• A nova cena cultural de Petrópolis

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  • 16/mar 12:00
    Por Aghata Paredes

    Nos últimos anos, Petrópolis tem experimentado uma efervescência cultural significativa, impulsionada por iniciativas que transformam o panorama artístico e de entretenimento na cidade. Um dos marcos dessa transformação diz respeito às experiências imersivas oferecidas a partir da inauguração do Centro Cultural Sesc Quitandinha (CCSQ), que passou a oferecer, em abril do último ano, programações regulares de shows, artes cênicas, atividades literárias e audiovisuais, além de experiências gastronômicas. Em 2023, o espaço recebeu mais de 700 mil visitantes e cerca de 70 mil somente entre janeiro e fevereiro deste ano.

    No seu primeiro ano de atividade, o Centro Cultural Sesc Quitandinha foi, inclusive, indicado pela Revista Select, uma publicação especializada em artes visuais e cultura contemporânea, como uma das Instituições de destaque em 2023, pelo trabalho que vem realizando na área da Cultura.

    “Com a inauguração do Centro Cultural Sesc Quitandinha (CCSQ), iniciamos uma nova forma de recepcionar os nossos visitantes. A primeira delas foi a gratuidade nas nossas visitações livres e mediadas, e também a forma de circulação pelo prédio, possibilitando a entrada dos visitantes pela portaria, em frente ao lago, além da entrada pela bilheteria. Com esse conceito de Centro Cultural, as nossas exposições passaram a ocupar praticamente toda a área social do Quitandinha, promovendo um diálogo das obras de arte com a arquitetura do prédio. A transformação em Centro Cultural também trouxe uma sistematização na oferta de programações culturais e atividades formativas, além das experiências gastronômicas no Q Bistrô e no Q Café.”, conta Paula Gueiros, gerente do CCSQ.

    O Teatro Imperial, anteriormente conhecido como Teatro Santa Cecília, inaugurado em novembro, é outra iniciativa que se destaca nesse sentido. Localizado no Centro Histórico, o espaço oferece uma vasta programação teatral, musical e comédias stand-ups.

    A revitalização foi possível através da mudança de administração, atualmente feita pela empresa Natureza Produções, e o patrocínio da Enel, que abraçou o projeto e investiu nessa mudança para a cidade.

    Equipado com recursos técnicos de palco, som, luz e projeção visual de referência nacional, o Teatro agora abraça os principais espetáculos das capitais do Brasil. Quem ganha é o público, que tem a chance não só de prestigiar a cultura, mas também de vivenciar novas experiências sensoriais.

    Antes x Depois – Fotos: Ezio Philot

    “Hoje temos uma mecânica cênica que não deixa nada a desejar em relação aos principais teatros do Brasil. É possível que um espetáculo troque de cenários durante a apresentação, permitindo uma variação cênica que é usada em teatro, dança e musicais, por exemplo. Há uma variedade de estruturas para iluminação cênica no palco, bem como em suas laterais, na plateia e mezanino, algo que não existia antes. Além de termos um projeto de sonorização com locais próprios para sistema de som.

    Assim, é possível receber diversos espetáculos, com inúmeras possibilidades de recursos, potencializando a apresentação artística, contribuindo com a performance cênica e envolvendo por completo o espectador”, explicam Paulo Lopes e Sabrina Korgut, sócios da Natureza Produções.

    Desde sua inauguração, em novembro, o Teatro Imperial já recebeu cerca de 20 mil pessoas, atraindo não só petropolitanos, mas também turistas e cariocas saudosos de frequentar teatros. É nesse sentido que o casal vislumbra o teatro como um grande centro cultural. Os planos para o espaço incluem uma galeria de arte, café, cursos e atividades gratuitas. “O Teatro Imperial está ainda no início de sua trajetória, na nossa visão ele vai atuar como um centro cultural, pois além das diversas atrações artísticas – música, teatro, comédia, infantil e dança – temos uma galeria de arte no mezanino e, em breve, vamos inaugurar um Café no foyer do Teatro que vai funcionar durante toda a tarde e início da noite, onde vamos receber o público mesmo em dias sem apresentações. Prevemos também cursos e oficinas, atividades gratuitas e sessões de cinema”, conta Paulo.

    A dedicação de ambos em trazer para Petrópolis o que há de mais interessante nos palcos brasileiros é evidente. Neste mês, um espetáculo de sucesso foi a peça ‘Intimidade Indecente’, protagonizada por Eliane Giardini e Marcos Caruso. “Em junho ainda vamos apresentar dois grandes espetáculos: “Elas Brilham – Vozes que Iluminam e Transformam o Mundo” – um dos musicais de maior sucesso no Brasil nos últimos anos e que encerrará a turnê brasileira em Petrópolis. No mesmo mês também teremos um grande músico brasileiro, Paulinho Moska, e em outubro teremos um comediante que arrasta multidões por onde passa: Afonso Padilha”, adianta Sabrina.

