A natureza como um estímulo necessário às crianças
A maior novidade para crianças em São Paulo é a exposição científica Dinossauros Patagotitan – O Maior do Mundo que mostra, no Pavilhão das Culturas Brasileira, no Parque do Ibirapuera, uma réplica de 40 metros de comprimento e oito de altura de um esqueleto dessa espécie encontrada na Argentina, além de outras réplicas e fósseis originais. Os ingressos custam a partir de R$ 40 e a mostra fica em cartaz até 4 de dezembro.
Tem outro lugar em São Paulo, para visitar e voltar sempre que a criança pedir, gratuito, discreto no bairro do Ipiranga e muito interessante para crianças de todas as idades: o Museu de Zoologia da USP (Rua Nazaré, 481; 4ª a domingo, das 10h às 16h30; necessário comprovante de vacina contra a covid-19).
O mascote, ali, conta Maria Isabel Landim, responsável pela Divisão de Difusão Cultural, é um exemplar de titanossauro, descrito pela equipe do laboratório de paleontologia do museu a partir do crânio mais completo descoberto de um titanossauro sul-americano. Na exposição, vemos então uma réplica completa de como seria seu esqueleto.
“Em nossas atividades para o público, exploramos o significado da descoberta, como são feitas as reconstituições dos animais extintos a partir de suas partes e os desafios da pesquisa em paleontologia”, explica a pesquisadora. Com uma história iniciada nos anos 1890, o museu abriga uma das maiores coleções da nossa fauna, e os mamíferos taxidermizados, junto com as demais réplicas de dinossauros, fazem sucesso entre as crianças.
Em 2019, o museu recebeu 100 mil visitantes – e já está quase batendo esse número. Com a reabertura do Museu do Ipiranga, logo atrás, a expectativa é que o local seja descoberto por um novo público.
“Os museus ocupam um lugar cada vez mais importante como meios de comunicação. Eles acionam nossos diversos sentidos durante a visita, o que contribui para a formação de memórias de longa duração”, explica Maria Isabel. “Promovemos encontro entre pessoas reais, em condições muito especiais onde os objetos, em sua realidade material, são apresentados para fazer pensar sobre os grandes temas atuais como o valor e a preservação da biodiversidade”, completa. Para esses tempos conectados, os museus, ela finaliza, “são fundamentais para nos resgatar do mundo virtual e da solidão que ele promove”.
AO INFINITO E ALÉM. Quem cresceu em São Paulo dos anos 1960 para cá certamente visitou o Planetário, no Ibirapuera (sessões de 6ª a domingo, com valores diversos dependendo da programação; visita escolar durante a semana).
Hoje, porém, explica o diretor João Fonseca, a proposta não é mais ensinar – é sensibilizar os visitantes. É fazer com que, ao olhar para aquele imenso céu projetado, a pessoa entenda que é uma parte daquele universo e precisa cuidar da sua casa. “Essa consciência de um cidadão planetário começa nos primeiros anos com esses primeiros contatos sensíveis com a ciência”, diz.
MUNDO INTERIOR
“As crianças se deixam ser capturadas em seu interesse por espaços e objetos que remetem ao mundo emocional delas. Os animais e a natureza podem representar inconscientemente afetos muito primitivos, nosso ‘lado animal’, nossas vivências mais antigas de nossos instintos e impulsos ainda não suficientemente controlados e simbolizados”, diz o psicólogo e psicanalista Rodrigo Manoel Giovanetti.
Ele explica ainda, citando Freud, do ponto de vista psicológico lugares culturais de lazer, divertimento e conhecimento do mundo são importantes, pois facilitam a expressão de ideias e afetos do nosso mundo psíquico de modo prazeroso e com controle. “São espaços transicionais em que podemos expressar amplamente nossos medos, preocupações, felicidade e desejos de forma lúdica, estruturada e contida por meio de objetos culturais, bem como reconhecer a realidade onde vivemos.”
NATUREZA
“Crianças pequenas são verdadeiros cientistas em busca de respostas”, diz o pediatra Daniel Becker. Para ele, conhecer a cultura humana, a ciência e a história é fundamental e fascinante, mas isso “são fatos dados para a criança”. A natureza, ele diz, tem algo a mais do que isso. “Ela é um festival infinito de fenômenos, um museu gigante interativo e de descobertas incríveis.
Elas ficam tão encantadas que começam a construir uma reverência com aquilo. Por isso ela é o ambiente mais lindo para você começar a despertar o interesse delas. É só olhar para uma criança solta num parque ou numa pracinha e ver como ela é absolutamente esfomeada de exploração.”
A notícia boa é que não precisamos escolher um ou outro. A união dos dois – o brincar livre na natureza e os museus ligados à natureza – pode ajudar a entreter e estimular crianças curiosas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.