A procura da verdade
Desde os dez anos de idade sou um leitor de livros em busca do conhecimento. Comecei cedo ao receber de uma tia mais de uma centena de “gibis” no formato e tamanho de um talão de cheques. E ela usou uma técnica diferente, mas, inteligente, que pudesse lhe dar certeza de que eu leria todos eles, do primeiro ao último. Disseme ela: tenho um total de 107 gibis. E são todos seus a partir de agora, porém, só te darei um de cada vez, ou seja, ao terminar a leitura de um te darei o seguinte e assim por diante. Assim foi feito. Como consequ- ência, adquiri o hábito mais saudável e inteligente que conheço. Tornei-me um leitor voraz de história em quadrinhos. Em pouco tempo meu rendimento escolar era excelente e eu estava lendo livros, muitos livros, e chegava a ler um livro por semana, ou seja, quase cinquenta livros por ano.
Nessa altura meu rendimento escolar era excelente e minha ânsia pelo conhecimento era inquebrantável, acho mesmo que insaciável.
Todavia, passados todo esse tempo – já passei dos setenta anos de idade – tenho a forte impressão de que nada sei e que é preciso buscar o conhecimento a cada dia, a cada momento da vida, em cada experiência, boa ou má. Mas, é preciso muito cuidado. A nossa verdade não é a verdade, nem a verdade dos outros é a verdade. Quase sempre a verdade é alcançada quando lemos e pesquisamos tudo o que é favorável sobre um assunto e tudo que é desfavorável sobre esse mesmo assunto ou pessoa, ou governante ou regime político. Ou seja, é necessário conhecer os dois lados da questão, do assunto, da pessoa, do regime político, do ato ou atos praticados. Com esse conhecimento, ou seja, tendo lido e pesquisado tudo o que é contra e tudo que é a favor, tirava as minhas conclusões pessoais. Esta é a verdade. Quando assim agimos demonstramos que não fomos influenciados pela demagogia barata dos populistas, nem pela dureza dos extremistas de esquerda ou de direita.
Aprendi muito cedo que a verdade não é a verdade de A ou B, mas sim, o resultado do exame e comparação cuidadosa da verdade de A, B e da minha verdade, que me levará à verdade verdadeira, ou seja, à verdade dos fatos. Mas, há também uma tendência geral em admitir como verdade a conclusão e posição pessoal das pessoas que nos são especiais, como se o carinho e respeito que lhes dedicamos desse-nos a certeza de que estão certas em suas convicções. Não, não estão. Contudo, não é assim que funciona. Tendemos a aceitar as ideias de quem gostamos como se dessas pessoas só pudesse fluir verdades e sabedoria. Nem sempre é assim, ou melhor, quase sempre não é assim. Somos o resultado do meio em que vivemos, quase sempre. Se você nasceu e vive numa família cristã, provavelmente você será cristão. Se o seu pai é torcedor do Fluminense provavelmente você será um torcedor do Fluminense, e assim por diante. Como todos sabem, somos produtos do meio em que vivemos.
Somos influenciados pelas pessoas com as quais convivemos e simpatizamos. Portanto, muitas das nossas convicções não foram escolhidas ou selecionadas por nós, mas, foram impostas pelo meio em que vivemos e/ou influência que recebemos; pelos livros que lemos; pelas pessoas da família que mais gostamos; pelo professor que admiramos. Precisamos tomar cuidado, pois nossa mente é como uma esponja que tudo absorve. A verdade nem sempre está no fundo de um poço sem fundo. Ela pode estar ali, naquele jornal, naquela revista semanal, naquele noticiário da TV, naquele livro. Mas, você é que tem de procurá- la até encontrá-la. E só se conhece a verdade depois de se conhecer os dois lados e chegar a sua conclusão pessoal. A verdade é a sua conclusão pessoal. Você não achou, você a encontrou através do seu esforço pessoal.