    Há previsão, ainda em 2024, de sessões com ingressos gratuitos para formação de plateias, e promoção do acesso à cultura em Petrópolis. “Quem for ouvinte da Tribuna FM, a Rádio Oficial do Teatro Imperial, também pode ganhar ingressos nas promoções de todos os eventos que apresentamos”, destaca Paulo.

    Desafios

    A reforma do Teatro Imperial não foi isenta de desafios significativos, um deles relacionado à acessibilidade. O edifício, construído nos anos 50, apresentava desafios intrínsecos para a época, uma vez que não havia orientações específicas para tornar o espaço acessível.

    Este fato, aliado à presença de degraus no ambiente e à localização em uma rua em aclive, conferiu à empreitada um caráter complexo.No entanto, isso não foi suficiente para desanimar a equipe envolvida. Pelo contrário. “Eu já havia participado da revitalização de outros três equipamentos culturais, sendo dois deles tombados pelo IPHAN e INEPAC: Teatro Riachuelo (antigo Cine Palácio) e Teatro Prudential / Adolpho Bloch, ambos no Rio de Janeiro. Essa experiência foi fundamental para entender cada ponto do caminho que deveríamos seguir. Além disso, tivemos dois profissionais importantes que destaco: o arquiteto Wanderson Ferreira – responsável pelo levantamento arquitetônico do teatro, ele já havia liderado a reforma do Teatro Riachuelo (RJ) e Cine Theatro Brasil Vallourec (BH), e o arquiteto petropolitano Paulo Lyrio, exímio conhecedor dos equipamentos históricos de Petrópolis, ex-membro do Conselho Municipal de Tombamento Histórico, Cultural e Artístico, sendo ele o arquiteto responsável pela revitalização”, conta Paulo.

    Foto: Ezio Philot

    “Para nós era muito importante que esse Teatro voltasse a ter a relevância que ele merecia, que tivesse protagonismo e principalmente se mantivesse de pé, voltado para as artes. Ao olhar para o antigo Teatro Santa Cecília, praticamente despercebido na natureza urbana, me trazia um certo aperto no coração. Um espaço como esse, dotado de tantas histórias e memórias, precisava ser respeitado e visto como deveria. Tivemos um enorme cuidado com tudo que fizesse parte desse legado, o que aumentava a cada momento a nossa responsabilidade também. Confesso que não foi fácil, pois eram camadas profundas, muitas delas enraizadas no passado, mas que clamavam por mudanças com as urgências do presente. Nos tempos velozes de hoje, é preciso estar atento quando o novo bate à porta”, complementa Sabrina.

    A cidade também conta com o Cine Show Petrópolis, um cinema que não apenas atende aos padrões internacionais de projeção e tecnologia, mas também proporciona aos cinéfilos uma seleção de filmes diversificada. Desde a inauguração, há pouco mais de um ano, o espaço já recebeu mais de 260 mil pessoas.

    “Em algumas semanas, nós chegamos a ter 15 filmes em cartaz. De filmes cults, passando por filmes nacionais, grandes blockbusters, nossa intenção é atrair todo tipo de público petropolitano. Além disso, nós oferecemos valores promocionais, porque a gente entende que promover a cultura é trazer diversidade de conteúdo e trabalhar com preços acessíveis”, destaca a diretora de marketing, Adriana Celes.

    Foto: Divulgação

    Adriana destaca que há uma percepção de que os petropolitanos perderam o costume de frequentar o cinema na cidade, mas agora estão retomando esse hábito ao reconhecerem as diversas opções oferecidas pelo Cine Show.

    “E isso com padrão internacional, recém-inaugurado, com sala gold, que é o padrão vip do Cine Show, diversidade de filmes…O petropolitano ama um bom filme de animação, sempre lota. Além disso, o filme cult, indicado ao Oscar, tem um público bem específico, por exemplo, o “Oppenheimer” ficou três meses em cartaz com todas as sessões cheias. Os filmes nacionais também fazem um grande sucesso esse ano, como “Nosso Sonho”, sobre o Claudinho e Bochecha, e “Minha Irmã e Eu”, conta.

    Em novembro, o Cine Show recebeu a 8ª edição do Festival de Cinema, aberto com a exibição do documentário “Raoni – Uma amizade improvável”, líder indígena, da etnia Kaiapó, dirigido por Jean-Pierre Dutilleux com produção da Indiana Produções e de Marco Altberg. Segundo a diretora de marketing, essa e outras iniciativas, como a do Cine Psiquiatria, fazem parte do interesse do Cine Show em termos de eventos culturais, festivais e parcerias.

