A não notícia
A crônica conquistou um espaço em que predomina a informalidade, permite a versatilidade na abordagem de um assunto, por isso é possível escrever sobre temas que não estão nas manchetes de jornais. Como já afirmara Carlos Drummond: “De notícias & não notícias faz-se a crônica” – esse é o título de um livro que ele lançou em 1974, reunindo textos publicados no Caderno B do Jornal do Brasil.
Os artigos de opinião, que também estão presentes em jornais e revistas, geralmente são pautados pelas notícias que se propagam nos meios de comunicação de massa. Tais artigos atuam na ampliação do processo reflexivo, ajudam a repensar os fatos, principalmente no que tange aos aspectos políticos, econômicos e sociais. O caráter dissertativo desse gênero textual exige um posicionamento, uma vez que a defesa de um ponto de vista se faz necessária. E, por essa razão, é comum encontrar direcionamentos ideológicos que levam rótulos vinculados “à direita” ou “à esquerda”.
A previsibilidade das opiniões quando mergulhadas no partidarismo aumenta a possibilidade de sofrer críticas de leitores que exigem, dos articulistas, opiniões independentes. Buscar o novo é imprescindível.
Escrever para repetir o senso comum hoje é perda de tempo. A velocidade das informações é grande e são manipuladas com facilidades. A panfletagem eletrônica sem compromisso com a verdade é contínua. Hoje qualquer pessoa, com um celular na mão, pode gravar um vídeo ou um áudio e lançar nas redes sociais.
Apesar de saber separar o joio do trigo, o sentimento de tristeza paira quando se constata a disseminação do ódio, que deixa o revanchismo latente. E, na atual conjuntura, um outro problema não menos grave se dilata: o descaso com a linguagem. Não há preocupação com a organização e a clareza do discurso, por isso que, a todo instante, estão tentando “consertar” pronunciamentos que são verdadeiros atos falhos ou parapraxias.
Na década em que foi editado o livro citado de Drummond, havia um regime de censura, no entanto, a linguagem não sofria tanta truculência, o pensamento liberal se apresentava com mais consistência ideológica. Os intelectuais que o defendiam tinham formação acadêmica, a ordem era mais unida.
“O mercado se rege por critérios de eficiência e rentabilidade, não de justiça ou de equidade. Ele é um soberbo órgão de criação de riqueza, mas não um mecanismo competente de distribuição de renda.” Essa frase é de José Guilherme Merquior, que tanto criticou o pensamento marxista, mas sem agredir a linguagem.
Quando optei por seguir nesta travessia, nos passos da crônica, foi pela ternura que ela nos permite demonstrar. O uso da prosa mais descontraída nos aproxima do leitor. Neste diálogo, o humor sempre aparece para quebrar o peso das notícias, que geralmente tendem para o trágico, para o tráfico na contabilização dos números de mortos em acidentes, catástrofes ou pelas cotidianas balas perdidas.
A crônica mantém esse elo entre o Jornalismo e a Literatura. Quando se aborda a não notícia, pretende-se sair do lugar comum, busca-se um fato específico fora da mídia para propiciar uma reflexão sem as intrigas enredadas em episódios conflitantes. O suspense também não encontra muito espaço entre os cronistas.
É difícil segurar a atenção de um leitor até aqui, o final do texto. Essa caminhada é feita pela interatividade e tem que ser no tempo em que se toma um cafezinho e não se esgota o assunto para que fique um pouco para o próximo encontro. Mas é preciso que o diálogo seja agradável e leve para que permaneça no ar o “até breve”.