• A polêmica de “a presidenta”

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  • 10/02/2020 13:05

    No mês passado, recebi, via WhatsApp, um texto que trazia à tona a velha polêmica do feminino da palavra presidente. Fiquei surpresa ao perceber que este assunto ainda gerava discussão acalorada e não conclusiva. Línguas vivas são dinâmicas e tendem a mudar e a evoluir. Para não falar besteira, resolvi pesquisar em fontes seguras novamente. Comecei pela Academia Brasileira de Letras, consultando o Vocabulário Ortográfico. 

    Desde a sua edição de 1939, a forma “presidenta” é reconhecida para designar tanto a função de presidir quanto o feminino de presidente. Do mesmo modo, autores consagrados como os saudosos mestres Said Ali, Luis Autuori, Oswaldo Proença Gomes, os dicionaristas Cândido de Figueiredo, Aurélio, Houaiss, Aulete e tantos outros reconheceram as duas formas: a presidente e a presidenta. O primeiro registro de que se tem conhecimento, ocorreu em 1899. 

    O dicionarista Cândido de Figueiredo registrou como neologismo o verbete “Presidenta, f. (neol.) mulher que preside; mulher de um presidente. (Fem. de presidente.)”. O autor repetiu o registro na edição de 1939. Acredito que, desde aquela época, desde sua aparição, a forma feminina de presidente, grafada com a desinência –A (presidentA), “causou”! Em 1956, Juscelino Kubitschek, em 2 de abril daquele ano, decretou e sancionou a Lei nº 2.749, que dava norma ao gênero dos nomes designativos das funções públicas. Eram apenas três artigos. 

    No primeiro, determinava que o gênero gramatical do nome funcional deveria seguir os preceitos consagrados pela tradição lexiogênica do português. Para bom entendedor, deveria obedecer à tradição. Daí eu presumo ser antiga a discussão. Então, por que a polêmica? Nosso idioma tem origem no latim, nas línguas românicas difundidas aos quatro cantos pelos soldados, por ocasião da expansão do império romano. Os sufixos –ente, -ante e –inte são usado para designar a pessoa capaz de exercer a função expressa por muitos verbos. 

    Por exemplo: gerir – gerente; mandar – mandante; falar – falante; etc. Tecnicamente, essa forma verbal corresponde ao particípio ativo/presente dos verbos e é igual nos idiomas derivados do latim vulgar: o português, o espanhol e o italiano. Dirigente, despachante, ouvinte, ajudante, amante, pedinte, existente, atendente, paciente, viajante, mendicante, estudante, adolescente, representante, comandante, governante. 

    A lista é enorme! Todos são substantivos comuns de dois gêneros, cuja variação de gênero é designada pela presença dos artigos: o; a; um; uma; Uma curiosidade: governanta não é tecnicamente o feminino de governante, sua origem é francesa “gouvernante”, e seu significado se restringe ao gênero e à função de quem administra a casa alheia e cuida da educação das crianças. É, por assim dizer, um tanto discriminativo. Nosso idioma está vivo! 

    É falado em nove países, além das regiões de Macau (China) e Goa (Índia). Há também aquelas espalhadas pelo mundo pelos imigrantes de língua portuguesa, tais como Andorra (+ de 15.000), Bélgica, França (+ de 500.000), Alemanha, Luxemburgo, Espanha, Suíça e Reino Unido. Na região de Luxemburgo, 19% da população fala Português como língua materna, tornando-se a maior língua minoritária em percentagem num país da Europa Ocidental. 

    No noroeste da Espanha, na região da Galiza, berço do Português, ainda se fala o galego, que é um dialeto do português e não uma língua independente, tornando esta região espanhola uma parte da lusofonia. E, no Uruguai, estima-se que 15% da população tenha o Português como língua materna. Tudo isso calculado, por alto, em 2019, pela ONG USCENSUSBUREAU. Em cada uma dessas regiões do mundo, o nosso idioma tem particulares e a pronúncia ou significado das palavras também são variantes bem diferentes. 

    Deixo a seu critério, caro leitor, escolher se falará a presidente, ou a presidenta. rosinabezerrademello@gmail.com 

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