A relação de amor do centenário Plácido da Rocha Miranda com a cidade
O que seria de Petrópolis sem sua gente? Desde o passado, sua história foi construída, sobretudo, por pessoas. Pessoas que contribuíram, cada uma à sua maneira, para a história e o legado da cidade. Algumas delas chamam a atenção pela relação de afeto com Petrópolis, às vezes sem nem mesmo terem nascido aqui.
Esse afeto, principalmente em tempos áridos, faz resplandecer em nós algo familiar. Algo genuíno e até difícil de colocar em palavras, mas que toca profundamente o coração. Hoje, dia em que a cidade completa 179 anos de sua fundação, você vai conhecer e se emocionar com a relação de amor do centenário Plácido da Rocha Miranda com Petrópolis.
Plácido nasceu no Rio de Janeiro, mas sua história com Petrópolis sempre foi especial. Em janeiro de 1920, aos 29 anos, Maria Luiza Tavares Guerra Rocha Miranda esperava seu sexto filho, Plácido. Ela estava muito doente e, nessa época, os médicos recomendaram que tomasse uma série de banhos no mar do Rio de Janeiro. Após o parto, Maria Luiza continuava com o estado de saúde muito delicado, recusando alimentos e muito magra. A mãe de Plácido quis, então, retornar a Petrópolis. Ela e o filho, que tinha menos de um mês naquela época, chegaram, finalmente, em terras petropolitanas. Com o tempo, Plácido passou a ser cuidado, sem que a mãe soubesse, por sua tia e madrinha, Tia Loca, e pela fiel Bentinha, que trabalhava na casa da família. A decisão foi tomada porque ele estava muito magro e não mamava bem.
A Casa de Petrópolis, residência da família Tavares Guerra, ajuda a contar não apenas a história do Sr. Plácido, ainda hoje, aos 101 anos, mas também sua relação de amor com Petrópolis.
“Vivi até os 10 anos apenas no interior desta casa, sem nunca ter saído desse ambiente. Na época, isso aqui era um enorme bosque. Eu e meus irmãos brincávamos de arco e flecha, pernas de pau, pique-esconde, pescaria e caçada. A Rua Ipiranga não existia, o que havia aqui era o Caminho dos Boiadeiros, uma estrada de terra.” conta o centenário.
Sobre a educação que recebeu, o Sr. Plácido comenta: “na parte de estudos tínhamos a oportunidade de aprender com mestres. Em casa, eu e meus irmãos aprendemos a tocar piano e outros instrumentos, além de diversas línguas.”
Sobre a construção da Casa de Petrópolis, obra de seu avô, o Sr. Plácido relembra: “Meu avô a construiu ainda solteiro e foi muito criticado por ter feito um banheiro no interior da casa. Antigamente isso não existia, o banheiro era uma “casinha” do lado de fora.”
José Tavares Guerra, proprietário da Casa de Petrópolis, estava muito à frente de seu tempo. A ideia de construir um banheiro dentro de casa, algo extremamente incomum à época, revela isso.
A relação afetuosa do centenário com a casa onde morou é notável. “Embora eu tenha mais de um século, atualmente com 101 anos, me sinto jovem quando entro nesta casa. Isso aqui tudo faz parte da minha vida, de quem eu sou. Essa casa é quase a minha alma.”
Pergunto ao Sr. Plácido qual é a sensação de ser um centenário em Petrópolis. “É uma sensação curiosa, a de que eu tenho duas vidas: a do passado e a do presente. Aqui na Rua Ipiranga, no passado, só existia uma estrada de terra, onde passavam pouquíssimos automóveis. Eu e meus irmãos brincávamos de “lá vem um” e tantas outras brincadeiras. No presente, sinto como se todas as outras pessoas não existissem. Eu é que estou vendo a garotada toda passar por mim.”
A lembrança mais bonita do centenário com a cidade está intimamente ligada à Casa de Petrópolis. “Esta casa parece comigo mesmo. Se alguém quebrar aquela porta, meu braço também será quebrado. Esta casa é o que há de mais importante na cidade para mim.”
O Sr. Plácido celebrou seu centenário no ano passado, na Casa de Petrópolis. Os registros da comemoração não deixam dúvidas a respeito da felicidade do centenário, ao celebrar um século de vida na casa onde cresceu.