    O compromisso do principal cinema da cidade vai além da exibição de filmes e parcerias de sucesso, a rede também busca trazer inovações constantes para tornar a experiência do público ainda melhor. Para o feriado de Páscoa, por exemplo, o cinema está preparando algo especial: o balde do Kung Fu Panda, que estreia este mês, inspirado em um bowl para comer noodles. “A gente sempre busca trazer o que está acontecendo lá fora e aqui no Brasil”, ressalta Adriana Celes.

    Em Itaipava, mais um espaço contribui significativamente para a nova cena cultural da cidade, reunindo artistas e apaixonados pela cultura não apenas brasileira, mas mundial. É a casa de espetáculos intitulada Soberano, uma mistura de clube de jazz e teatro. Além da música de qualidade, o público é convidado a experimentar boas experiências gastronômicas, inclusive opções veganas, sem lactose e sem glúten, drinks sofisticados, vinhos para paladares exigentes e charutos.

    Foto: Marco Oddone

    Além do Centro Cultural Sesc Quitandinha, Teatro Imperial, Cine Show Petrópolis e Soberano, Petrópolis abraça seu legado turístico ao disseminar a história da cidade com produção e artistas competentes. É o caso do Sarau Imperial, produzido pela empresa petropolitana de entretenimento Xdaquestão Produções, que atua na montagem de espetáculos com conteúdo histórico, exaltando valores nacionais em espaços públicos e privados.

    O espetáculo voltou à cena cultural de Petrópolis em setembro de 2023, após quase três anos de hiato. Segundo Maurício Araújo, diretor geral e produtor executivo, o espetáculo “Um Sarau Imperial” não só remonta os anos de 1870, mas se destaca por sua dramatização interativa de alto padrão, vencedora da categoria especial do Prêmio Maestro Guerra Peixe de 2019.

    “Das grandes alegrias profissionais, produzir o “Um Sarau Imperial” é uma das maiores. O espetáculo é uma experiência em artes, pois não possui a chamada quarta parede que separa o público do elenco. O público é convidado a uma imersão histórica, pois faz parte ativamente da apresentação, lendo jornais, poemas, compartilhando hábitos de alimentação, práticas esportivas e muito mais”, destaca.

    A encenação se passa no ano de 1878, oferecendo ao público a possibilidade de apreciar belíssimos figurinos, réplicas dos utilizados na época, e as modinhas imperiais.

    Isso a partir da presença de personagens importantes, como a Princesa Isabel e seus amigos, Adelaide Taunay, Amandinha Paranaguá (Baronesa de Loreto), Francisca Taunay, Luísa Margarida de Barros Portugal (Condessa de Barral) e Isidoro Bevilacqua.

    Mais sobre o espetáculo

    UM SARAU IMPERIAL

    Apresentação oficial: Sábados às 18h30

    Duração: 45 minutos

    Capacidade: 80 espectadores

    Pavilhão das Viaturas do Mu-

    seu Imperial

    Rua da Imperatriz, 220

    25610-320 – Centro – Petrópolis/ RJ

    Outro destaque da cena cultural da cidade, é o espetáculo “Som e Luz” que está programado para retornar este ano ao Museu Imperial após 4 anos de hiato. A produção, que faz parte do legado turístico de Petrópolis, continua empenhada na captação dos recursos necessários.

    Em 2019, ano em que houve a interrupção das apresentações devido à pandemia, o espetáculo atraiu 20.096 pessoas. Desde sua estreia, em dezembro de 2002, já soma um total de 417.539 espectadores. Segundo a Instituição, a ideia é resgatar a qualidade dos efeitos sonoros e visuais com a renovação dos equipamentos de projeção, automação, sonorização e iluminação desgastados pelo tempo, além de recompor a emoção através da qualidade sonora e visual do espetáculo original. No mais, a expectativa é que a retomada ocorra ainda em 2024, sem previsão de mês ou data exata, sujeita à captação e execução de recursos.

    Foto: Divulgação

    Mais sobre o espetáculo

    O “Som e Luz” oferece aos espectadores a oportunidade única de reviver alguns dos momentos mais significativos do Segundo Reinado no Brasil. A superprodução utiliza efeitos especiais de iluminação e sonorização para recriar vividamente a história de D. Pedro II, transportando o público de volta ao dia do baile das princesas. Na ocasião, as irmãs Isabel e Leopoldina são apresentadas aos seus futuros maridos, o Conde d’Eu e o Duque de Saxe, enquanto toda a corte sobe a serra para participar da celebração. Com uma narrativa envolvente, os espectadores são guiados pelo jardim do Museu, simulando a subida da serra, enquanto a iluminação cenográfica adiciona uma camada extra de magia ao espetáculo. Diante da fachada do prédio, uma surpresa: o palácio iluminado, recriando a atmosfera festiva de 150 anos atrás. Através das janelas, avistam-se as silhuetas de D. Pedro II e seus convidados, incluindo a Família Imperial e a corte brasileira.

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