• A quem interessar possa

  • 09/10/2018 09:50

    A democracia é um conceito inatacável, nos lembraram estes dias, e o momento do voto popular é o seu ponto mais alto. Concordo, mas não careciam me confiar o ônus da prova.

    Sou um cidadão, naturalizado há coisa de cinquenta e tantos anos, hoje idoso de 86. Como todos os que viveram tempo semelhante, carrego as minhas cicatrizes virtuais e reais, e as reais me limitam um bocado os movimentos. Tenho um joelho recomposto pelo Dr. Donato Dângelo, uma prótese no fêmur colocada pelo Dr. São Thiago, uma prótese cardíaca que devo ao Dr. José Oscar Reis Brito (que aceitou o desafio proposto pelo Dr. João Assad), uma outra (Dr. Arno) filha de aneurisma de aorta, pouco enxergo e mal ouço. Este é o estado da arte, pelo qual sou muito grato, nesta altura da prorrogação.

    Votava no Ginásio do Petrô, no alto da escadaria. Em 2014, as autoridades da 85ª Zona Eleitoral, sabendo de minhas crescentes dificuldades, me trocaram de local de votação e me concederam o conforto da Seção 127, no plano e sem um degrauzinho a me desafiar. Por duas vezes votei ali, pertinho da entrada do Petrô do Valparaíso, uma beleza.

    Soube, alertado pela OAB na antevéspera da eleição, que a minha ZE mudara para a 29ª e a Seção para a 446. Grato à OAB pela oportuna dica, tanto mais que continuava no Petrô, lá fui eu aproveitando o carinho e carona da família.

    Só que… Mesários solícitos no meu ex-local de votação me explicaram que fora devolvido ao topo da escada do ginásio. Foram gentis, anotaram a ocorrência na sua ata e informaram que a decisão teria de ser minha, subir o Aconcágua ou voltar para casa. Velho teimoso, após ter ranzinzado um pouco, topei o desafio e com a ajuda da esposa, filha e genro, além de eleitores generosos, subi de ré e sentado os degraus das pirâmides Maias que levam ao ginásio do Petrô. Resfolegante, de pernas trêmulas, enxergando chongas, fui votar na 446ª Seção, à qual nunca mais voltarei, não por birra, mas por impossibilidade física.

    Meu esforço foi fotografado e postado nas redes. Não uso  celular, não sei o que foi mostrado e dito nem até onde alcançou. Fake, não era. Mas, horas depois, recebi um atencioso telefonema do Chefe do Cartório da 29ª ZE, que me disse ter sido informado sobre a postagem e, a pedido do Senhor Juiz, queria me informar que as nossas cinco Zonas haviam sido concentradas em duas; os funcionários que ficaram sem função foram deslocados para outras Comarcas e a memória do dito e acertado antes perdeu-se no processo. Disse-me mais que toda ZE dispõe de uma Seção de acessibilidade nota dez, para onde são encaminhados os que necessitam deste conforto. Não fora o meu caso, pois eu estava em uma Seção jeitosa, mas não na seção especial em causa. Eis como ocorreu o problema. 

    Divulguei a informação (por telefone e email, aos quais me restrinjo) e fiquei de passar na 29ª, depois das eleições, para migrar para a Seção em causa. Sempre é bom encerrarmos em paz episódios fora da curva. Assim aconteceu e assim ficou para trás. Quem tiver razões para tanto, procure a sua ZE como eu farei, solicitar a ida para a Seção de poucos desníveis. Ao fim e ao cabo, nada que um oxigênio não tenha resolvido.

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