• A responsabilidade individual e o Ano Novo

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  • 30/12/2020 09:45

     

    As pessoas que perderam a vida com a pandemia da Covid-19, por mais duro que seja, podem nos inspirar em matéria de responsabilidade individual. Sem dúvida, um bom número delas foi pega de surpresa; outras, em função de comorbidades, ficaram bem mais fragilizadas diante do vírus; e houve ainda um terceiro grupo, numeroso, das que não se deram conta de sua letalidade, e se expuseram a riscos fatais, que poderiam ter evitado, e acabaram morrendo. Aqui cabem reflexões sobre nossa responsabilidade individual intransferível.

    Nessa linha, ainda jovem, eu me interessei por livros de autoajuda. Como em qualquer campo do conhecimento, tem coisa muito boa, as mais ou menos e as que são pura enganação. Um dos primeiros que li foi o clássico, de Dale Carnegie, “Como fazer amigos e influenciar pessoas”. Ainda me lembro de uma amiga que o criticava duramente, afirmando que era um manual de manipulação das pessoas. Discordei vivamente pelas razões que passo a expor.

    A primeira observação minha é que Dale Carnegie não era um teórico. Assim como fazia Peter Drucker, seu conhecimento da vida se baseava no que aprendia no dia a dia em contato com as pessoas, com o mundo real. Drucker passou dois anos dentro de GM, participando de reuniões de tomada de decisões e se informando sobre pessoas e processos de produção.

    Outro exemplo do poder da iniciativa individual é o Empretec, do SEBRAE, cuja metodologia busca reproduzir, em dinâmicas individuais e de grupos, os comportamentos típicos de quem tem perfil de empreendedor. Os participantes, durante o seminário de 9, agora 6, dias são induzidos a praticá-los a partir das referidas dinâmicas. Foi uma das melhores experiências que tive ao longo de minha vida. Recomendo. E muito.

    Mas, se quisermos ter outra visão da autoajuda, basta recorrer à Progra-mação Neurolinguística (PNL), surgida na década de 1970, cujos precursores, Richard Bandler e John Grinder, nos convidam a reprogramar nossa maneira de pensar. As experiências de ambos partiram do estudo de pessoas altamente competentes em suas áreas de atuação e de seu modo de pensar. A reprodução de tais comportamentos por terceiros poderia então equipá-los para um desempenho muito melhor. A PNL tem sido acusada de pseudociência, mas quando nos informamos sobre a chamada ciência cognitiva, respeitada, que faria uso de métodos científicos, recorrendo à simulação/modelação, e comparando os resultados com aspectos do comportamento humano, fica o sabor de que não estamos em campos tão distintos da PNL.

    Outro bom exemplo é o livro “Feeling Good – The New Mood Therapy” (tradução literal: “Sentindo-se bem – A nova terapia do humor”), que já vendeu cerca de quatro milhões de exemplares nos EUA. Esta terapia do tratamento da depressão, clinicamente comprovada, busca a cura através da correção das chamadas distorções cognitivas. Ou seja, como nos diz John Milton, autor do celebrado “Paraíso Perdido”: “A mente por si só pode fazer do paraíso o inferno, e do inferno, o paraíso”. Como se livrar do inferno pessoal reprocessando sua visão distorcida sobre o que lhe passa pela cabeça faz o milagre da cura.

    Cabe ainda uma palavra sobre da ciência e seus ares de dona da verdade. Karl Popper nos ensina que a verdade científica, por ser passível de verificação, pode ser ultrapassada. Hoje se sabe que as famosas e frequentes sangrias nos pacientes, poucos séculos atrás, acabavam levando-os à morte. Não só isso. A ciência, por vezes, tem reconhecido seus erros, aceitando sua impotência explicativa. A tecnologia da bioquímica húngara, Katalin Karicó, passou décadas desacreditada, e acabou sendo a saída para agilizar a vacina contra o coronavírus. A famosa regra 80/20, que nos diz que 80% das vendas de uma empresa vão para apenas 20% de seus clientes, é uma regularidade empírica que funciona sem ter uma boa explicação. Ou ainda: apenas 20% de suas iniciativas respondem por 80% de seus resultados. É a diferença entre o urgente e o importante na construção do sucesso.

     

    [C O N T I N U A]

     

     

     

    As situações ilustradas até aqui refletem aquele tipo de conhecimento que nasce da vida real, bem mais confiável e testável do que os de outros tipos.

    Passemos agora ao repique da pandemia, que está levando a Europa e outros países a se fecharem, e à nossa responsabilidade individual.

    A grande mídia, até recentemente, tinha uma explicação a tiracolo para as mazelas que vinham ocorrendo no País. O grande culpado era o governo federal tanto na questão da pandemia quanto na sua gestão política desastrada junto ao congresso. Nos últimos dias, os repórteres começaram a comentar a irresponsabilidade individual das pessoas em grandes aglomerações nessa época natalina. E parece que se deu conta também da falta de vontade de trabalhar do congresso em busca de um recesso fora de hora face à urgência de matérias que precisam ser aprovadas antes do Ano Novo.

    De uma forma ou de outra, o esporte nacional da terceirização da culpa vem se revelando, cada vez mais, um autoengano coletivo. A mudança que tanto almejamos para o futuro vai passar inevitavelmente pelo exercício da cidadania, que exige boa dose de responsabilidade individual até mesmo pra corrigir absurdos decididos pelas autoridades de plantão, aqui incluídas as judiciárias.

    É inaceitável, por exemplo, passar um ano com escolas fechadas enquanto academias, praias, clubes e bares estavam liberados. Igrejas, que vinham funcionando com as devidas salvaguardas, foram surpreendidas com a ordem de fechamento. Felizmente, autoridades eclesiásticas, como o bispo de Petrópolis, Dom Gregório Paixão, se opuseram e derrubaram a proibição.

    Que tal fazer de 2021 o Ano da Virada? Você decide. Nós podemos decidir.

     

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