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  • 23/08/2021 16:14
    Por Ataualpa Filho

    A saudade tece o fio da lembrança que o amor guarda consigo. O tempo distancia o passado, porém carregamos dentro de nós o que ele não apaga por estar sedimentado em nossas raízes. Estas, quando fincadas no solo que nos viu nascer, alicerçam a memória que registra a nossa própria história. Orgulha-se dela quem se sente útil nesta travessia por este planeta. Servir é um bem que se deposita no coração do outro. Por isso que a solidariedade, a caridade estão nos degraus da eternidade.

    Muitos dizem que recordar é viver. Porém o que é de sina é a vida que ensina. Cada um de nós tem uma história para contar. Esta, quando narrada por quem tem as mãos calejadas na luta pela edificação do próprio destino, traz as marcas que a verdade imprime na realidade.

    A nostalgia também é regada pelas lembranças da aurora da vida. Contudo, tais recordações permitem estabelecer essa comparação entre o “ontem” e o “hoje”.

    Quando vejo a repetição de erros do passado, questiono o conceito de “progresso”. Para mim, este só ocorre quando o ser humano é visto como prioridade. Em que a humanidade pode se vangloriar diante de uma bomba atômica? Vendo tantas crianças morrendo de fome nos quatro cantos do mundo, não tenho interesse nenhum em saber se há vida em Marte. Vale aqui citar o “Poema do Beco” de Manuel Bandeira:

    “Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do Horizonte?/ – O que vejo é o beco.”

    Na poesia de Fernando Pessoa também encontramos essa consciência dos limites que remete ao reconhecimento e à valorização do bem coletivo. São clássicos os seguintes versos desse grande poeta lusitano:

    “O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,/ Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia/Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.”

    É preciso ver a medida da realidade para saber “colocar o chapéu onde a mão alcança”. O nosso “beco” é muito rico, pena que está sendo saqueado por quem não tem o menor zelo pelo patrimônio nacional. Confesso que hoje, vendo pseudopatriotas, lembro, de forma nostálgica, os versos de Olavo Bilac:

    “Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!/Criança! não verás nenhum país como este!/ Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!/ A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,/ É um seio de mãe a transbordar carinhos./ Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,/ Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!/ Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!/ Vê que grande extensão de matas, onde impera/ Fecunda e luminosa, a eterna primavera!/ Boa terra! jamais negou a quem trabalha/ O pão que mata a fome, o teto que agasalha…”

    A demagogia barata que emana em períodos eleitoreiros é de provocar náuseas pela forma como tentam ludibriar a boa fé do povo. São muitos querendo mamar na teta da mãe Pátria. É muita mamata! São muitos querendo se locupletar com os bens públicos. São lobos em pele de cordeiros, mas esquecem que estão com o rabo de fora. Hoje, com as redes sociais, com a facilidade da comunicação, com a busca da transparência, logo se enxergam as falcatruas.  A mentira está com pernas mais curtas.

    A cegueira provocada pela ganância faz com que a pessoa perca até o zelo pela própria dignidade, não assume os próprios erros, encena uma inocência que não se sustenta diante das evidentes falcatruas.  Essa crise ética pela qual o país atravessa tem reflexo direto na economia. Há uma estagnação no desenvolvimento social. Por isso não podemos perder a oportunidade de fazer uma faxina nas próximas eleições, colocando no lixo quem lesa a nossa Pátria.

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