• A revolução pacífica da mulher

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  • 08/03/2023 17:52
    Por *Iris Boff, irmã e convidada de Leonardo Boff

    Para este Dia Internacional da Mulher, Iris Boff, minha irmã, escreveu reflexões inspiradas que exaltam as várias facetas do ser Mulher e sua importância para salvaguardar a vida do planeta.

    – Leonardo Boff.

    “Na pureza de intenções de tua cabeça, no inocente pudor do teu corpo, na irradiação  vital de tua alma, desate os laços do tua blusa, para  expandir a inteligência do teu coração.

    Desabotoe parte do vestido, para ampliar teu campo liberdade. Segure a saia erguida  para correr pelos campos de orvalho, na velocidade que as mudanças exigem. 

    Não tenhas vergonha do teu corpo, sagrado canal da vida. 

    Mulher, saia da caverna, dessa  trincheira de milênios, imposta a  você. Tome posse do teu poder  revolucionário porque é  integrativo, criativo e regenerativo.  Mostre que a Mulher não  é  só a metade da humanidade  mas a parceira e parteira, Mãe , Avó e filha da outra metade. Anuncie ao Mundo que a Nova Humanidade está se gestando em teu corpo e em tua mente. Expresse esse poder de integração . Consciente dessa Plenitude, tu sentes que sabes e sabes que sentes porque  tens  no  ventre um cérebro e no  cérebro um  ventre. 

    Mais forte e mais poderosa que uma bomba atômica, teu útero transforma uma pequenina célula num Ser Vivo completo e perfeito. 

    Aí está o poder  e a revolução pacífica, desarmada e silenciosa da mulher.

    Como uma grande enciclopédia, teu corpo é portador da  origem do Mundo.  Pois, cada vez que uma Nova Vida o habita, em apenas 9 meses nele se repete os milhões de anos da  longa, paciente e paulatina  história ascendente da  nossa Humanidade.

    Portadora desse Mistério, não traias, nem  negues esse conhecimento, dom gratuito da Natureza e de Deus. Num mundo órfão e exilado dessa Espiritualidade, use esse poder místico, familiar e doméstico. Marque posição, demarque teu território, age e reage como estás acostumada a fazer com o fruto de tuas entranhas. 

    Mulher! Mãe, como amparas uma criança que começa a andar, tome a mão dessa Humanidade, que como criança está confusa e tateante em dar novos passos nos perigosos e complexos caminhos do nosso tempo. Aponte, estimule, console, ampare. 

    Mulher, Amada e Amante, Mulher “Do Lar”, em teus braços acolha e embale nosso homem moderno, cansado e desencantado de ser o único autor e  responsável  pelo progresso, esse “brinquedo perigoso “que ele mesmo construiu. Com a vida ameaçada,  assustado e exilado do teu colo, quer voltar para casa. Tu sabes muito bem de abrigo, de segurança , de proteção e de  paz.  

    Há momentos da nossa história , que a noite é longa, escura e assustadora. Mulher Antiga, Sábia Anciã, tu que nessas situações te orientas pelo ritmo com que teu coração pula, pensa e age. Faça como antigamente, cante em nossos ouvidos as canções de amor e acalanto. Gravadas nas profundas fibras de nosso coração, elas hão de ser mais fortes que os gritos de guerra, os gemidos de dor, de angústia e de desespero. 

    Mulher! Artista, Sacerdotisa, Xamã, saia do teu silêncio , arranque a mordaça da tua boca, tome a Palavra, primeira, a palavra Máter, Matriz de todas as outras que é da Magia, da arte, do canto, da poesia e da dança que derrubam fronteiras , unem e reúnem tantas diferenças. 

    Mulher Profetiza, Intelectual, Pública, Política, Analfabeta, Anônima. Tua fala primeira foi  doméstica como de toda  mãe, burilada e testada quotidianamente. Em meio a uma guerra contínua de nervos te fizeste portadora do maior partido pacifista do mundo, o Partido das Mulheres. Erga essa bandeira, tome o poder dessa palavra mais eloquente que algumas  leis ou conversações machistas, misóginas e que muitas vezes dividem, ferem e matam o ser de tuas entranhas. 

    Mulher! Por séculos e séculos ficastes exilada em  tua caverna no chamado mundo privado .Fostes a guardiã do Fogo Sagrado da Vida. Saia dela com essa tocha na mão para derreter o gelo das relações humanas, reunir diferentes pessoas em volta da fogueira , iluminar e desarmar as pessoas para  projetos de Paz, de  Justiça Amor e de Cura. 

    Assim como por séculos e séculos exerceste o cuidado com a casa e com os filhos e filhas, limpas, arrumas, enfeitas, ensinas, educas, instrua os administradores públicos, muitos deles   analfabetos da lição do Cuidado, de como se mantém ordem, beleza, sobretudo Vida e segurança na Família Humana e na casa do mundo, tão devastada, saqueada e desordenada. 

    Mulher, Feiticeira, Curandeira, Xamã, com a memória do mundo no teu corpo e a vibrante energia do teu coração, seja um incenso purificador no nosso mundo poluído. Como fazes com a criança, sopre em nossas feridas e machucados, seja a mediadora nas disputas, alimente com tua graça e criatividade os famintos de cuidado, de   aconchego e de sentido. 

    Assim como costuras, lavas, passas nossas roupas, vista e revista esta nova Humanidade  despida de sua dignidade. 

    No século passado o Homem  fez a grande revolução do Saber pelo intelecto. Neste século far-se-á,  com a iniciativa da  mulher, carregando o homem junto  a micro-revolução da Sabedoria pelo afeto. Mulher! Resgate o que foi considerado vulgar e menor: a expressão dos sentimentos e as vibrações do coração. Vamos alfabetizar todo o analfabeto emocional . Não sejas econômica e escassa. Beije, abrace, dance, cante, chore, namore, lute, brinque, brigue, ame para engravidar o Dom da Vida. 

    Não esqueças, zeles por tua integridade, guardes o que não entendes em teu coração, mantenhas a Magia dos teus segredos, incline de vez em quando os teus joelhos e vá para Aquele lugar que gostas de ir , que te é familiar ,no fundo da tua Caverna , onde sempre estiveste e nunca partiste. Neste Lugar o Sagrado Fogo de tua Alma,  te aguarda. O Mistério do Mundo precisa de um receptáculo para seu sêmen de Amor. 

    Assim, por ti, Mulher, a Humanidade e o Mundo, grávidos desse Novo Mistério da Encarnação serão  transfigurados e redimidos para sempre.”

    *Iris Boff é pedagoga, escritora e poetisa, profundamente ligada ao ecológico e ao feminino da criação.

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