• ‘A Partilha’ ganha nova montagem após 34 anos do lançamento com elenco inteiramente negro

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  • 03/ago 09:52
    Por Daniel Silveira / Estadão

    Em 1990, Miguel Falabella escreveu o que viria a se tornar um grande sucesso do teatro, A Partilha. O espetáculo foi inspirado por Natália do Vale, com quem o ator dividia cena na novela O Outro. A peça conta a história de quatro irmãs que se reencontram no enterro da mãe e passam a discutir a partilha dos bens deixados por ela, não sem antes colocar suas vidas e questões em pratos limpos umas com as outras.

    Agora, 34 anos após a estreia, depois de passar por 12 países e ser adaptada para o cinema, a peça está sendo reapresentada no Teatro Sabesp Frei Caneca até o dia 1º de setembro. Dessa vez, as atrizes que interpretam a quatro irmãs são Letícia Soares (Selma), Adriana Lessa (Regina), Iléa Ferraz (Maria Lúcia) e Flavia dos Prazeres (Laura). Antes, tinham sido vividas originalmente por Natália do Vale, Susana Vieira, Arlete Salles e Thereza Piffer, respectivamente.

    Esta é a primeira vez que a peça ganha uma montagem feita exclusivamente com atrizes negras formando a família. “O mundo mudou, a visão de mundo está mudando, a sociedade está amadurecendo com a relação do respeito também e, agora, (essa peça) acaba encontrando quatro atrizes pretas”, explica Adriana Lessa, que interpreta Regina, a irmã esotérica, vivida originalmente por Susana Vieira.

    ‘Um lugar na história’

    A presença de atrizes negras em um espetáculo já clássico como A Partilha pode sugerir a pergunta: como o racismo será discutido neste texto? Pois a peça não tem mulheres negras falando das mazelas do racismo.

    Afinal de contas, “corpos negros podem ocupar qualquer lugar”, como afirma Mariana Per, do Prot{agô}nistas, um coletivo de teatro e circo, cujo objetivo é exaltar o trabalho de artistas negros. “A gente tem uma construção histórica no Brasil que ensinou para negros e brancos o lugar onde cada um deve estar, quais símbolos os representam e, principalmente na arte, que papéis e sobre qual assunto corpos negros falam”, continua a artista, que também aponta para um movimento contrário, capitaneado pela organização dos movimentos negros do País.

    “O espetáculo está construindo um lugar na história, porque pegar um clássico, reler e colocar nessas bocas que não necessariamente seriam as tradicionalmente escolhidas para poder representar aquilo já é revolucionário”, comenta Letícia Soares, que interpreta Selma, a irmã mais conservadora, casada com um militar, que na montagem original foi vivida por Natália do Vale.”Isso prova e comprova, mais uma vez, que nós podemos contar qualquer história”, complementa.

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