mantido em relação aos outros viventes deste planeta. A prepotência do animal humano é que o limita. A vida é mais simples desarmada, porque assim o amor é mais latente.

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