• A Trova e três notáveis

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  • 10/03/2023 16:04
    Por Afonso Vaz

    Guardo profundas razões para apreciar e, ao mesmo tempo, vivenciar a trova.

    Embora não seja detentor da verve poética, porém da poesia nunca me mantive afastado.

    Meu pai poeta e trovador, com ele aprendi o salutar hábito da boa leitura, em especial das intituladas quadras.

    Deixava consignado para comigo, que “a trova não é fácil de ser feita, pelo contrário, porquanto o poder de síntese não é dado a qualquer pessoa e na trova prepondera, justamente, esse fator”.

    Justamente, à luz de tal assertiva gostaria de prestar minha mais modesta, porém sincera homenagem a trovadores – notáveis – que já nos deixaram, sem que me esqueça de relembrar da figura exponencial de Luiz Otávio, autor da obra “Meus Irmãos os Trovadores, cognominado o “Príncipe dos Trovadores”.

    Esclareça-se que a obra em questão permitiu-me que pesquisasse, com absoluta dose de esmero, a propósito da vida e obra dos trovadores que abaixo se seguem.

    Adelmar Tavares da Silva Cavalcante, nascido em Recife (PE) em 16 de fevereiro de 1888, tendo falecido no Rio de Janeiro em 20 de junho de 1963.

    Diante do extraordinário êxito que alcançou, tornou-se conhecido na roda literária por Adelmar Tavares.

    Advogado, exerceu o magistério, a magistratura, além de poeta de escol.

    Publicou muitos livros, o primeiro “Descantes”, em 1907.

    Seguiram-se, ainda, envolvendo a poesia, “Prelúdios”, “Devaneios”,”Telas”, “Sonantes” e muitos outros.

    “Obra prima” do autor, a meu ver, a trova que passo a transcrever.

    “Para matar as saudades,

    fui ver-te em ânsias, correndo…

    – E eu que fui matar saudades,

    vim de saudades morrendo”.

    Mais esta de conteúdo de profundo sentimento:

    “Sou jardineiro imperfeito,

    pois no jardim da Amizade,

    quando planto o amor perfeito,

    nasce sempre uma saudade”.

    Relembrando, ainda, o ilustre trovador, vale ser transcrita:

    “Dos desertos desse mundo,

    sei do mais desolador,

    – Uma alma sem esperança,

    um coração sem amor…”.

    Nos mesmos passos e rumos de Adelmar vem a minha mente a figura da esplêndida trovadora Lilinha Fernandes – Maria das Dores Fernandes Ribeiro da Silva, cognominada “Rainha da Trova Brasileira”.

    Nasceu no Rio de Janeiro no dia 24 de agosto de 1891, tendo falecido em 08 de junho de 1981.

    Publicou “Flores Agrestes” (poesias), Appogiaturas (sonetilhos); e Contas Perdidas (trovas).

    Destaco algumas trovas da lavra de Lilinha Fernandes, que integram a obra de Luiz Otávio, “Meus Irmãos e Trovadores”, juntamente com Adelmar Tavares e J.G. de Araújo Jorge, todos – considerados notáveis – na condição de trovadores/autores das mais belas quadras, envolvendo sentimentos, os mais diversos, tais como, o filosófico, o apaixonado, o saudoso, o romântico, o religioso e o dramático.

    Eis, Lilinha Fernandes quando escreve, saudosa:

    “Meu amor foi-se acabando…

    Mas a saudade chegou:

    -chuva boa refrescando

    O chão que o sol causticou”.

    Também saudosa assim se exprime:

    “Chorei na infância insofrida

    para ir na roda cantar,

    hoje, na roda da vida,

    eu canto prá não chorar”.

    Romântica, Lilinha nos premia com a linda trova:

    “Teu semblante idolatrado

    que eu pude n’alma esculpir,

    é um crisântemo doirado

    sobre um cipreste, a florir”.

    Resta-nos destacar a expressiva figura de José Guilherme de Araújo Jorge – mais conhecido pelos apreciadores das boas poesias e trovas, sejam românticas e algumas até contendo mensagens dramáticas.

    Nascido no Rio de Janeiro em 20 de maio de 1914 tendo falecido em 27 de janeiro de 1987.

    Político atuante, destacado poeta e trovador, professor do Colégio Pedro ll, ficou conhecido como o “Poeta do Povo e da Mocidade”.

    Publicou vários livros de poesia: “Meu Céu Interior”; “Amo” e tantos outros. Destacou-se, também, como romancista.

    Romântico, J.G. de Araújo Jorge nos legou a bela trova:

    “Parece coisa de louco

    Como explicar na verdade

    Que o amor, que durou pouco

    Me doa uma eternidade.”

    Religioso, assim se expressa:

    “Poesia, velha poesia

    que o tempo não esmaece…

    Um sino em Ave-Maria…

    Um pôr-de-sol…uma prece…

    Esperanço, porém com uma dose de dramatismo, traduz através da bela trova.

    “A vida – uma onda que avança

    e volta – vaivém do mar…

    Quando vai – quanta esperança.

    Quanta amargura ao voltar.”

    Finalmente, vale asseverar, após debruçar-me sobre tão belas mensagens, que a poesia faz-nos conduzir, sem dúvida, a sonhos os mais diversos, até porque nada conhecemos, a propósito do final de nossas vidas.

    Somos seres que cremos, mas julgo que seja importante transcrever mais uma trova da lavra de Adelmar Tavares, quando imbuído de pequena dose de ceticismo nos proporciona “o recado”  que encerra.

    “Todo rio na corrente

    busca um rio, um lago, um mar…

    Mas o destino da gente

    quem sabe onde vai parar!

    E eu, concluo: somente Deus mesmo poderá nos dar a última palavra!!

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