• A performance verde em Nova Iorque

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  • 01/10/2023 08:00
    Por Aldo Rebelo

    Acompanhadas de grande esforço propagandístico, as iniciativas do governo brasileiro em Nova Iorque, nos Estados Unidos, exibiram a adesão do País à agenda da moda, ou agenda verde, ou ainda da transição energética, tão cobrada dos países pobres e em desenvolvimento, e tão pouco praticada pelos países ricos, seus principais propagandistas e defensores, desde que dentro do princípio do façam o que eu mando e não façam o que eu faço.

    Em Nova Iorque, enquanto acontecia a Assembleia Geral da ONU, a primeira-dama Janja da Silva promovia uma ruidosa festa na Times Square para, segundo ela, divulgar a Amazônia brasileira. Janja abriu o espetáculo com um discurso carregado de chavões ambientalistas e de exaltação da importância da floresta para o clima do mundo, e nenhuma referência aos 30 milhões de brasileiros que vivem na região marcada pelos piores indicadores sociais do país.

    A ideia do evento, batizado de Pororoca da Amazônia, era “vender” ao mundo uma Amazônia disponível para proteger o planeta, desde que os ricos estejam dispostos a pagar para manter intocado o santuário verde.

    A outra iniciativa, intitulada Brasil em Foco: verde e comprometido com o desenvolvimento sustentável, reuniu os ministros Fernando Haddad, da Fazenda; Marina Silva, do Meio Ambiente; Jader Filho, das Cidades, e Alexandre Silveira, das Minas e Energia, além dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco; da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas. O evento contou também com o patrocínio da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), plena dos mesmos clichês da transformação ecológica e energética vendidos pelos países ricos aos países pobres e em desenvolvimento.

    Recentemente, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunack, anunciou a concessão de mais de 100 licenças para a exploração de petróleo e gás no Mar do Norte. O anúncio contraria todos os compromissos climáticos assumidos pelo Reino Unido, e entra em conflito aberto com o discurso contra o aquecimento global da diplomacia britânica. Em junho deste ano, o presidente da Shell, a empresa britânica de petróleo e gás com sede em Londres, Wael Sawan, declarou a intenção de retomar os grandes investimentos em combustíveis fósseis e abandonar a aposta em planos para desenvolver compensação de carbono e projetos ambientais para neutralizar os efeitos do aquecimento global.

    A ironia de tudo isso é que na mesma cidade de Londres, no último mês de junho, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, declarava solenemente que explorar petróleo era “técnica do passado”, cobrindo de razão o escritor Nelson Rodrigues sobre o brasileiro que desembarca na Europa se declarando uma colônia, enquanto um inglês desceria na lua proclamando que o satélite da Terra era parte do Império Britânico. O que se pode dizer é que o presidente do Ibama já se declarara colônia ao defender o interesse das organizações não governamentais inglesas no caso do petróleo do Amapá.

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