A visita de Macron e os olhos da Otan na Amazônia
A visita do Presidente francês, Emmanuel Macron, ao Brasil e à Amazônia brasileira revestiu-se de significado que ultrapassa as relações de amizade construídas entre o Brasil e a França ao longo da história.
A Amazônia ocupa o salão principal no concerto das nações quando o tema é o meio ambiente e a preocupação às mudanças climáticas, agenda da conferência da ONU, a COP-30, marcada para 2025 em Belém do Pará.
Há notícias de que a França pretende integrar a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) via a Guiana Francesa, o seu departamento de ultramar. A OTCA reúne os oito países sul-americanos com presença na Amazônia.
O Brasil e a França mantêm uma antiga e extensa agenda de cooperação em todos os domínios das relações internacionais. José Bonifácio de Andrade Silva, o Patriarca da Independência, frequentou a Academia de Ciências da França e conviveu com Lavoisier. O Imperador Dom Pedro II, interessado em ciências, mantinha correspondência com Louis Pasteur e era admirador do país que escolheu para viver no exílio.
O Brasil mantém com a França o mais ambicioso programa de cooperação militar, o Prosub, voltado para o desenvolvimento de submarinos e transferência de tecnologia para a fabricação de embarcações militares.
Mas a convivência entre os dois países guarda também contenciosos importantes como o que envolveu, no século XVIII, a pretensão francesa a uma extensa área dos atuais estados do Amapá e do Pará, o que levou o Imperador Dom Pedro II a declarar esta parte do território em litígio, à espera de uma arbitragem que decidisse a questão. A decisão só veio em 1900, quando o Presidente suíço Walter Hauser arbitrou o conflito e divulgou seu laudo de 800 páginas dando integral ganho de causa ao Brasil e negando a pretensão francesa de se apossar de aproximadamente 500 mil km² de nosso território.
A Guiana Francesa são os dois olhos da Otan espiando de dentro a Amazônia brasileira. Cabe destacar ainda que a Guiana Francesa é guarnecida por um regimento de infantaria da Legião Estrangeira, braço militar do império colonial francês desde o século XIX.
Aceitar, portanto, a presença da França na OTCA, seria incorporar a OTAN a esse tratado de países sul-americanos, com todas as possíveis consequências desse ato.
O Brasil deve tratar a França como um país amigo, e deve receber como amigos os seus governantes, desde que, como recomenda a boa tradição diplomática, haja reciprocidade no tratamento. Não é o que aconteceu na visita do Presidente Macron, que além de pretender integrar a OTCA, aqui veio com o claro objetivo de sepultar definitivamente as ilusões do acordo de cooperação entre o Mercosul e a União Europeia.
Já é hora de o nosso país deixar claro que passou o tempo do contrabando de Pau-Brasil e da pesca clandestina da lagosta por barcos pesqueiros da França. O Brasil deseja e precisa da amizade da França, mas não pode se submeter aos seus caprichos, pois amigo não é para essas coisas.